Vendedor de Mate, patrimônio imaterial do Rio | Marcelo Piu/Prefeitura do Rio
Um vendedor ambulante de mate foi agredido na manhã deste domingo (5), no calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP). O fato aconteceu entre os postos 1 e 2 da orla.
Um vídeo a que a reportagem do FOLHA DO LESTE teve acesso mostra um grupo de vendedores de mate numa ação de abordagem da SEOP. Um dos ambulantes, filmando a cena com o celular, relata: “eu não fiz nada aqui, quer me agredir”, se referindo a equipe de abordagem. Em seguida, argumenta: “somos patrimônio cultural, ninguém pode mexer com a gente não”. O estopim, então, acontece quando ele desafia um dos agentes a lhe agredir.
Depois disso, a situação fica completamente fora de controle. Um dos agentes da SEOP o persegue. Quando alcançado, num quiosque, acaba agredido. Os demais agentes vão atrás. Porém, clientes e funcionários do quiosque, diante da situação de covardia, intervém na confusão, em defesa do vendedor agredido. A resposta do agente da SEOP se dá com mais violência, disparando gás de pimenta na face das pessoas.
Violência sempre gera… Violência. Clientes e funcionários do quiosque reagiram. Garrafas foram arremessadas contra a equipe, que revidou com o uso de cassetetes. Inclusive, com golpes pelas costas. Em suma, o vídeo deixa a situação mais do que clara.
Testemunha
O fato revoltou uma testemunha, que registrou as imagens e relatou o seguinte:
“Esse país é uma merda mesmo. A Guarda Municipal ainda agora desce o cacete em trabalhador em Copacabana. Gás de pimenta, bomba de gás lacrimogêneo do lado da criança. Levaram o dono da barraca preso por proteger o vendedor de mate que estava sendo AGREDIDO. Tudo isso do meu lado. A população se revoltou e foi pra cima da GM que saiu correndo.
Prender vagabundo ninguém quer, prender bandido ninguém quer.
Já o trabalhador só se fode.
Depois vira bandido por revolta e o RJ continua sendo a panela de pressão que é há anos”.
Patrimônio Cultural do Rio
Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, os vendedores de mate são considerados patrimônio imaterial da cultura carioca. E assim como eles, há outros símbolos que representam a carioquice nesta lista. Por exemplo, as escolas de samba, as festas de Iemanjá, as marchinhas do carnaval, o frescobol e a umbanda.
Só no discurso
Em maio desse ano, na ocasião da distribuição de 95 alvarás para vendedores de mate, o prefeito Eduardo Paes (PSD) disse estar dando segurança jurídica aos trabalhadores do setor. No mesmo sentido, comentou o secretário de Ordem Pública, Brenno Carnevale:
O vendedor de mate é fundamental nas praias do Rio, um grande símbolo da cidade, precisa ser valorizado. É com muito orgulho e felicidade que a gente concede as licenças para essas pessoas que precisam trabalhar e que ajudam na economia da cidade. Além disso, a licença traz segurança jurídica para essas pessoas trabalharem e auxilia o trabalho de fiscalização que a Seop faz nas praias”, explicou Carnevale.
Contraditório
A reportagem do FOLHA DO LESTE entrou em contato com a SEOP, para o devido contraditório. Por fim, na manhã desta segunda-feira (7), recebemos a resposta, através da seguinte nota, acompanhada de imagens em justificativa de suas ações.
Agentes da Secretaria de Ordem Pública realizavam uma operação de ordenamento neste domingo, dia 05, quando ao avistaram materiais para comercialização de bebidas alcoólicas, como caipirinhas, escondidos em um depósito clandestino na areia da praia.
Ao realizarem o procedimento padrão de apreensão dos materiais, alguns homens tentaram impedir a ação da equipe, desacatando os agentes. Iniciou-se um princípio de confusão e os homens foram protegidos e acobertados por funcionários de um quiosque, que atacaram os agentes com pedras e garrafas.
Um homem foi preso e conduzido para a 12a DP. O quiosque foi interditado por tentativa de impedir a ação dos agentes públicos.
