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Livro infantil une combates ao racismo e à gordofobia

Foto: Divulgação

Nesta segunda-feira, 20 de novembro, é celebrado no país o Dia da Consciência Negra. Por ser uma data que tem o viés de provocar reflexões e debates a respeito da inclusão racial, naturalmente que muitos assuntos relacionados ao tema são lembrados. Com a literatura, não é diferente. E o livro E se fosse você? chama a atenção por uma peculiaridade. Além do racismo, a obra aborda o combate à gordofobia desde a infância.

Publicado pela Colli Books e com ilustrações de Fernando Hugo Fernandes, a obra é escrita por Anete Lacerda e narra a história de Lili, uma criança de 6 anos, alegre e que adora brincar com seus irmãos mais novos. No entanto, seu comportamento muda quando eles começam a frequentar uma nova escola e Lili passa a sofrer bullying devido à sua cor de pele e ao seu peso.

Quando os profissionais da nova escola percebem a tristeza e a alteração no comportamento da criança, os professores investigam o que poderia estar acontecendo com ela, identificando a prática de bullying. Eles chamam a família para, juntos, encontrarem uma solução para o problema e decidem realizar projetos e reuniões de conscientização com os pais e alunos sobre a gravidade do racismo e da gordofobia.

Em conversa com a Folha do Leste, Anete revelou que sofreu bullying na infância por estar acima do peso. E apesar de ter a pele branca, testemunhou os primos, que são negros, sofrerem racismo com a justificativa de que os colegas de escola faziam “brincadeiras”. Sentindo-se incomodada com as duas situações desde então, ela resolveu abordar ambos os temas em um mesmo livro.

“Eu sofri bullying nos meus primeiros anos na escola e isso me causou sofrimento e muitas dores que deixaram cicatrizes que carrego até hoje, apesar da terapia. Estive acima do peso a maior parte da minha vida e tinha outras características vistas como ‘imperfeições’, como espinhas. Embora seja branca, os meus primos e primas são negros e sofriam com brincadeiras que tempos depois vi claramente que eram racismo. Eram comentários muito ofensivas e nem eu, nem meus primos e amigos exigíamos respeito porque ainda não entendíamos que era um direito nosso. Era como se nós estivéssemos num lugar que não nos pertencia, como se estivéssemos sobrando. Então hoje abordar isso com crianças é uma forma de tentar provocar reflexões que levem a uma geração mais empática e comprometida com a inclusão”, explicou.

Foto: Divulgação

A autora salienta que a proposta do livro é fazer com que escola e família caminhem de mãos dadas, um complementando o ensinamento do outro. Além disso, Anete salienta como a escola pode usar a literatura como ferramenta na construção de uma educação antirracista.

“A escola ensina e a família educa. Então a criança precisa vir de casa com valores como empatia, respeito, reciprocidade, que devem ser fortalecidos e trabalhados em sala de aula. A boa escola é um ambiente fértil porque o aprendizado é de forma lúdica. Afinal de contas a criança não nasce racista, mas corre o risco de se tornar a partir da educação que recebe. Mas quando ela tem acesso a livros que mostrem a diversidade e as diferenças, aprende a olhar para o diferente com respeito. Acima de tudo passa a ver que a pluralidade enriquece a convivência e precisa ser valorizada. Então elas precisam entender que além de não serem racistas, é necessário se posicionar desde a infância contra atos racistas. É a partir dessas atitudes que alcançaremos uma sociedade melhor para todos, em que independente da cor da pele, do credo religioso e da condição social e financeira .todos serão respeitados”, afirma.

 

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