Crescimento de cirurgias e diagnóstico tardio contra escoliose gera cada vez mais necessidade de falar sobre o assunto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a escoliose acomete cerca de 6 milhões de brasileiros, e os primeiros sintomas surgem ainda na infância, se agravando rapidamente na adolescência – naqueles momentos conhecidos como “estirão de crescimento”. A doença é popularmente conhecida como coluna em S ou em C e existem dois grandes tipos de escolioses: as posturais e as estruturais (de origem genética). Especialistas alertam sobre a importância do diagnóstico precoce para evitar a necessidade de cirurgia, uma vez que, em casos graves, a patologia pode ser extremamente dolorosa, chegando a limitar movimentos e até ao comprometimento do pulmão e coração.
A Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA) corresponde a cerca de 80% das escolioses e pode evoluir rapidamente. “O principal aliado do tratamento para a EIA, portanto, é o diagnóstico precoce, uma vez que, quando o problema é detectado antes da curvatura da coluna atingir 40º, é possível estabilizar a deformidade por meio de tratamento conservador, incluindo o uso de coletes, exercícios e fisioterapia especializada”, explica o neurocirurgião Orlando Maia.
Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram um crescimento na busca por cirurgias para escoliose em decorrência da demora em identificar e cuidar da doença. O tratamento cirúrgico, que deveria se ater a menos de 1% dos casos, acaba sendo a principal alternativa, uma vez que o diagnóstico de escoliose idiopática do adolescente é realizado muito tardiamente no Brasil, quando a deformidade na coluna já se encontra em um grau avançado, exigindo tratamentos mais invasivos.
O diagnóstico preciso é feito por um especialista, mas uma simples avaliação que pode ser feita pelos responsáveis, ou por um educador físico, já é capaz de se identificar alguma deformidade. Se chama teste de Adams, o exercício em que é pedido que a criança ou adolescente curve o tronco para frente com os pés e mãos unidos, sem dobrar os joelhos, assim a escoliose se torna mais aparente. “Além dos comprometimentos de saúde, a escoliose avançada causa um impacto psicológico muito grande no indivíduo, pois afeta a autoestima, os processos de sociabilidade, condições de estudo e trabalho, especialmente a longo prazo”, destaca Orlando Maia.
A cirurgia é indicada para casos em que a coluna apresenta uma curvatura acima de 40°, e o ideal é que a doença seja diagnosticada e estabilizada ainda nos 10º de curvatura, quando o tratamento conservador ainda é eficaz. Porém, dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH SUS), mostram que o número de cirurgias de escoliose vêm crescendo. Em 2012, foram realizadas 528 cirurgias de escoliose e, em 2016, esse número subiu para 773: um aumento de quase 50% em quatro anos. “Muitos casos são possíveis de tratar com coletes ortopédicos modernos, fisioterapia especializada e tratamento conservador, mas quando a doença já evoluiu muito, é indicada a cirurgia”, acrescenta Orlando Maia.
Os casos de escoliose neuromuscular são mais graves e complexos, pois têm natureza neurológica ou muscular, nesses casos a cirurgia é indicada até mesmo quando o grau da escoliose é menor, pois a deformidade tem uma progressão mais rápida. “Nessas situações a escoliose é uma consequência de uma doença neurológica inicial e que precisa ser analisada e acompanhada. Cada caso é único e, há casos em que a cirurgia pode melhorar muito a qualidade de vida do paciente”, esclarece Maia.
O médico acrescenta que a cirurgia tem as vantagens de estabilizar o desvio da coluna;impedir que a curvatura se desenvolva; proporcionar o equilíbrio da coluna; restaura a capacidade de se sentar e ter uma melhor mobilidade e preserva a função dos pulmões impedindo que eles sejam comprimidos e que isso cause outras complicações como a pneumonia. “No tratamento cirúrgico, é feito um enxerto ósseo nas áreras comprimidas e, portanto, o grau de complexidade da cirurgia também depende do tempo de diagnóstico e, consequentemente, do grau de evolução da curvatura da coluna”, explica o neurocirurgião, acrescentando que a recuperação pode ser demorada e delicada, uma vez que as células ósseas enxertadas podem levar de 6 meses a um ano para se solidificarem.
Durante os primeiros dias, após a cirurgia, o paciente vai utilizar medicações, como analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos. Após a alta, a fisioterapia se torna forte aliada para recuperação do paciente que foi submetido à cirurgia de escoliose. O paciente geralmente leva até 4 semanas para voltar às suas atividades. Em até um ano as pessoas podem voltar a fazer exercícios e alguns tipos de esportes, porém os resultados variam entre os pacientes.No caso de crianças, elas ficarão afastadas da escola por pelo menos 4 semanas. “A cirurgia de escoliose tem uma porcentagem de risco baixa, entre 2% e 11%, e na maioria das vezes a recuperação é tranquila e o retorno é muito satisfatório”, finaliza Orlando.
A má formação nem sempre causa dor, mas sem o tratamento ela acaba progredindo e afetando outras partes como ombros, pescoço, pernas e até o pulmão pois a coluna acaba comprimindo o órgão. Alguns dos sinais de alerta para ir a um especialista são: desigualdade nos ombros, desnivelamento da cintura ou assimetria das costelas ao se inclinar para frente. O diagnóstico precoce proporciona um início mais rápido do tratamento, a diminuição dos efeitos da escoliose, e a melhora da qualidade de vida do paciente.