A escola de samba Sabiá – a mais antiga de Niterói – exaltou com excelência a essência da mulher preta em seu desfile, na madrugada deste domingo (4), no Caminho Niemeyer. Sexta escola a pisar na avenida, a agremiação, fundada em 1938, se credenciou ao título com o enredo “Filhas de Mãe Preta Herança da Força Ancestral”.
Início nota 10
Uma expressiva comissão de frente, extremamente adequada ao enredo, apresentou uma coreografia exuberante, que convidou o público a mergulhar no desfile.
A perfeição teve continuidade com o bailado do mestre-sala e na dança da porta-bandeira. Ele, cortejando-a, com garbo e elegância, ao mesmo tempo em que demonstrava atenção na proteção do pavilhão, ao passo que ela ostentava o manto com amor.
Logo em seguida, o abre-alas da escola, apresentava a escola e o enredo, fazendo de elementos alegóricos que estilizavam a negritude. Destaca-se o uso de uma paleta de cores fechadas, com saia em palha. Porém, a iluminação do carro deu brilho à alegoria, realçando sua beleza.
A ala que veio após o a primeira alegoria é a que mais personaliza a mulher preta no samba: as baianas, com lindíssimo figurino.
Virtudes do desfile
A sequência do desfile, no que se refere à beleza plástica e cênica, manteve o excelente padrão da abertura. Desde a conexão das mulheres pretas com as orixás e guerreiras, como as candaces, passando pela construção social da identidade preta, até chegar à Nossa Senhora Aparecida. Ao final, a mensagem de orgulho contra forças opressoras. Um excelente enredo, provavelmente o melhor da noite.
Em suma, a Sabiá representou a resistência, a persistência, a resiliência e o empoderamento das mulheres pretas. Nas artes, destacou a atriz Ruth de Souza. Mas seu desfile simbolizou com primor e virtude todas as empreendedoras, comerciárias, professoras, faxineiras, domésticas.
De olho na terça-feira
Apesar do belo enredo, a escola teve alguns problemas de evolução e harmonia. Percebemos a abertura de buracos entre carros e alas, principalmente nas curvas da passarela.
Por diversas vezes, os puxadores do samba pararam de cantar para “largar” o samba para os componentes. Em alguns momentos, funcionou. Mas, no geral, o canto da Sabiá não teve regularidade ao longo de todo o desfile, representando um desafio para a agremiação na apuração.
A bateria se esforçou ao máximo para alcançar a perfeição. Todavia, o quesito pode ter penalizações por conta do andamento do samba e da própria ausência de canto. Alguns trechos da melodia do samba – demasiadamente retilínea e com notas muito baixas na primeira estrofe – colaboraram pra isso. Diante desta análise, o samba-enredo deve perder pontos por conta da melodia, apesar da letra perfeita.
Mas apesar dos problemas, a escola não está fora do páreo. Certamente, disputará as primeiras colocações, inclusive o título. Principalmente, se não vier a perder pontos em samba-enredo.
Nossa nota: 9,3
Fotos e vídeos: Natalie Vitorino/Folha do Leste | Todos os direitos reservados à Brasil 21 Comunicação | Proibida a reprodução