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Recorde de amputações: Como tratar feridas em diabéticos

O aumento alarmante no número de amputações entre pacientes diabéticos tem chamado a atenção para a importância de identificar e tratar adequadamente as feridas nessa população.

Este artigo, por meio da expertise da Dra. Bianca Oliveira, médica hiperbarista e especialista em tratamento avançado de feridas, explora as complexidades das feridas em pacientes diabéticos e destaca medidas cruciais de prevenção e tratamento, oferecendo uma visão abrangente sobre como combater esse grave problema de saúde.

Obrigada por ter aceitado o convite e agora é com você!

 Dra. Bianca Oliveira (CRM – BA 19732), médica hiperbarista e com mais de 15 anos de experiência e fundadora da Cicatriclin. Imagem: Divulgação

Feridas são lesões que podem ser caracterizadas por problemas de saúde, acidentes e diversos fatores.  Uma das principais responsáveis por deixar pacientes com sequelas graves após o surgimento de doenças é a falta de tratamentos adequados das lesões e feridas provocadas por doenças ou traumas.

Segundo um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), mais de 282 mil pacientes tiverem seus membros inferiores amputados entre janeiro de 2012 e maio de 2023.

Somente no ano passado foram registrados 31.190 procedimentos, o que significa que – a cada dia – pelo menos 85 brasileiros tiveram seus pés ou pernas amputadas na rede pública de saúde.

Em caso de diabéticos, o aumento da glicose no sangue afeta diversos processos fisiológicos, órgãos e sistemas, podendo causar diversas complicações. Em se tratando das feridas, essa alteração leva à complicações em pacientes diabéticos por diversos fatores, dentre eles e principalmente a microangiopatia, a neuropatia e a alteração na capacidade do organismo de responder a infecções.

Alguns problemas derivam da diabetes e é possível identificá-los, como a Microangiopatia: que são problemas de circulação, o que dificulta a chegada do sangue até os membros mais distantes do coração, especialmente os pés.

Em consequência, essa região recebe menos oxigênio, o que prejudica a cicatrização e pode levar à morte do tecido, conhecida como necrose ou gangrena. O oxigênio é fundamental para que a cicatrização aconteça.

Como os vasos ficam bloqueados e não chega sangue de maneira adequada, o processo cicatricial não é completo e pode se tornar crônico ou até mesmo, complicar rapidamente levando à amputação.

Outra causa é a Neuropatia: O pé do diabético é mais suscetível a lesões, pois, além de ter a pele mais fina e frágil, há o comprometimento do sistema nervoso que leva à diminuição da sensibilidade protetora dos pés.

Ou seja, em muitos casos, o diabético não percebe alterações, dores, pequenos cortes, arranhões e até mesmo lesões maiores. Apenas repara que algo não está dentro da normalidade quando a ferida já está extensa ou quando há odor fétido, tornando o ferimento mais vulnerável aos processos infecciosos, gangrenas e amputações

Por isso as orientações sobre cuidados com o pé do diabético devem ser fornecidas e explicadas a todos os pacientes em primeira consulta.

Uma dica para os portadores de diabetes que estão em tratamento é o uso de meias brancas, visando identificar precocemente secreções e sapatos adequados, podem fazer grande diferença na vida do diabético.

Atenção com a Imunidade:

O diabético é mais predisposto a infecções em consequência da baixa da imunidade que ocorre devido as condições de hiperglicemia no organismo, deixando-o mais suscetível e com menos resposta às infecções principalmente a determinados germes.

O paciente diabético, deve ser avaliado com muito mais cuidado quando se trata de feridas.

Se um paciente diabético for submeter-se à alguma cirurgia, determinados exames que necessitam uso de contraste e, às vezes, até uma intervenção em unha do pé, por exemplo, deve antes se consultar com um médico que atue neste tipo de situação.

Várias especialidades médicas devem acompanhar um paciente diabético: Cardiologista, angiologista, endocrinologista, neurologista, entre outras especialidades, e que, em caso de complicações, saibam conduzir rapidamente evitando complicações mais graves.

Esses pacientes devem passar também com outros especialistas como nutricionistas, enfermeiros e fisioterapeutas para uma avaliação multiprofissional do caso devido às potenciais complicações e a gravidade das mesmas que podem ocorrer como: amputações e até complicações sistêmicas.

Essas avaliações é que fazemos nas nossas unidades de clínicas de tratamento avançado de feridas. Com todos os especialistas, mesmo antes de intervenções cirúrgicas, onde já entramos como grupo visando controle da doença de base e traçamos um pós-operatório mais seguro com tecnologias que vão desde curativos a Oxigenoterapia Hiperbárica.

No caso de pacientes já com feridas e diabetes, esse trabalho orquestrado, rápido e em conjunto, faz toda diferença.

A disponibilidade de tecnologias que podem ser utilizadas como terapias adjuvantes também. O tempo de tratamento vai depender de vários fatores como condições do paciente (tempo de doença e controle, complicações associadas, tabagismo…), grau de comprometimento vascular e sistêmico, tamanho e causa da lesão, infecções, etc.

No caso de pacientes diabéticos com feridas, cada paciente é ÚNICO, e o tratamento pode variar de dias a meses.

O melhor tratamento nestes casos é a prevenção, um bom profissional que oriente os cuidados que devem ser realizados e o acompanhamento, além da rápida e eficaz avaliação das complicações. Um paciente diabético pode evoluir de uma ferida tratável à amputação em 24h dependendo de cada caso.

