Na cidade onde se passa a popular série de TV Grey’s Anatomy, Botafogo estreia com vitória sobre o Seattle Sounders no Mundial de Clubes, apesar de passar sufoco graças ao treinador Renato Paiva | Vitor Silva/Botafogo
O Botafogo estreou com vitória na Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025, derrotando Seattle Sounders pelo placar de 2 a 1, na noite deste domingo (15), no Lumen Field, em Seattle. Acima de tudo, graças a boa vantagem construída no primeiro tempo, que resistiu até o fim graças ao goleiro John e ao pé torto dos atacantes americanos. A bem da verdade, o principal adversário do Botafogo não se tratou do esforçado time da cidade da série de TV Grey’s Anatomy, mas sim do treinador Renato Paiva.
Abraço entre Barboza e John mostra força e união do grupo, independentemente de quem esteja na função de treinador | Vitor Silva/Botafogo
O técnico parecia disposto a transformar uma estreia protocolar em laboratório de pré-temporada. Sim, incrivelmente — de forma inacreditável — ele fez isso. Abriu mão do bom feijão com arroz que o time vinha apresentando recentemente para enfiar na marra jogadores recém-contratados em campo. Isso sem necessidade alguma, pois tratavam-se de atletas visivelmente desentrosados e que mal conhecem o padrão de jogo da equipe.
Alex Telles, jogador fundamental, preciso e decisivo para o Botafogo | Vitor Silva/Botafogo
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Primeiro tempo seguro, com o DNA que o torcedor do Botafogo reconhece
Zagueiro Jair comemora primeiro gol do Botafogo, de importância fundamental diante do sufoco que o time viria a passar graças ao treinador Renato Paiva | Vitor Silva/Botafogo
Até o intervalo, o Botafogo teve organização, disciplina e execução. Dominou a posse de bola, controlou a intermediária defensiva e soube atacar com inteligência. Jair, zagueiro que se despede do clube rumo à Inglaterra, abriu o placar com um cabeceio firme, após cruzamento de Alex Telles. Igor Jesus, outro que está de saída, ampliou num movimento cirúrgico na pequena área.
Atacante Igor Jesus celebra o segundo gol do Botafogo na estreia vitoriosa sobre o Seattle Sounders no Mundial de Clubes | Vitor Silva/Botafogo
O time explorava bem os lados, com Vitinho e Telles ganhando amplitude. Marlon Freitas e Gregore ofereciam proteção ao miolo defensivo, enquanto Savarino procurava espaço para jogar e Artur buscava mobilidade e profundidade. O Seattle até chegou algumas vezes, mas o Botafogo parecia dono da situação.
Gregore organiza a saída de bola do Botafogo no campo defensivo | Vitor Silva/Botafogo
A desconstrução: quando o técnico decide ser o protagonista
Veio o segundo tempo… e com ele, a tragédia tática. Renato Paiva trocou Mastriani por Joaquín Correa no intervalo, mudando a referência ofensiva. A mexida sacrificou ainda mais Savarino, sem espaço para criar.
Joaquín Correa, reforço alvinegro, entrou no intervalo mas não correspondeu à expectativa por desentrosamento com o restante da equipe | Vitor Silva/Botafogo
Aos 23 minutos, o treinador tirou o craque venezuelano, atual camisa 10 do time, para colocar Arthur Cabral como último homem da linha de frente. Desse modo, acabou empurrando o centroavante Igor Jesus para a função que, até então, Savarino não conseguia fazer. Em suma, o prenúncio do caos.
Formação de Renato Paiva não favoreceu Savarino em campo, tirando mobilidade e criatividade ofensiva do time | Vitor Silva/Botafogo
Sem padrão, sem cobertura, sem ocupação racional dos espaços, o Botafogo virou um time apático e desorganizado — para não dizer um bando. Como resultado, o Seattle Sounders, que até então rezava para não levar uma goleada, encontrou por acidente um gol que lhes deu coragem no jogo.
Em um dos inúmeros cruzamentos de Cristian Roldán para a área alvinegra, a bola desviou em Igor Jesus e tirou o goleiro John da jogada. Esse o gol do Seattle, aos 29 minutos de jogo, se deve ao demérito de Renato Paiva, com todo respeito ao time da cidade da série de TV Grey’s Anatomy.
