Jornalista Jourdan Amóra morre em Niterói aos 87 anos

Jornalista Jourdan Amóra morre em Niterói aos 87 anos. diretor e proprietário de A Tribuna e do Jornal de Icaraí, apenas 40 dias após o falecimento de sua esposa, Eva Santana Amóra.
Da Redação, André Freitas (Niterói, 19 de outubro de 2025) — Niterói sofre, neste domingo (19), a perda do maior ícone de seu jornalismo de verdade, com a morte de Jourdan Amóra, aos 87 anos, diretor e proprietário de A Tribuna e do Jornal de Icaraí, apenas 40 dias após o falecimento de sua esposa, Eva Santana Amóra. O jornalista estava internado no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e teve como causa oficial de morte falência múltipla dos órgãos.
Jourdan deixa os filhos Gustavo e Luís Jourdan, que já estavam no comando do grupo de comunicação. As empresas idealizadas pelo jornalista sempre tiveram como função servir ao jornalismo. Prova maior disso o seu parque gráfico, que sempre esteve mais à serviço de dezenas de outros jornais impressos do que dos próprios veículos da Casa.
Jornalista de verdade desde sempre
Esse ideal de servir à comunicação trata-se de um dom do mineiro Jourdan Norton Wellington de Barros Amóra, nascido em Araçuaí. Seu próprio nome, de origem francesa, que remete ao Rio Jordão, significa fluir e transformar. Um talento que nasceu em 6 de maio de 1938, com ascendência paterna cearense, e que permanecerá vivo através de sua história, textos, herdeiros, veículos e profissionais que com ele aprenderam a essência prática do jornalismo.
Desde a adolescência, a escrita informativa fluía pelas veias do jovial Joudan Amóra, já morador de Niterói. Suas primeiras publicações surgem em meio à vida estudantil. Logo cedo, já exercia ao mesmo tempo o jornalismo com a presidência de uma entidade, fato que se repetiria no futuro. Primeiramente, da Federação dos Estudantes Secundários de Niterói (FESN), onde também editaria um jornal.
Personagem da história
Iniciando sua vida adulta, nos anos de 1950, enfrentou os fatos que definiriam os rumos do país — e de sua própria vida — enquanto exercia o jornalismo em A Palavra, Diário do Povo e Diário do Comércio, Última Hora, Diário Carioca e Jornal do Brasil. Nesse meio tempo, o país enfrentou o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a transferência da capital federal do Rio para Brasília, a criação do estado da Guanabara, a renúncia de Jânio Quadros, o parlamentarismo e o Golpe Militar de 1964.
Ainda sob os auspícios da “Revolução”, em 1965 Jourdan adquire A Tribuna, jornal diário de Niterói. Sete anos depois, em 1972, funda o Jornal de Icaraí, no ápice da linha dura do General Médici.
Mesmo sob censura, em plena vigência do Ato Institucional número 5, Joudan enfrenta o regime em 1973. Em contrapartida, agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) invadem a redação de A Tribuna, levando Jourdan Amóra preso.
Para denunciar tamanha opressão, Mário Dias, na época editor-chefe, usa a bandeira do estado de Minas Gerais na memorável capa do Jornal de Icaraí. Não porque Jourdan nasceu no estado. Mas pela célebre frase em latin “Libertas Quae Sera Tamen” — em tradução literal Liberdade Ainda que Tardia. Uma forma inteligente e sagaz usada para denunciar a prisão de Jourdan, como para pedir a sua liberdade, impedindo sua morte.
De forma lenta, gradual e segura, a ditadura levaria ainda 12 anos para ter fim. Pouco a pouco, houve a distensão do rigor do regime militar, acompanhada de perto pelo jornalista, principalmente com a volta das eleições.
Jornalismo essencial
Jourdan jamais abiu mão de falar politicamente através de seus veículos. Aliás, eles sempre serviram de bússola para a opinião pública. Entretanto, eles não serviam aos políticos, mas aos leitores. Além disso, todo senso crítico estabelecido pelos jornais tinham as digitais de seu dono, do texto à tinta.
