A Porto da Pedra deu a largada por sua permanência no Grupo Especial com muita força. Com um dos melhores sambas de enredo, muito bem interpretado pelo experiente Wantuir, o Tigre rugiu alto para disputar o Carnaval em alto nível.
A agremiação desfilou com o enredo “O Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”, do carnavalesco Mauro Quintaes, em alusão à obra homônima de 1594. A agremiação teve um início de desfile arrebatador.
Esquenta
O famoso Setor 1 – arquibancada popular que fica no início da Passarela do Samba – estava repleto de torcedores da agremiação gonçalense. Após 13 anos de ausência dos desfiles do Grupo Especial, a Porto da Pedra levantou a galera, antes mesmo do desfile começar. Primeiramente, com a apresentação especial feita para este público pela bateria comandada pelo mestre Pablo, e fantasiada de “o assombro do sertão”, com a rainha Tati Minerato de brilho lunar. Igualmente, por conta da apresentação, também personalizada da Comissão de Frente, coreogeafada por Júnior Scapin, representando a “busca incessante do saber”. A performance deve garantir à escola a nota 10.
Antes do grito de guerra, Wantuir puxou três sambas: o de exaltação à escola, o do carnaval de 1996, quando a Porto da Pedra desfilou pela primeira vez na elite, e o do carnaval 2023.
Desfile
O primeiro setor da escola se dedicou a alquimia dos saberes. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo França e Denadir Garcia, representaram os estudos dos alquimistas sobre a Lua. Com uma belíssima indumentária, Denadir deu luz ao nosso satélite natural, enquanto Rodrigo vestiu-se de Mago da alquimia.
O símbolo maior da escola, o Tigre, estava em um pede-passagem gigante, anunciando a Profética do Saber Popular. Maria Laura Luzes destaque principal e primeira-dama da escola, tinha como fantasia Maria, a Profetiza – mãe da alquimia, cujos saberes também estavam estampados no primeiro carro alegórico.
A escola deu sequencia ao seu desfile abordando a gênese do saber popular brasileiro e o presságio dos astros
O terceiro carro, a casa dos horóscopos, reviveu os almanaques de cordel. Daí por diante, o desfile seguiu a linha mais espiritual, tratando de elementos do corpo e da alma. O carro relicário da cura retratou a medicina popular.
Os folgados populares também estiveram presentes no desfile, por meio de vaqueiros, cavalhadas, bumba-meu-boi, maracatu, e o Movimento Armonial, da obra de Ariano Suassuna.
Problemas
Mas foi justamente no último setor da escola – o Lunário Perpétuo de um Brincante, que o maior desafio surgiu. Justamente, no momento em que as alas com referência ao artista Quando todas as alas já haviam entrado na avenida, o último carro teve dificuldades para entrar na pista. A escola abriu um buraco grande, de quase 100 metros, em frente ao módulo duplo de julgadores. Uma jornalista ficou ferida, segundo testemunhas.
Possibilidades
Mesmo com o problema no último carro, a Porto da Pedra fez um desfile digno das grandes escolas. Considerando que existe um grande rigor dos julgadores com as agremiações que abrem os desfiles, a Porto da Pedra corre riscos de ser excessivamente despontuada. Mas nada que, a nosso ver, possa comprometer sua permanência no Grupo Especial.
Enredo excelente, bem traduzido nas alegorias e fantasias, bateria e samba nota 10. A escola cantou, mas não com a intensidade de costume. Os efeitos especiais, que iluminaram as alas, deram um belo efeito visual. Muito luxo, bom gosto, mas os erros visíveis pesam muito. Especialmente, quando eles ocorrem com a primeira escola de domingo.