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Revólver 38 é a arma mais usada em ataques a escolas

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O primeiro ataque a escolas de que se tem notícia no Brasil ocorreu 21 anos atrás. Desde então, aconteceram outros 23 casos parecidos. No total, os episódios contabilizam 137 vítimas e 45 pessoas mortas. Os dados foram apurados pelo Instituto Sou da Paz, em um mapeamento inédito divulgado nesta segunda-feira (22).

 

O levantamento evidencia o maior potencial destrutivo de armas de fogo, que se tornaram mais acessíveis com a flexibilização de regras promovida em 2019. Revólveres e pistolas foram usados em 11 dos episódios. Eles causaram três vezes mais mortes do que armas brancas, como facas, que apareceram em dez ocorrências. As armas de fogo foram responsáveis pela morte de 34 pessoas (76%), enquanto as brancas mataram 11 pessoas (24%) em ataques a escolas.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo os dados, a arma mais empregada foi o revólver .38, apontada pelo instituto como a mais vendida no mercado brasileiro, por décadas, e, até hoje, largamente usada por empresas de segurança privada. De acordo com a entidade, tal revólver apareceu em 53% dos ataques. Outras armas de fogo utilizadas foram pistola .40 (20%), revólver .32 (13%), garrucha .38 (7%) e garrucha .22 (7%). A garrucha se assemelha ao revólver e à pistola, também tendo como característica o cano curto.

 

Categoria de Armamento

 

Ao todo, 80% das armas se enquadram nas categorias que, até maio de 2019, permitia-se o uso por civis. Das três pistolas de calibre .40, que antes de 2019 serviam ao uso restrito, duas pertenciam a parentes que trabalhavam nas forças de segurança. E uma delas, registrada por uma pessoa com certificado de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador).

Imagem de KamranAydinov no Freepik

Pelo menos, em dois dos casos envolvendo armas de fogo, relata-se que o pai do agressor o ensinou a atirar. Mesmo ele sendo menor de idade, conforme destaca o Sou da Paz.

 

Ocorrências

 

Em seis de cada dez casos, os autores dos crimes já tinham à mão as armas de fogo utilizadas nos ataques, já que pertenciam a familiares que residiam na mesma casa que eles. Já em 40% das ocorrências, as armas pertenciam a um agente de segurança, e em 20%, roubadas do proprietário e revendidas ou vendidas diretamente por ele.

 

Em relação ao período dos ataques, o que o instituto mostra é um aumento das ocorrências a partir de 2019. Entre 2002 e 2019, foram registrados sete atentados e, nos últimos quatro anos, de 2019 até este ano, o número mais do que dobrou, passando para 17. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, foram de seis casos, mesmo número registrado em todo o ano passado.

 

Gênero

 

Outra revelação do mapeamento diz respeito à identidade de gênero dos autores dos ataques. Todos os atos tiveram como responsáveis homens ou meninos. Isso sugere, para diretora-executiva do Sou da Paz, Carolina Ricardo, a necessidade de mobilização para desassociar a noção de masculinidade da de imposição e demonstração de força.

A gente sabe que, claro, a arma, sozinha, não é um grande motivador, mas é um catalisador e, em alguns casos, a gente identificou também que o agressor buscou, tentou adquirir a arma. Nesse caso dos ataques, ela é muito mais letal, gera muito mais mortes, é um artefato de interesse dos agressores, porque, justamente, aumenta o potencial letal e torna esses agressores mais poderosos, se é que assim dá pra se dizer”, diz.

“A arma, na mão de um civil, muito mais do que garantir uma legítima defesa, acaba sendo usada para fins equivocados, errados”, complementa.

 

Ainda sobre o perfil dos autores dos atentados, viu-se que 88% se consumaram por apenas uma pessoa, com média de idade de 16 anos. Geralmente, aluno ou ex-aluno da escola alvo do ataque.

 

Além disso, ao concebê-los, os agressores colocam no centro, como alvos, pessoas com quem têm algum vínculo, como alunos (59%).

Recomendações

 

Como sugestões para se enfrentar a gravidade e a complexidade dos atentados a escolas, o Instituto Sou da Paz indica:

 

  • Co-responsabilizar plataformas digitais.
  • Criar equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva.
  • Fortalecer a ronda escolar, e os vínculos entre a direção da escola e batalhões locais.
  • Treinar e estabelecer um protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas.
  • Estabelecer programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores com mais estas atribuições.
  • Treinar professores e funcionários para conseguirem identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar.
  • Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico.
  • Endurecer o controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores.
  • Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados de um responsável.

 

 

 

Fonte: Agência Brasil

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