CelebridadesComunicaçãoEntretenimento, Artes e Cultura

Saiba como Léo Batista descobriu a morte de Getúlio Vargas

A morte de Léo Batista ainda repercute no país, afinal, dos 92 anos que o apresentador viveu, quase oito décadas foram dedicadas à comunicação. Nas homenagens, muito se falou sobre o jornalista ter sido o primeiro a noticiar o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Mas pouco se fala sobre a forma como Seu Léo descobriu a informação. E o portal Folha do Leste conta que isso aconteceu, de certa forma, por acaso.

O radialista e jornalista Áureo de Souza Ameno entrou para a história do rádio brasileiro por ter sido um dos principais produtores de Haroldo de Andrade na Rádio Globo por décadas. Mas antes de se tornar um nome famoso na caixinha, coube a ele passar a notícia do suicídio ao próprio Léo por telefone.

Residência próxima ao palácio

Em 2014, numa série de vídeos em homenagem aos 70 anos da Rádio Globo, os jornalistas Michel Menaei e Sérgio Solon Santos entrevistaram Áureo Ameno, que relembrou o período em que morava próximo do Palácio do Catete, na Rua Silveira Martins, também no mesmo bairro onde ficava a então residência oficial da Presidência da República. Ao perceber a movimentação intensa de soldados do Exército e tanques de guerra, pediu ao dono de um bar que ficava na esquina entre as ruas do Catete e Silveira Martins, para ligar para a Rádio Globo.

“Naquela época, pra fazer uma externa, a gente tinha que dar a sorte de estar próximo de um telefone. O português dono desse bar era muito meu amigo e me falou: ‘O telefone é teu. Pode usar à vontade’. Então eu falei pela ligação: ‘O palácio está cercado de tropas. Ninguém entra e ninguém sai’. Aí o Rubens Amaral, que era o diretor de jornalismo da Rádio Globo, me disse: ‘Você fica aí. Não podemos mandar ninguém para onde vocês estão. Vai me falando o que acontecer'”, recorda Ameno.

Medo de dar uma “barriga”

Durante essa conversa, o radialista lembra que entrou alguém desconhecido gritado  que o presidente tinha morrido. Ameno, que ainda estava ao telefone, informou imediatamente. Também na ocasião da entrevista, o radialista confessou um temor. O receio em ter dado uma “barriga”, apelido que se dá quando o jornalista erra uma apuração e divulga algo não procedente.

“Um maluco chegou no bar e gritou: ‘O presidente morreu! O presidente morreu!’. ‘Olha, tá chegando a notícia de que o presidente morreu’ e foi assim que eu dei a notícia. Olha, com todo o respeito que Vargas merece, sou apaixonado pela biografia do Getúlio, mas se ele não tivesse morrido, eu estava frito, pois daria a maior barriga da história. Eu estava no ar e aí veio a confirmação do suicídio. Em seguida, o Léo Batista entrou com o Globo no Ar informando a notícia. E foi assim que eu entrei para a Rádio Globo”, explicou Ameno.

Amigos desde a época do colégio

Áureo Ameno e Léo Batista já eram amigos próximos desde antes do episódio do suicídio de Vargas. Ainda na entrevista ao então canal Rádio de Verdade, atual Mídia de Verdade, ele recordou que os dois estudavam na mesma escola.

“Nós estudávamos juntos em um colégio no Largo do Machado, na Rua Gago Coutinho. Era a Escola Ruy Barbosa. Eu queria trabalhar em rádio. Já tinha atuado em algumas emissoras do interior de Minas, mas queria vir para o Rio. Meu sonho era trabalhar na Rádio Globo. E o Léo dizia que iria me levar para lá. Fiz um teste e fui aprovado. Ele iria sair para a TV Rio com o Luiz Mendes e me indicou (para ficar no lugar de Léo). Só que demorou essa mudança e foi nesse período que aconteceu o suicídio do Getúlio Vargas”, relembrou.

O trecho pode ser visto desde o início do vídeo até 3:23

Léo Batista como padrinho no rádio

Um ano antes, em 2013, em entrevista à Rádio Bicuda, Ameno deu mais detalhes sobre como conheceu e se tornou amigo de Léo Batista.

“Eu vim de Minas para o Rio em 1953, com pouco mais de 20 anos de idade. Como eu tinha vontade de entrar para o rádio, precisava terminar os estudos. Fiz o curso clássico, que era para quem desejava cursar Letras, Direito e Filosofia. E foi na escola que eu conheci o Léo Batista. Ele foi meu colega de turma”, recordou.

Outra revelação que Ameno fez à época da entrevista para a Bicuda FM, é que Léo já o levava para acompanhar os programas na Rádio.

“Foi ele quem me apresentou o universo da Rádio Globo na ocasião. Graças ao Léo, conheci o Luiz Mendes, acompanhava os programas de dentro da emissora e esperava por uma oportunidade”, afirmou.

A entrevista pode ser conferida abaixo a partir de três minutos.

A ligação que realizou o sonho de trabalhar em rádio

Ameno também recordou como chegou ao dono do bar, um português, e pediu para usar o telefone. Ele percebeu que naquela momento se construía a oportunidade que ele tanto sonhava.

“Eu morava numa pensão na Rua Silveira Martins, a do Zé Pinto, e ia fazer algo na rua. Mas não tinha como sair do Catete porque estavam todas as tropas de Exército, Marinha e Aeronáutica pelo bairro. Nas ruas, o povo comentava que iam depor o Getúlio. E aí pensei: ‘É essa a minha chance’. Corri para o botequim da esquina. E o dono do local era meu amigo e sabia do meu sonho. Falei: ‘Seu Manoel, hoje é meu dia. Deixa eu usar seu telefone?”, contou Áureo Ameno.

O português respondeu positivamente e ainda agradeceu ao pedido do então estudante.

“Fica à vontade. É até bom que tu usas este telefone, pois só assim param de ligar pra cá. O telefone é teu!”, foi o que, de acordo com Ameno, disse o português. Ao repetir a frase dita pelo dono do bar, o amigo de Léo Batista imitou, de forma bem humorada, o sotaque lusitano do responsável pelo estabelecimento.

Léo Batista morreu aos 92 anos no domingo (19). Viúvo desde 2022, ele deixou duas filhas, Cláudia e Mônica.

 

Você também pode gostar

Deixar uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais em:Celebridades