
Venda de Ozempic, Wegovy e Mounjaro exige retenção de receita a partir de junho | Divulgação
A partir desta segunda-feira, 23 de junho, entra em vigor a obrigatoriedade de retenção da receita médica para a compra de medicamentos à base de GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. A medida, determinada pela Anvisa, busca reforçar o controle sobre esses remédios, frequentemente utilizados no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
Até então, bastava apresentar a receita no momento da compra. Com a nova regra, a farmácia ficará com a prescrição, como já acontece com antibióticos e psicotrópicos. A validade das receitas será de 90 dias.
A decisão foi tomada após dados alarmantes: 45% dos usuários não possuem prescrição médica, e dentro desse grupo, 73% nunca tiveram acompanhamento profissional, segundo levantamento do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da USP.
Além disso, 56% utilizam os medicamentos exclusivamente para emagrecimento, sendo que 37% não têm sobrepeso nem obesidade, caracterizando desvio de finalidade, o que tem prejudicado o acesso de quem realmente necessita do tratamento.
Descontrole e mercado ilegal
O problema não se limita ao uso indevido. Segundo a Interfarma, a importação de substâncias ativas explodiu. Entre 2023 e 2025, o Brasil importou 17,8 kg de semaglutida — suficiente para fabricar 4 milhões de canetas de Ozempic — e 10 milhões de doses de tirzepatida, princípio do Mounjaro, que nem sequer tem aprovação completa no país.
O volume sugere não apenas uso pessoal, mas também produção clandestina em larga escala, acendendo alerta sobre riscos de falsificação e automedicação.
Apoio de especialistas
A decisão da Anvisa foi respaldada por entidades como a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
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Essas organizações divulgaram uma carta alertando para o uso indiscriminado, principalmente para fins estéticos, sem supervisão médica.
“O que estamos assistindo hoje são as pessoas olhando em blogs, internet, e indo comprar essas canetas para perda de peso. E elas, muitas vezes, não têm noção de que os análogos de GLP-1 possuem algumas contraindicações, e que a dose precisa ser individualizada”, afirmou Fabio Trujilho, presidente da Abeso, em entrevista ao Estadão.
O que dizem as farmacêuticas
Durante o debate, a Novo Nordisk, fabricante de Ozempic e Wegovy, declarou que a retenção de receita não resolveria por si só problemas como o mercado paralelo, mas reconheceu a importância do controle.
Já a Eli Lilly, responsável pelo Mounjaro, reforçou sua posição contra o uso off-label. A Sanofi, que produz o Soliqua, se posicionou a favor de decisões baseadas em evidências científicas.
Cronograma oficial
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Início da obrigatoriedade: 23 de junho
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Validade da receita: 90 dias
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Farmácias: Obrigadas a reter a prescrição médica
A Anvisa ressalta que o uso off-label, quando o médico prescreve o medicamento fora das indicações da bula, continua permitido, desde que haja acompanhamento e responsabilidade profissional.