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Justiça manda prender Oruam após ataque a policiais civis no Joá

Justiça manda prender Oruam após ataque a policiais civis no Joá | Reprodução

A Justiça do Rio expediu, nesta terça-feira (22), um mandado de prisão contra o rapper Oruam, após um ataque a policiais civis em sua mansão no Joá, Zona Oeste. O cantor, cujo nome verdadeiro é Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, responde por tráfico de drogas, associação ao tráfico, dano ao patrimônio público, lesão corporal, ameaça, desacato e resistência qualificada.

A confusão começou na noite de segunda-feira (21), quando agentes tentavam apreender um adolescente ligado ao tráfico. Segundo a Polícia Civil, Oruam e um grupo de homens jogaram pedras nos agentes, ferindo um deles.

Logo após o episódio, o cantor fugiu para o Complexo da Penha, Zona Norte, e gravou vídeos desafiando a polícia.

“Vocês querem que eu me revolte, né? Estou aqui na Penha, vem aqui. Eu quero ver vocês me pegarem aqui dentro do Complexo, porque aqui vocês ‘peida’ (sic), pô”, disse.

Polícia acusa Oruam de ligação com o tráfico

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que o cantor está vinculado ao Comando Vermelho, mesma facção do pai dele, Marcinho VP, preso em um presídio federal.

“Se havia alguma dúvida de que o Oruam seria um artista periférico ou marginal da pior espécie, hoje nós temos certeza que se trata de um criminoso faccionado, ligado a facção criminosa Comando Vermelho, da qual o pai dele, conhecido como Marcinho VP, o Márcio Santos Nepomuceno controla a distância, de fora do estado, mesmo estando preso presídio federal. Então, ele é um marginal, bandido, delinquente, criminoso e associado para o tráfico”, disse.

Essa é a segunda vez, em menos de seis meses, que traficantes são flagrados na casa de Oruam.

O que diz a defesa de Oruam

Em nota oficial, a assessoria do rapper disse que ele atirou pedras apenas após ser ameaçado com fuzis, e alegou que a operação foi abusiva, com mais de 20 viaturas.

“Por volta das 00h, sem qualquer mandado de prisão, ordem de busca ou justificativa legal aparente, uma quantidade superior a vinte viaturas da Polícia Civil invadiram minha casa de forma abrupta e agressiva… Durante toda a abordagem, os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e cinco amigos que estavam presentes na casa. Sabe o que encontraram? Nada! Nada de droga, nada de arma, nada ilegal!”, disse em um trecho.

A nota também afirma que as declarações de Felipe Curi foram preconceituosas e injustas.

Entenda a ação

Segundo a Polícia Civil, os agentes monitoravam o adolescente que estava com Oruam. Quando o jovem saiu da casa, foi abordado e teve o celular e um cordão apreendidos. Em seguida, Oruam apareceu na varanda com outras pessoas e começou o ataque.

Durante o tumulto, um dos envolvidos correu para dentro da casa e foi preso em flagrante. Ele também foi indiciado por associação ao tráfico e desacato.

As buscas continuam para localizar Oruam, que segue foragido.

Confira a nota do rapper na íntegra:

“Eu, Oruam, venho por meio deste relato registrar um grave episódio de abuso de poder, violência e agressão que sofri na madrugada do dia 22 de julho de 2025, dentro da minha residência.

Começo falando que eu só joguei pedras depois de ser ameaçado com armas de fogo e tenho provas!

Por volta das 00h, sem qualquer mandado de prisão, ordem de busca ou justificativa legal aparente, uma quantidade superior a vinte viaturas da Polícia Civil invadiram minha casa de forma abrupta e agressiva. Os policiais estavam sem farda, o que demonstra a ilegalidade da ação, e procederam à revistagem de TUDO que tinha na minha casa, bem como das minhas roupas e da minha noiva, além de rasgarem e destruírem pertences pessoais minhas e de minha noiva. Durante toda a abordagem, os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e cinco amigos que estavam presentes na casa. Sabe o que encontraram? NADA! Nada de droga, nada de arma, nada ilegal!

Apesar da invasão, nenhuma objeção ou suspeita foi encontrada, pois não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes. Os policiais nos trataram de forma extremamente preconceituosa, nos chamando de “marginais” e diversos outros xingamentos seguidos de agressões físicas.

Ser um “artista periférico” termo do qual tenho orgulho, pois representa minha origem e minha trajetória, mas que foi utilizado de forma pejorativa e preconceituosa pelo secretário estadual da Polícia Civil, Felipe Curi, que também me caluniou, acusando-me de ser marginal, criminoso, bandido e delinquente, além de me associar ao tráfico de drogas sem qualquer prova ou fundamento. Com que base esse secretário afirma isso após tudo que fizeram na minha casa e não encontraram nada? A lei tem cor e só vale pra preto, vocês não estão preparados pra pretos no topo.

Durante toda a ação, fomos insultados, xingados e agredidos fisicamente, sendo que, ao nos verem completamente acuados e sob ameaça constante, começamos a gravar as ações policiais com nossos celulares na tentativa de registrar as agressões e as violações de direitos que estávamos sofrendo. Essas gravações mostram claramente as ações desmedidas, as ameaças de morte e as agressões físicas.

A situação se agravou quando, após a invasão, as agressões continuaram. Para tentar cessar a violência e as ameaças de morte, joguei pedras na direção dos policiais, ação desesperada que, apesar de ser uma reação de desespero, foi uma tentativa de fazer os policiais cessarem as agressões físicas, ameaças e o uso de armas de fogo contra mim, minha noiva e meus amigos. Após toda essa violência e intimidação, senti-me completamente acuado e traumatizado com a situação.

Tenho em minha posse fotos e vídeos que comprovam todas as agressões, invasão, ameaças, além das ações arbitrárias de policiais que invadiram minha residência sem mandado, sem justificativa legal e de forma violenta. Essas provas demonstram claramente a ilegalidade do que ocorreu naquela madrugada.

Gostaria de registrar que meu trabalho como músico vem de uma trajetória de muito esforço e dedicação. Meu dinheiro é obtido através da minha música, que muitas vezes é entre as mais ouvidas no Brasil, e não tenho qualquer relação com atividades ilícitas ou criminosas. Essa perseguição, os prejuízos emocionais, físicos e materiais que estou sofrendo, têm afetado minha vida, minha carreira e minha integridade.

Por fim, reitero que não sou bandido, criminoso ou delinquente. Sou artista, legítimo representante da minha expressão musical e cultural. Fui vítima de abuso policial, e que sejam tomadas as devidas providências para que casos como este não se repitam, garantindo direitos e a integridade física e moral. Não posso aceitar que agentes do Estado utilizem a força de maneira desmedida, sem justificativa e sem respeitar os direitos fundamentais dos cidadãos, especialmente daqueles que não representam qualquer ameaça à segurança pública.

Reitero que toda a ação policial foi unilateral, violenta e injustificada, e que minhas tentativas de registrar a agressão com vídeos e fotos são comprovações irrefutáveis do abuso que sofri. É crucial que esse episódio seja apurado com rigor, para que haja responsabilização daqueles que agiram de forma ilegítima, e que não se tolere qualquer prática abusiva por parte de agentes públicos.

Por fim, exijo respeito à minha dignidade, à minha história, ao meu trabalho e à minha vida, e espero que essa denúncia seja levada a sério, contribuindo para a justiça e para o combate a práticas policiais arbitrárias e abusivas no país.”

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