Empresa de curso naval aplica golpe em Niterói. A MB Martins tem sede na Ilha da Conceição, na Rua Mário Trilha, 271. – Foto: Reprodução
Dezenas de pessoas se inscreveram em um curso de formação de aquaviário de moço de convés na cidade de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. O curso, credenciado pela Marinha do Brasil, prometia preparar os participantes para trabalharem em navios da Marinha Mercante. No entanto, mesmo tendo investido mais de R$ 10 mil cada pessoa, o curso jamais aconteceu. As informações foram apuradas e divulgados no jornalístico matinal “Bom dia, Rio”, da TV Globo, na segunda-feira (31/07).
“Eu tive a indicação de pessoas que fizeram o curso há anos, antes de 2018. O curso andava. Em 2021, eu consegui contato com eles e me foi cobrado o valor de R$ 10 mil para fazer a inscrição. Eu tive que sair do emprego. Peguei minha rescisão, vendi um veículo para poder fazer a inscrição e eu fiz parte desse pagamento como transferência. Outra parte do valor foi em mãos. E aí me deram um recibo. Nem contrato houve”, disse o motorista de aplicativo Charles André.
Os inscritos tinham a expectativa de obter um emprego na área, com salários que variariam de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Segundo a Marinha do Brasil, o cargo de aquaviario de moço de convés é responsável pela manutenção e conservação do material de convés, operação de equipamentos e participação em diversos serviços na embarcação. No entanto, para conseguir um emprego nessa área é necessário um certificado, levando os alunos a procurarem a empresa MB Martins.
Empresa de curso naval aplica golpe em Niterói. Perfil no Facebook ostenta os 10 anos de história do Curso MB Martins,
“Você vê que é uma repetição, o padrão é o mesmo. O valor é mais ou menos o mesmo. E essa questão de que o curso vai se iniciar, a promessa que é aquela mesma, mas nunca é concretizada. É essa repetição”, afirmou a advogada Nathália Garcia, que representa 30 alunos.
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“Foi isso que deu segurança para os alunos fazerem a inscrição, pagarem o curso por causa desse credenciamento”, disse a advogada.
A MB Martins, com sede na Ilha da Conceição em Niterói, afirma nas redes sociais ter mais de dez anos de experiência na área de cursos de ensino profissional marítimo. No entanto, dezenas de alunos afirmam terem pagado pelo curso, mas nunca terem tido uma única aula. Os estudantes afirmam que tentaram entrar em contato com a empresa diversas vezes, mas as conversas sempre foram com um dos sócios, Manuel Marcelino dos Santos.
Perfil no Instagram da empresa de curso naval que aplicou golpe em Niterói
“A imprensa indo, vai fechar o curso. Se fechar o curso, não tem como fazer mais cursos e ter rotatividade de alunos para fazer o estorno. Que o pessoal dê aí mais uma semana e a gente marca uma reunião. Sem ser esse sábado, o outro. Só com o pessoal do estorno para eu atualizar e fazer uns estornos para a gente solucionar o problema e eu consiga fazer o estorno de quem deve ser feito. Porque, se fizer assim, vai fechar o curso. Já era”, afirmou Manuel Marcelo.
Link na bio do Instagram, que redireciona para o WhatsApp está expirado.
Promessa de devolver o dinheiro
Um dos sócios da empresa prometeu devolver o dinheiro aos alunos, porém afirmou estar “descapitalizado” no momento. Além disso, os estudantes alegam que receberam um áudio do sócio pedindo para que não falassem com a imprensa sobre o caso.
Quadro societário da empresa e capital social constante na base de dados da Receita Federal.
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Diante da situação, dezenas de estudantes registraram o ocorrido em delegacias de Niterói, que estão investigando o caso como estelionato. A Polícia Civil está convocando os envolvidos para prestar depoimento e iniciou diligências para obter mais informações sobre os fatos. Também há registros de ocorrência na Polícia Civil da Bahia, pois alguns alunos moram lá e se deslocaram até o Rio de Janeiro para fazer o curso.
Marinha do Brasil
Em resposta às denúncias, a Marinha do Brasil informou à TV Globo que tomou conhecimento do caso por meio de uma denúncia feita à ouvidoria. A partir disso, foi instaurado um procedimento administrativo pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha para apurar o caso. A Marinha também realizou uma fiscalização na MB Martins no dia 29 de maio deste ano.
Patrick Roosevelt, auxiliar de despachante e um dos alunos lesados, está em busca de ser ressarcido pelo prejuízo causado pela empresa.
“Já tem quase cinco meses que pedi o estorno de volta e nada. E igual a mim tem outras pessoas. Só fala que vai pagar, que está descapitalizado, tenho que colocar mais alunos. Promessas e promessas e nada. Da mesma forma que prometia o curso, promete reembolso. Já mandei mensagem para a Marinha do Brasil, fiz uma queixa. Responderam que estavam averiguando e não deram mais resposta. E faz dois meses. Já entrei com processo administrativo com advogado e vamos ver o que vai acontecer”, disse Patrick.