Assim sendo, seus veículos jamais se submeteram a quaisquer governos ou interesses econômicos. O elogio sempre estampou as páginas de A Tribuna e do Jornal de Icaraí do mesmo modo que as críticas e denúncias. Nesse sentido, os predicados de Jourdan Amóra sempre estiveram alinhados ao jornalismo. Por outro lado, as questões empresariais, para não dizer que ficavam em segundo plano, restringiam-se ao departamento comercial.

Jourdan Amóra e Eva Amóra: casal transformou A Tribuna e o Jornal de Icaraí em referências para Niterói
Portanto, A Tribuna e o Jornal de Icaraí, em conformidade com os ditames de Jourdan Amóra, sempre trataram jornalismo e publicidade como áreas totalmente distintas dentro das empresas. Ao ponto da própria diretora, Dona Eva Amóra, por incontáveis vezes, empregar seu capital pessoal nas empresas para o sagrado pagamento em dia dos funcionários.
Presidente do jornalismo
Jourdan buscou, através da sua participação na criação de entidades associativas, fazer do jornalismo uma forma de escrita independente. Principalmente, buscando com outros jornais fluminenses e brasileiros alternativas para a sobrevivência diante de um mercado dominado por alguns grupos que serviam a interesses políticos e econômicos.
Nos anos de 1980, Jourdan presidiu tanto a Associação dos Diretores de Jornais do Interior do Estado do Rio (Adjori) quanto a Associação Brasileira de Jornais do Interior (Abrajori).
Assim como seu parque gráfico — sempre em constante transformação, outro atributo de seu nome — Jourdan imprimiu nestas entidades sua resistência aos vetores de concentração da mídia.
Jourdan Amóra lutou por uma imprensa plural, menos dominada por capitais e mais próxima das pessoas e das questões de interesse público. Fora disso, deixou um gesto simples e duradouro: acreditou no ofício como escola de cidadania. Tanto que atravessou épocas de censura e de transformação tecnológica sem trair a regra de ouro que ensinava aos que formou: apurar com precisão, escrever com clareza e colocar o interesse público em primeiro lugar.
O dom de opinar e de formar talentos
Como mentor, não poupou exigência. Exigia fatos checados, respeito às fontes e coragem moral diante dos poderosos. Ao mesmo tempo, teve a paciência de quem sabe que talento se fabrica com erro e com correção. Por isso, a lista de jornalistas que passaram por suas mãos hoje ocupa redações por todo o continente.
Os textos de Jourdan sempre foram um instrumento de serviço público. Suas colunas, editoriais e reportagens punham em foco problemas ignorados. Ele opinava, com senso crítico singular, sobre questões públicas que urgiam por soluções. Muitas abordagens feitas por Jourdan Amóra moldaram políticas públicas, a logística das cidades e também do estado do Rio.
Enquanto alguns dos ditos grandes jornais se curvaram a interesses econômicos, Jourdan Amóra lembrava, firme, que a imprensa existe para defender o direito do leitor de saber. Não por teorização acadêmica, mas por prática cotidiana, ele buscou a transformação social através da reportagem bem feita.
Até Sempre
A imprensa se despede de um mestre que a memória pública tem o dever de eternizar. Aos familiares, colegas e discípulos, resta a tarefa de preservar e cultivar as lições semeadas por Jordan Amóra, pois sua luz vai continuar a guiar quem atua no verdadeiro jornalismo com coragem, rigor e coração.
Considerando as leis regentes do universo como naturais e imutáveis, manifestamos nossos votos de profundo pesar aos amigos Gustavo e Dandan. Mais do que nunca, testemunhamos a força sobrenatural que une o casal Jourdan e Eva, juntos na vida e, agora, na eternidade.
Nota pessoal
“Quando assumi o cargo de editor-chefe em A Tribuna, eu já tinha minha carreira feita no jornalismo. Recebi algumas missões desafiadoras, mas a maior delas foi a de fazer o jornal que Jourdan Amóra ia ler no dia seguinte. Saber que eu estava sob o crivo permanente dele aumentava meu senso de responsabilidade, tanto com ele como com os leitores. Muitos sentirão falta do jornalista. Eu vou sentir falta do ser humano. Que no momento mais desafiador que enfrentei na vida, juntamente com sua esposa e seus filhos, não me deixou faltar absolutamente nada — André Freitas“