Em um cenário onde as questões trabalhistas ocupam cada vez mais o centro das discussões políticas, a extinção da jornada de trabalho 6×1 — seis dias de trabalho seguidos por um único dia de descanso — voltou a ser pauta central neste domingo (10), após ganhar destaque nas redes sociais. O tema, que já vinha sendo discutido em diversos círculos políticos e sociais, foi amplamente comentado na plataforma X (antigo Twitter), onde o debate se intensificou e se posicionou como um dos mais comentados pelos internautas.
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A proposta que visa eliminar essa jornada extenuante é parte de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que está sendo liderada pela deputada Érica Hilton (Psol-SP). A parlamentar tem se dedicado a mobilizar apoio para que o projeto avance na Câmara dos Deputados, buscando reunir o número necessário de assinaturas para sua formalização. Até o momento, a PEC já conta com metade das 171 adesões requeridas. O Psol foi o primeiro partido com 100% de assinaturas dos deputados federais.
Humanização das relações de trabalho
A principal bandeira levantada por Érica Hilton é a desumanização do modelo 6×1, que, segundo ela, retira direitos fundamentais dos trabalhadores, prejudicando sua qualidade de vida.
“A jornada 6×1 é uma prisão para o trabalhador, uma forma de subtrair seu tempo com a família, seu direito ao lazer, ao autocuidado e até à qualificação profissional. Essa escala está completamente desalinhada com a dignidade humana”, declarou a deputada, reforçando o caráter desumano da estrutura de trabalho.
Essa posição da deputada reflete a crescente insatisfação de trabalhadores e movimentos sociais que veem no modelo de trabalho atual uma verdadeira ameaça ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Para muitos, a rotina de trabalho sem um descanso adequado compromete não só a saúde física e mental, mas também as relações familiares e sociais, que são fundamentais para o bem-estar humano.
A mobilização do Movimento Vida Além do Trabalho
Além do apoio da deputada Hilton, a PEC recebeu a adesão de movimentos como o Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo vereador eleito Rick Azevedo (Psol-RJ). O movimento tem como principal objetivo pressionar os parlamentares a se posicionarem favoravelmente à proposta, chamando a atenção para as condições precárias enfrentadas por milhões de trabalhadores no Brasil. Recentemente, a petição on-line organizada pelo VAT ultrapassou a marca de 1,3 milhão de assinaturas, um reflexo claro da mobilização popular em torno da causa.
A também deputada do Psol Talíria Petrone, destacou a importância dessa organização.
“A luta dos trabalhadores pelo fim da escala 6×1 precisa de apoio massivo da população, para que os deputados sejam pressionados a assinar a PEC elaborada pelo Movimento Vida Além do Trabalho. Eu já assinei”, disse Talíria.
Essa pressão nas redes sociais e a articulação com movimentos sindicais, acadêmicos e outras lideranças políticas demonstram um crescente descontentamento com a legislação trabalhista vigente. A mobilização também se coloca como uma resposta à resistência de setores empresariais que alegam que a mudança poderia impactar negativamente a produtividade e a competitividade do mercado de trabalho.
O desafio jurídico: PEC e os limites constitucionais
De acordo com o texto da Constituição Brasileira e da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jornada de trabalho não pode ultrapassar 8 horas diárias e 44 horas semanais, com a possibilidade de compensação de horários, mediante acordos e convenções coletivas. A atual proposta de mudança, portanto, se insere em um contexto de reforma trabalhista mais amplo, que visa alterar profundamente o panorama das relações de trabalho no Brasil.
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No entanto, a tramitação da PEC e a possível aprovação do projeto encontram desafios legais e políticos. Apesar do crescente apoio popular, a medida enfrenta resistência de parlamentares e setores do empresariado que defendem a manutenção da jornada 6×1 ou a flexibilização de normas trabalhistas para permitir maior competitividade no mercado. O desafio, portanto, será conciliar os interesses das diferentes partes envolvidas, garantindo um equilíbrio entre direitos trabalhistas e as necessidades do mercado.