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Desde então, o Botafogo virou um amontoado de jogadores tentando resistir. Na tentativa de consertar os erros nas substituições, tirou Marlon Freitas e Alex Telles para colocar Cuiabano e Danilo Barbosa. Por mais esforço mental que se faça, uma substituição impossível de compreender.
Em contrapartida, o Seattle teve pelo menos três chances claras para empatar. Só não conseguiu por falta de qualidade e por intervenção de John, o nome do jogo no segundo tempo, cujo abraço do xerife Alexander Barboza diz tudo sobre sua importância no resultado após salvar o Botafogo de levar o gol de empate no último minuto dos acréscimos.
Abraço entre Barboza e John mostra força e união do grupo, independentemente de quem esteja na função de treinador | Vitor Silva/Botafogo
Risco de perder o jogo por vaidade técnica (ou burrice mesmo)
Renato Paiva demonstra ter um problema que vai além da prancheta. O treinador parece querer provar que suas convicções táticas estão acima das evidências práticas de campo. Podemos chamar isso de vaidade técnica, mas fique à vontade para entender como burrice mesmo.
Em vez de manter a base que funcionava — com Cuiabano pela esquerda e Savarino pelo meio — decidiu forçar a entrada de reforços sem timing. A escalação de Mastriani como titular já dava sinais de que Renato Paiva atuaria como Professor Pardal.
Cuiabano entrou no lugar de Alex Telles quando deveria ter atuado à frente dele, na ponta, como vinha acontecendo e dando certo | Vitor Silva/Botafogo
Felizmente, os gols saíram naturalmente no primeiro tempo. A decisão acertada de tirar Mastriani do time no intervalo veio acompanhada de um erro maior do que escalá-lo. Ao invés de colocar Cuiabano, botou Joaquín Correa no jogo. O reforço, visivelmente sem ritmo, destoou e, ainda, deixou Savarino sem espaço para criar.
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Correa, visivelmente fora de ritmo, destoou. Arthur Cabral correu mais atrás da bola do que em direção ao gol. E a mexida em Igor Jesus foi um convite ao desastre.
No final do jogo, Renato Paiva disse que o time estava nervoso por conta da estreia. Nada mais normal quando o nome da competição é Copa do Mundo. Porém, ninguém teve mais culpa nisso do que ele, mais preocupado em se autoafirmar como o gênio que não é do que em entregar resultado.
Renato Paiva, o professor Pardal da noite, “bate palma para maluco dançar” | Vitor Silva/Botafogo
Se a intenção era dar rodagem aos novos nomes, o preço quase foi uma derrota logo na estreia de um Mundial. Enfim, valeu o esforço dos jogadores pela vitória e pelos três pontos. O Botafogo ainda depende só de suas forças e ficou provado que esse time tem muito potencial para jogar contra qualquer adversário. Trata-se do atual campeão da América e do Brasil.
O que esperar contra o PSG
Sufoco: Botafogo estreia com vitória sobre o Seattle Sounders na Copa do Mundo de Clubes da Fifa, graças as decisões do treinador Renato Paiva, que quase levaram os torcedores do estádio para o hospital (fictício) onde se passa a popular série de TV, Grey’s Anatomy | Vitor Silva/Botafogo
O próximo desafio é contra o Paris Saint-Germain, campeão da Champions League e dono de uma goleada por 4 a 0 sobre o Atlético de Madrid. Assim sendo, o time francês não vai perdoar os espaços que o Seattle teve e não aproveitou. Caso Renato Paiva repita os erros deste domingo, como resultado, o Botafogo sofrerá muito mais do que hoje. Além disso, pode sofrer uma humilhação indigna e incompatível com sua importância para o futebol mundial.
Apesar do sufoco, torcida alvinegra comemora vitória do sobre o Seattle Sounders na Copa do Mundo de Clubes da Fifa, na cidade onde se passa a Série de TV Grey’s Anatomy | Vitor Silva/Botafogo
A partida acontecerá no Rose Bowl, palco da final da Copa do Mundo de 1994, onde a seleção brasileira conquistou o tetracampeonato. Caso queira fazer história do mesmo modo, o treinador precisará abandonar a arrogância. Igualmente, terá que deixar seu pragmatismo de lado. Em resumo, o Botafogo mostrou no primeiro tempo que tem futebol para competir. Entretanto, basta fazer o que já vinha dando certo, escalar quem está entrosado e deixar o time jogar.
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