Operação Contenção mobiliza 2.500 policiais e mira chefes do Comando Vermelho no Alemão e na Penha

Visão da situação na comunidade vista de dentro do Caveirão da Polícia Civil | Imagem tratada com o uso de Inteligência Artificial pelo setor de tecnologia do Folha do Leste em frame de vídeo divulgado pelo Governo do Rio de Janeiro
Por André Freitas, editor-executivo e repórter | Rio de Janeiro, 28/10/2025, às 10h04 | Última Atualização, 29/1025, às 14h03 — Um conjunto de forças de segurança pública do Rio e órgãos relacionados deflagraram na manhã desta terça-feira (28) a Operação Contenção nos Complexos do Alemão e da Penha.
O objetivo consistia na prisão de lideranças do Comando Vermelho (CV), assim como em conter a expansão territorial da facção. Ao mesmo tempo, também pretendem dar cumprimento a mandados judiciais interestaduais. A ação mobilizou cerca de 2.500 agentes.
Na última atualização, feita pelo secretário de Polícia Civil, Felipe Cury, na tarde desta quarta-feira (29), o número de mortos saltou para 119, com 113 presos e 10 adolescentes infratores apreendidos.
Por outro lado, diante deste cenário que cada vez representa mais seu cotidiano de falta de paz, moradores acordaram cedo. Logo perceberam, de suas janelas, que aquela brisa de fumaça sinalizava o impedimento de seu sagrado direito de ir e vir. Mesmo assim, segundo o Governo do Rio de Janeiro, a operação está cumprindo as medidas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ADPF 635.

Fumaça preta cobre o céu do Rio de Janeiro, sobre a comunidade do Alemão e Penha, em meio à Operação Contenção. Moradores relatam barricadas em chamas e o impacto da ação policial em seu cotidiano | Reprodução
Guerra
Diante do confronto bélico, moradores ficaram refugiados em suas casas — sem ter como ir ao trabalho ou enviar os filhos à escola. Alguns, registraram os tiros e as barricadas em chamas, quando ao nascer do sol, as primeiras tropas entraram nas comunidades.
Fontes locais repercutem imagens que descrevem o cenário como “zona de guerra”. Há relatos de labaredas em vias públicas, fumaça subindo entre prédios e colunas de policiais avançando sob fogo. As forças de segurança relataram ainda que criminosos teriam usado drones contra as tropas em retaliação às incursões.
Operação Contenção visa cumprir 250 mandados judiciais
O governo do estado classifica a ação como uma operação de grande escala. Participam dela o Comando de Operações Especiais — COE; a Coordenadoria de Recursos Especiais — CORE; juntamente com promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro — MPRJ; e unidades especializadas da Polícia Civil — PC; e da Polícia Militar — PM.

