Infelizmente a memória é curta. E seletiva. Muitos afirmam que não há, na legislação espanhola, punições contra o racismo. Não é verdade: 16 anos atrás, entrava em vigor a Lei 19/2007. A data: 11 de julho daquele ano (alterada, vejam só, em fevereiro de 2023 para incluir ataques contra a população LGBTQIA+), com punições mais rigorosas contra algo que começava a virar moda na época: os cantos de “mono, mono” (“macaco, macaco”), em estádios de futebol. Naquela época, então, a grande vítima era o atacante camaronês Samuel Eto’o, do Barcelona.
E a Lei 19 veio depois que, em 2006, Eto’o ameaçou deixar o campo de La Romareda, em partida contra o Zaragoza. Acabara contido por seu treinador (Frank Rijkaard) e vários companheiros de Barcelona (entre eles Deco e Ronaldinho Gaúcho), além do árbitro da partida. À reação do atacante veio a nova legislação, mais contundente.
Ancelotti segura Vini em campo
Vini Jr tomou decisão semelhante e terminou sendo contido por seu treinador, Carlo Ancelotti. No fim da partida, o goleiro Courtois afirmou que se ele, Vini Jr, o fizesse, todo o time o seguiria. Também com Eto’o se comentava que ele gostava de provocar os torcedores (no caso do camaronês, ele até realmente provocou a torcida do Real Madrid, em uma comemoração de título – sentiu, porém, que exagerou e pediu desculpas).
Naquela ocasião, no dia 7 de abril, o Zaragoza bateu o Barcelona por 1 a 0. E o time catalão recebeu nada menos do que sete cartões amarelos (Messi, Deco, Ronaldinho Gaúcho, Iniesta e Xavi Hernández entre eles; Eto’o acabou não sendo punido) – sendo o resultado que recolocou o Real Madrid na briga pelo título, que ganharia apesar de Real e Barça terem terminado com o mesmo número de pontos ganhos (76).
Hoje, o que se pede não é apenas a aplicação da Lei 19/2007 (“a presente lei pretende regular em um só texto legal todas as medidas de luta contra a violência, o racismo, a xenofobia, o antissemitismo e a intolerância ou qualquer outra manifestação inaceitável de discriminação contra as pessoas, partindo-se da experiência da luta contra a violência no esporte”), mas a garantia que a dignidade humana seja preservada.