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Há 30 anos, uma foto sacudiu o carnaval e balançou um presidente

Foto: Paulo Araújo/Reprodução/Revista Veja

Há exatos 30 anos, uma foto feita na Marquês de Sapucaí causou impactos no carnaval e na imagem do então presidente da República Itamar Franco. Em 15 de fevereiro de 1994, o então chefe do Executivo Nacional foi flagrado ao lado da modelo Lilian Ramos, que estava sem calcinha. E a foto desse momento icônico tem autor: Paulo Araújo, que conversou com a Folha do Leste sobre bastidores do momento que até hoje é relembrado.

Antes de falar sobre os bastidores do momento, é necessário fazer justiça. Paulo não foi o único fotógrafo presente ao momento e que fez o registro. Outros três fotógrafos flagraram o momento, como Wilson Pedrosa, da Agência Estado, Josemar Gonçalves, da sucursal de Brasília do Jornal do Brasil, e Marcelo Carnaval, da Agência O Globo e que, curiosamente, tem o sobrenome idêntico ao da festa popular.

Mas a foto que ganhou destaque em todo o país por ter sido capa da Revista Veja é, na verdade, de Araújo. Na ocasião o veículo fez um título curioso: O X da Questão, com o x tapando a região pubiana da modelo Lilian Ramos.

Em conversa com a Folha do Leste, o fotógrafo relembra que Itamar já estava desde cedo no Rio, no Hotel Glória. A expectativa é que ele iria assistir aos desfiles na noite daquele dia. Com apenas “um hambúrguer no estômago”, a meta era “colar” em Itamar.

“No final da tarde, chegou a repórter Renata Fraga chegou ao Hotel Glória com a minha credencial da Rio Tur nas mãos. E lá fui eu para uma dupla jornada, e só com um Hambúrguer no estômago (risos). A Pauta era colar no Presidente Itamar Franco. E assim fiz”, relembra.

Foto “garantiu” o 13º e até o “14º” dos jornalistas de O Dia

A imagem causou impacto imediato. Houve até quem defendesse o impeachment de Itamar Franco por quebra de decoro. Mas, tanto em efeitos práticos quanto políticos, a imagem pouco destruiu. Embora tenha arranhado a imagem presidencial junto à população, não causou estragos maiores.

Em relação ao trabalho em si, Araújo afirma que não ganhou muito dinheiro como alguns podem pensar. Mas a Agência O Dia conseguiu um bom valor ao revender a imagem para outros veículos. Isso rendeu até brincadeira entre os colegas.

“Até que não faturei muito, mas a Agência O Dia ganhou bastante dinheiro com a foto. Os colegas até brincaram comigo, dizendo que eu paguei o décimo terceiro e o décimo quatro salário deles naquele ano, pois a sequência de fotos vendeu muito naquele carnaval. O Jornal ‘A Notícia’ esgotou nas bancas, e o Jornal do Brasil deu até uma notinha sobre o sucesso de venda em banca de jornais”, recorda.

Apesar do sucesso que a imagem faz até hoje, Araújo admite uma determinada insatisfação. Quando alguém reproduz a foto sem os créditos.

“Sempre fui vigilante com o crédito, mas nunca recorri à Justiça por conta disto, pois geralmente o próprio jornal errava os créditos dos próprios profissionais. Chato é você ver uma foto autoral com o crédito ‘Banco de Imagem’. Aí é doloroso”, reconhece.

Bateria nova no dia do clique

E se alguém pensa que a imagem não tem mais curiosidade está enganado. Araújo revela que no dia da aparição de Itamar na Sapucaí estava com uma bateria nova. E ele “mandou bala” na hora dos cliques. Em princípio, ainda não tinha como saber o peso que foto iria causar. Lembremo-nos que em 1994 não existia câmera digital e a internet sequer existir no Brasil. Mas o fotógrafo tinha a certeza que o material que tinha em mãos era bem valioso.

“Todo fotojornalista tem uma noção do instante decisivo, do flagrante, pois estamos falando de câmeras analógicas, que utilizavam películas, mais conhecidas como filmes fotográficos. E na realidade não enxergarmos o instante da captação da imagem, pois o espelho se fecha no ato fotográfico, mas tinha noção que estava colhendo bons instantâneos, pois fiz tudo calculado. Enfim, sabia que tinha um bom material nas mãos”, reconhece.

Ameaça de processo, foto de presente e dias atuais

Lilian Ramos tinha desfilado à época pela Beija-Flor e teve algum sucesso pela semelhança com a cantora paraense Fafá de Belém. Com 29 anos de idade em 1994, ela ganhou fama imediata e mudou-se para a Itália, onde mora até hoje. Embora tenha ameaçado processar os fotógrafos, Lilian não ingressou na Justiça contra ninguém.

Já a respeito da foto em si, pouco antes de sair do mandato de presidente, Itamar fez um pedido especial a Araújo. Pediu a imagem como recordação pessoal. O fotógrafo não só atendeu como revelou em tamanho personalizado, 30 x 40, e com direito à dedicatória.

Sobre a trajetória profissional de Paulo Araújo, ela só cresceu a partir da imagem.

“Depois desta foto, pude fazer muitas coisas em minha vida profissional, pois abriu leque de oportunidades a minha frente. Trabalhei com o Jornalista Elcio Braga produzindo vídeos, editando, apresentado programa para a TV O Dia, fui coordenador de fotografia. Criei um coletivo de jornalistas, a Cooperativa Solidário, trabalhei como Analista de Comunicação numa grande empresa de Assessoria Imprensa, e estou dando aulas de fotografia e YouTube para alunos da Rede Estadual, em Nova Iguaçu,  na Baixada Fluminense, pelo Senai (FIRJAN), que tem sido uma experiência ímpar”, comenta.

Araújo também explicar em quais outros projetos atua e até fala da elaboração de um documentário:

“Estou trabalhando também com uns projeto, com ‘Os Caçadores de Tempestades’, com o Sérgio Bloomfield, ministrando cursos de fotografia científica – meteorológica, desenvolvendo um portal de notícias voltado para a região da Barra da Tijuca, o Barra Newsletter, e por fim trabalhando com um documentário sobre o meu pai, o Fotojornalista Paulo Moreira. Se Deus quiser vai ficar bom”, responde em tom de agradecimento pelo que fez na carreira.

 

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1 Comentário

  1. Paulo Araújo é um exemplo de profissional. Orgulho de ter trabalhado por mais de duas décadas com essa fera no Jornal O DIA. Fizemos grandes matérias, algumas arriscadas, nas coberturas policiais, outras inusitadas, como o salvamento de um cavalo num bueiro. Era uma época em que o DIA vendia 1,2 milhão de jornais por dia, só em bancas, sem contar com assinaturas. Paulo Araújo é, acima de tudo, um grande ser humano. Um abraço.

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