Versão paz e amor de Carlos Jordy em Niterói imita Lula de 2002 e esconde Bolsonaro de campanha

Deputado federal Carlos Jordy candidato a prefeito de Niterói pelo PL, esconde o ex-presidente Jair Bolsonaro da sua campanha e imita versão paz e amor de marketing de Lula nas eleições presidenciais de 2002 | Reprodução/Instagram/@carlosjordy

A construção de uma nova imagem mais serena do deputado federal Carlos Jordy para disputa à prefeitura de Niterói não representa nenhuma novidade na política. O tom que deu início à campanha do candidato – evidente fruto de marketing político – buscou dissimular sua verdadeira postura política. E para que isso desse certo, ao que parece, o distanciamento entre a sua imagem e a de Jair Bolsonaro está dentro da estratégia de sua campanha. Principalmente, após um evento de pré-campanha que teve a presença do ex-presidente mas com baixíssima adesão, em julho, na praia de Icaraí.

O comportamento de Jordy sempre expressou radicalismo e fúria tal como seu líder Jair Bolsonaro. De igual forma, suas falas e discursos sobre adversários ou partidos políticos de outro espectro ideológico sempre estiveram inflamados de ódio e ideologias extremistas.

Paz e amor?

Contudo, até mesmo os erros cometidos por adversários políticos no passado, servem de bússola para orientar quem almeja vencer a qualquer custo. Assim sendo, podemos de forma legítima, comparar essa versão de Jordy, criada por seus marqueteiros, com o “Lulinha Paz e Amor” das eleições presidenciais de 2002, quando Duda Mendonça repaginou sua imagem e o distanciou de embates ideológicos.

Dizemos isso porque a postura de Jordy, em sua trajetória política, assemelha-se a de Lula do passado: raivoso, inflexível, hostil e rude. Os leitores e leitoras mais jovens talvez não saibam, mas assim se portava politicamente o atual presidente da República nos primeiro anos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Inicialmente, Lula atacava a tudo e a todos que faziam parte do sistema estabelecido no país, expressando que somente ele, com a agenda política do PT, tinham a solução para o país. Como resultado, Lula acumulou três derrotas em disputas para a Presidência da República, nos anos de 1989, 1994 e 1998. E somente ao se aliar a siglas de centro, bem como fazer alianças com políticos de direita e conservadores, ele conseguiu ter êxito nas urnas.

Jordy não percorre caminho de marketing diferente, apesar de sua agenda política defender interesses muito distintos daqueles que Lula pregava – e ainda prega. Porém, deixamos claro que a comparação feita neste artigo se resume a questões de marketing eleitoral. Até porque não há régua que permita, politicamente, mensurar um líder internacional como Lula com um serviçal de Jair Bolsonaro.

Atualmente, Carlos Jordy usa de brandura e moderação em seu diálogo pessoal com os eleitores da cidade. Logo na largada da campanha eleitoral, apresentou seu lado “família”. Mostrou o Jordy filho, o Jordy pai, o Jordy amigo dos amigos, o Jordi marido… Enfim, o Carlos Jordy paz e amor.

Atirador

Mas tudo isso não muda o fato dele se tratar do Jordy político que, acima de tudo, cospe fogo no Congresso Nacional representando e servindo aos interesses de Jair Bolsonaro e seus filhos. Ele agiu muito mais nessa função do que em defesa de interesses da cidade de Niterói, onde, em tese, tem base eleitoral.

Versão original do deputado federal Carlos Jordy (PL), sem antes dos marqueteiros eleitorais entrarem em ação | Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Em outras palavras, até abril desse ano, Carlos Jordy ocupou o cargo de líder da oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados. Ou seja, a função de representante-mor do bolsonarismo no Poder Legislativo. Todavia, seu líder – e seus aliados – estão escondidos de sua campanha.

Deputado federal Carlos Jordy (PL), enquanto líder da bancada de oposição na Câmara dos Deputados, ao lado de outros parlamentares, como Alexandre Ramagem e Carla Zambelli | Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Além disso, trata-se de um parlamentar que ataca membros do Judiciário, ignorando o princípio fundamental de harmonia entre os poderes. Igualmente, tem desprezo pelo debate pelo direito das minorias, especificamente público LGBTQIPNA+, mulheres, pessoas negras, feministas e ativistas sociais e ambientais.

Trata-se de um parlamentar que, no momento, fala sobre educação e saúde em Niterói, mas que não relata o que fez enquanto deputado federal pela cidade.

Muita grana para gastar na campanha

Se por um lado o ex-presidente Jair Bolsonaro foi tirado de cena no espetáculo eleitoral estrelado por Jordy em Niterói, ele não deixa de estar nos bastidores. Além disso, o que não falta para a campanha de Jordy é dinheiro. Ele já arrecadou R$ 9 milhões para ganhar a prefeitura – mais do que o limite de R$ R$ 8.006.882,59 para o primeiro turno.

Jordy posa ao lado de seu líder político, Jair Bolsonaro | Reprodução

Jordy ao lado de seu líder político, Jair Bolsonaro, que está escondido de sua campanha para a Prefeitura de Niterói| Reprodução

Dos recursos arrecadados pela campanha de Jordy, R$ 6 milhões vieram do fundo partidário do diretório nacional do PL. Outros R$ 3 milhões do diretório nacional do Progressistas, sigla da candidata à vice-prefeita Alexandra Ferro.

Não se pode esquecer que Jair Bolsonaro é presidente de honra do Partido Liberal (PL). Para a campanha do Capitão Nelson, em São Gonçalo, que tem 665 mil eleitores, o PL destinou 3,6 milhões. Niterói tem cerca de 410 mil eleitores, mas recebeu fatia maior.

Por último, presumimos que exista algum motivo, em especial, para que a imagem de Carlos Jordy esteja desagregada a de Jair Bolsonaro. Provavelmente, o Instituto GPP, contratado a R$ 86.625,00 pode ter a resposta.

Na campanha de Carlos Jordy, Bolsonaro está fora de cena, mas age nos bastidores | Reprodução

Ao candidato Carlos Jordy, está reservado espaço semelhante a esse para, caso queira, contestar o que dissemos de forma republicana e democrática. Isso caso ele tenha tempo, pois ele se recusou a participar da série de sabatinas programadas pelo Folha do Leste com os candidatos a prefeito de Niterói.