Operação Contenção: 2.500 agentes entram no Alemão e na Penha | Imagem tratada com o uso de Inteligência Artificial pelo setor de tecnologia do Folha do Leste em frame de vídeo divulgado pelo Governo do Rio de Janeiro
O esforço policial tem metas definidas: cumprir cerca de 100 mandados de prisão e 150 mandados de busca e apreensão, segundo comunicados e apurações jornalísticas. Autoridades informaram que parte dos alvos tem origem em outros estados — cerca de 30 mandados, segundo o que foi divulgado. As equipes atuaram com helicópteros, blindados e apoio logístico.
Promotores do MPRJ acompanharam diligências que resultaram na expedição e cumprimento dos mandados. Procuradores e delegados envolvidos disseram que a ofensiva decorre de mais de um ano de investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e de unidades de inteligência.
Balanço noturno: 81 presos e 64 mortos e incerta quantidade de feridos
Imediatamente, na entrada por acessos como a Rua Uranos, agentes prenderam dois suspeitos e apreenderam armamento. Ao longo da incursão policial nas comunidades, as forças de segurança confirmaram a prisão de dezenas de suspeitos. Esse número terminaria em 81 presos ao final do dia.
No balanço realizado por nossa reportagem, às 12h16, haviam 56 presos. Dentre eles, os traficantes conhecidos pelos vulgos “Danado ou Mexicano”, chefe do tráfico do Jorge Turco; e “Belão”, líder da Chatuba, na Penha. Estas prisões, confirmadas no balanço final da operação, foram muito comemoradas pelas forças de segurança.
Correição necessária
Inicialmente, informamos a prisão do operador financeiro Edgard Alves de Andrade (vulgo “Doca/Urso”), apontado como um dos chefes do CV na Penha. A divulgação deste fato — que não aconteceu — ocorreu por falha na checagem da informação após nossa fonte repassá-la. Pelo erro, pedimos desculpas.
Apreensões
As apreensões incluíram 91 fuzis — além de 26 pistolas e toneladas de drogas.
Por volta de 20h, o governo fluminense divulgou balanço atualizado da Operação Contenção. Todavia, esses dados foram retificados posteriormente.
- 93 fuzis apreendidos
- 81 presos
- 60 suspeitos mortos (o governo garante que se tratam de criminosos)
- 4 policiais mortos (dois civis e dois militares)
- 500 quilos de drogas (aproximadamente)
O governo fluminense não divulgou a quantidade de policiais feridos, tal qual a de civis atingidos. Apuramos que 15 agentes civis e militares sofreram ferimentos. Nossa reportagem ainda busca as informações acerca de atendimentos a civis pelo Hospital Getúlio Vargas, que fica na Penha.
O dia seguinte: balanço da manhã
O governador Cláudio Castro concedeu entrevista coletiva à imprensa na manhã dessa quinta-feira. Ele corrigiu o número de mortos na operação, fazendo uma redução para 58, no total, sendo 54 suspeitos e quatro policiais.
Além disso, deixou claro que o anúncio de balanços somente aconteceria na cidade da polícia, após a consolidação dos números.
Sobre os corpos removidos durante a madrugada por moradores, o governador disse que a responsabilidade de identificação é da Polícia Civil.
“A nossa contabilidade começa na hora que esses corpos entram no IML. Nós não contabilizamos por imagem, vídeo, foto. A Polícia Civil, sobretudo, tem uma responsabilidade enorme de saber quem era cada uma daquelas pessoas e de identificá-las”, destacou.
Ainda sobre a contabilidade dos mortos, identificação deles e qualificação como suspeitos ou não, Castro disse o seguinte:
“É um trabalho muito criterioso, até porque nós somos cobrados por isso, inclusive pela ADPF. Então, assim, eu não posso fazer balanço antes de todos entrarem. Ainda que isso demore um pouco, daqui a pouco fica uma guerra de número. Nós não vamos trabalhar assim, até para que tenham credibilidade (os dados)”, declarou.
Balanço da tarde
Conforme declaração do secretário de Polícia Civil, Felipe Cury, a operação contabilizava, até às 13h, 119 mortos, dentre eles quatro policiais. Ele classificou os 115 demais mortos como “narcoterroristas”.
Saldo da operação
►113 total de presos (incluindo 33 de outros estados)
► 10 adolescentes infratores apreendidos
► 118 armas
► 91 fuzis
► 26 pistolas
► Um revólver
► 14 artefatos explosivos
Ainda em contabilidade:
► Milhares de munições
► Centenas de carregadores
► Toneladas de drogas
Impacto sobre a população
Moradores relataram quedas de energia, interrupção de comércio e medo de sair de casa, assim como crianças estão mantidas em casa. Escolas não funcionam. O sistema hospitalar local recebe casos de feridos, alguns sob custódia policial, conforme relatos locais.
Organizações de direitos humanos já solicitaram diálogo com as autoridades. Querem, sobretudo, monitorar possíveis excessos e garantir atendimento a feridos e deslocados.
No transporte público, diversas linhas de ônibus que passam pelas comunidades em conflito estão com seus trajetos alterados.
Desvios na Penha
• 721 Vila Cruzeiro x Cascadura • 312 Olaria x Candelária • 313 Penha x Praça Tiradentes • 621 Penha x Saens Peña • 622 Penha x Saens Peña • 623 Penha x Saens Peña • 625 Olaria x Saens Peña • 628 Penha x Nova América • 679 Grotão x Méier
Desvios no Complexo do Alemão
• 292 Engenho da Rainha x Castelo • 311 Engenheiro Leal x Candelária • 711 Rocha Miranda x Rio Comprido
VOLTA PARA CASA
Muitas pessoas saíram mais cedo do trabalho para voltar para casa. Como resultado, houve um colapso nos sistemas de transportes. Principalmente nos trens, barcas e metrôs. Haviam poucos ônibus em circulação na cidade, pois empresas estavam com medo de ter seus coletivos incendiados. Isso porque, em retaliação à operação policial, criminosos de outras localidades estavam sequestrando ônibus para bloquear vias.
No final da tarde, o governador Cláudio Castro tentou tranquilizar a população. Anunciou que iria garantir o policiamento nas ruas até que as pessoas chegassem tranquilas em casa. Ao mesmo tempo, disse que não iria retroceder na política de enfrentamento ao crime organizado.
Contexto e possíveis desdobramentos
A ofensiva se encaixa em uma estratégia contínua do estado de pressionar as estruturas do CV no Rio. Principalmente, objetivando desarticular redes financeiras e impedir a chegada de reforços de outros estados.
Nesse sentido, a menção a 30 alvos oriundos do Pará, caso confirmada no curso das investigações, reforça a tese de atuação interestadual da facção. Além disso, aponta para a necessidade uma articulação mais ampla. Sobretudo, exigindo coordenação com outras polícias e envolvimento direto da União, através do Governo Federal.
A Operação Contenção representa uma escalada tática na guerra contra facções no Rio ao passo que mostra capacidade operacional e inteligência. Mas, ao mesmo tempo, também reabre o debate de questões de impacto sobre civis. Em síntese, trata-se de equação cujo resultado exige transparência, para a sociedade formar juízo quanto à sua eficácia.
Até a consolidação dos dados, jornalismo e autoridades devem cruzar documentos, laudos e depoimentos. Assim, poderemos construir, com precisão e responsabilidade social, uma a narrativa que traduza a eficiência ou falência do poder público na segurança pública.
Coletiva à imprensa
Os secretários de Segurança, Victor dos Santos, de Polícia Militar, Marcelo de Menezes, e de Polícia Civil, Felipe Curi concedem entrevista coletiva à imprensa. Em pauta, a operação em andamento.
Ressalva de Contraditório
O Folha do Leste assegura e cumpre o direito de contraditório (art. 5º, inciso LV). Desse modo, caso qualquer parte deseje se manifestar, publicaremos sua versão neste texto, respeitando os limites éticos e legais do jornalismo: [email protected]



