Existem diversas possibilidades: curativos especiais que veem impregnados com substâncias antibióticas, terapia por pressão negativa que acelera a cicatrização e ajuda a prevenir complicações, inclusive em pós-operatórios mais complexos, Oxigenoterapia Hiperbárica e outros.

Mas é importante destacar que todas as terapias acima citadas são adjuvantes ao tratamento, ou seja, ajudam, aceleram e muitas vezes intensificam o tratamento que deve ser sempre realizado por avaliação médica e multiprofissional, culturas de fragmentos de lesão bem realizadas e interpretadas, antibióticos guiados, controle glicêmico e intervenções cirúrgicas quando necessárias.

O tratamento de uma ferida em um paciente diabético nunca pode ser realizado por apenas 1 profissional. As clínicas de tratamento avançado de feridas são ambientes preparados para estes atendimentos com médicos, equipe multiprofissional e tecnologias a serem utilizadas quando necessário que promovem uma avaliação e intervenção rápida, especializada, eficaz e resolutiva.

Sintomas e cuidados:

Um paciente compensado, com glicemia controlada e equipe multiprofissional, geralmente tem menos complicações e, quando estas ocorrem, são rapidamente revertidas.

Vale lembrar que o paciente diabético, como qualquer outro paciente, pode sofrer acidentes (desde uma queda de bicicleta a acidentes com carros ou motos), submeter-se a cirurgias inclusive plásticas, sofrer traumas nos pés ou com uso de calçados inadequados.

Todas as pessoas podem desenvolver feridas, sejam elas agudas ou crônicas, mas o paciente com diabetes requer um cuidado mais especializado e rápido.

A diabetes é uma doença com crescimento exponencial e mundial. A melhora na medicina, principalmente essa nova abordagem focada em prevenção e saúde, com controle da dieta, exercícios físicos e conscientização, além do desenvolvimento de novas medicações e tecnologias de controle e tratamento da diabetes permitem que o paciente diabético viva mais e melhor.

Porém com o aumento do número de pacientes diabéticos e aumento da expectativa de vida acontecem também maior número de complicações em feridas.

Não quer dizer que todo paciente diabético vai ter ferida, muito pelo contrário. Um paciente com controle da glicemia e bom acompanhamento vive uma vida normal. As lesões que ocorrem no diabético são as mesmas que em qualquer paciente, traumas, cirurgias… porém devido às complicações da doença, podem complicar mais grave e rapidamente.

Um bom exemplo é o paciente que pisa em um prego, espinho ou que fere um pé em um sapato apertado. Um paciente que não tenha diabetes sente dor e logo procura um médico e tratamento, enquanto, por causa da neuropatia, o paciente com diabetes não sente nada e não procura atendimento.

A lesão vai evoluindo até planos profundos (músculos, tendões e até mesmo ossos) sem sintoma em muitos casos, sendo necessária uma maior prevenção.

Alguns conselhos simples podem ajudar e muito:

 Olhar diariamente os pés com um espelho (inclusive entre os dedos evitando micoses etc…)

Secar os pés com secador frio (testar antes a temperatura em antebraço);

Usar diariamente meias brancas e checar no fim do dia se há alguma sujidade;

Usar calçados específicos para pacientes diabéticos.

Os tratamentos vão depender da avaliação, diagnóstico e gravidade de cada caso. Pode durar de dias a meses e precisar, desde curativos mais simples, até intervenções cirúrgicas e internações hospitalares.

Primeiramente conseguir implementar a medicina de promoção à saúde como dieta, exercícios físicos e uso das medicações e tecnologias existentes. Muitas vezes o acesso à saúde é desigual e não conseguimos executar todas as etapas do cuidado em todos os pacientes, ficando os mais pobres, mais vulneráveis. O acompanhamento da glicemia e das possíveis complicações com avaliações médicas periódicas é fundamental.

Medidas como alimentação saudável, controle regular da glicemia, qualidade do sono, atividade física e conscientização devem ser inseridos na programação terapêutica de qualquer paciente, mas principalmente nos pacientes diabéticos e/ou com doenças crônicas.

A dieta do diabético deve fugir de doces e açucares, além de farinhas brancas. Inserir integrais, frutas, verduras e evitar carnes gordurosas já ajuda.

O ideal é passar por uma avaliação com nutrólogo ou nutricionista que adapte a melhor dieta para cada paciente e seu estilo de vida.

Muito obrigada pelo alerta e esclarecimentos Bianca! Seja bem-vinda sempre que quiser!

Compartilha essa matéria que é uma verdadeira aula para quem tem diabetes e dúvidas de como se cuidar. Ajude quem precisa de informações! 

Vamos reduzir esse número de amputações por falta de conhecimento e cuidados.

Obrigada, até a próxima, beijo e tchaaau!

*Dra. Bianca Oliveira (CRM – BA 19732), médica hiperbarista e com mais de 15 anos de experiência e fundadora da Cicatriclin. Também é Diretora Médica do Grupo Cicatriclin e também da Hipermed – Clínica Multi e Moneplace de Medicina Hiperbárica. Coordenadora Médica das comissões de pele dos Hospitais Samur, São Vicente e Unimec. Professora da Pós-Graduação em Tratamento Avançado de feridas pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais em parceria com o Hospital Mater Dei. Professora do curso de feridas da Cicatriclin Educação.

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