Nos últimos meses, o ex-governador de São Paulo, João Doria, tem se destacado no cenário político por suas tentativas de reatar relações que, outrora, pareciam irremediáveis. Em um gesto notável, Doria, através de Geraldo Alckmin, entregou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este movimento não foi apenas um ato simbólico, mas um passo estratégico em sua busca por reconciliação e influência política.
Doria, que durante anos foi um adversário ferrenho de Lula, agora busca um novo papel: o de conciliador. O conteúdo da carta, que expressava arrependimento e reconhecimento de erros passados, surpreendeu a todos. Segundo relatos, Lula leu a mensagem e, em um momento de reflexão, admitiu que, apesar das cicatrizes da rivalidade, estava disposto a acolher a proposta de Doria.
Essa busca por reconciliação não surgiu do nada. Nos meses anteriores, Doria havia se esforçado para restabelecer laços com antigos aliados, especialmente com Geraldo Alckmin, seu ex-vice-governador. O reencontro deles, após um período de desavenças, serviu de catalisador para Doria revitalizar suas conexões políticas. Agora, ele se apresenta como o “João conciliador”, uma reinvenção de sua imagem pública.
No entanto, essa nova fase não se resume a um desejo de retornar à política. Doria está mais focado em sua rede de negócios, que se expandiu desde que deixou a corrida presidencial em 2022. Ele reassumiu o comando do Lide, um grupo de empresários influentes, onde busca unir interesses do setor privado e se manter relevante nas discussões políticas.
O Lide
O Lide, que exige que suas empresas associadas tenham faturamento mínimo de R$ 200 milhões, se transformou em um espaço onde Doria congrega poder e negócios. Embora tenha se afastado da política tradicional, ele não ignora a importância de estar próximo de figuras influentes, e, por isso, tem promovido eventos que reúnem ministros e governadores.
Reaproximação com o PT
No entanto, a reaproximação com o governo do PT não é tarefa fácil. Doria enfrentou resistência por conta de seu passado como adversário, especialmente quando, em 2019, fez piadas sobre a prisão de Lula. Apesar de suas tentativas de se desculpar e de reconstruir relações, a desconfiança persiste. Para Doria, isso se traduz em desafios para obter apoio em Brasília.
A estratégia de Doria tem se mostrado multifacetada. Ele aumentou o número de eventos promovidos pelo Lide e expandiu suas operações para 20 países, buscando fortalecer sua presença internacional. Sua agenda lotada inclui reuniões com ministros e governadores, incluindo alguns do partido rival, o PT. Este esforço por aproximação culminou na presença de figuras proeminentes como Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, em eventos de seu grupo.
Determinação
Apesar das dificuldades, Doria parece determinado. Em conversas com aliados, expressa que sua intenção não é retornar à política ativa, mas sim se manter relevante como empresário e influente no setor. Ele já declarou que “saiu em definitivo da política”, mas, paradoxalmente, mantém laços com políticos, buscando uma posição de respeito e influência.
A reaproximação com governadores do PT, como Fátima Bezerra e Rafael Fonteles, demonstra sua estratégia de ampliação de alianças. Doria parece acreditar que um ambiente de colaboração pode gerar oportunidades tanto para ele quanto para os seus parceiros políticos.
À medida que Doria navega por esse novo capítulo, sua busca por uma imagem conciliadora ressoa em suas palavras.
“Se Lula leu a carta, ótimo. Minha alma está mais tranquila”.
O empresário parece estar em uma jornada não apenas de reabilitação de sua imagem, mas também de construção de um legado que transcenda antigas rivalidades. O futuro, no entanto, reserva desafios, e a eficácia de sua estratégia será testada nas dinâmicas políticas e de negócios que ainda estão por vir.