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Editorial: Novo Mercado Municipal ou Shopping Center

Após diversos adiamentos, finalmente, o Novo Mercado Municipal de Niterói será inaugurado nesta quinta-feira (27). Entretanto, ainda conta com uma preocupante taxa de 20% de lojas desocupadas, mesmo com a oferta de 50% de desconto no primeiro ano de aluguel e uma suposta “isenção” da cobrança de luvas, prática ilegal em contratos imobiliários com prazo de duração de 5 anos ou menos.

O espaço, que ficou abandonado por anos, agora reabre prometendo requinte e sofisticação. Porém, em contraste com essa visão, temos a favela do Sabão como vizinha e usuários de drogas nas calçadas próximas. Além disso, quase não há circulação de pessoas a pé no local, exceto pelos habitantes da comunidade mencionada. Certamente, a bem da verdade, eles não possuem o perfil econômico adequado para os negócios que vão funcionar ali. Pelo menos, para os badalados como âncoras do “Shopping”.

Apesar de todas essas observações, que qualquer pessoa com bom-senso poderia realizar, a inauguração acontecerá em grande estilo. A bateria da Unidos do Viradouro animará o evento, além do desfile de carros antigos e atores vestidos a caráter. A ideia é ressaltar a união do passado com o presente nesse espaço turístico e gastronômico, onde se encontram hortifrútis, sorveterias, lojas de especiarias, bares e restaurantes.

Mercado ou Shopping Center

No entanto, levantamos a questão: qual é, de fato, o conceito desse “mercado”? Olhando para os anúncios e para a aparência do empreendimento, fica evidente que sua feição e conceito estão mais associados a um shopping. Em nosso olhar editorial, entendemos que a real necessidade da população de Niterói era ter um local que servisse como ponto de encontro para empresários, comerciantes e consumidores de diversas faixas de renda, onde se pudesse encontrar frutas, legumes, verduras e produtos artesanais. Mas ao invés disso, o mercado aparece com um caráter elitizado e de grife.

Rua da Praia

A parcela da população, que está entusiasmada com o novo empreendimento, logo perceberá que a Rua da Praia – Avenida Visconde do Rio Branco, com seus comércios populares, é que merecia ser o verdadeiro “mercado municipal de Niterói”. Criaram um point, é verdade. Mas quem será verdadeiramente beneficiado com isso? Só o tempo dirá, e esperamos estar enganados, principalmente em relação ao detrimento do povo, por quem trabalhamos e para quem geramos conteúdo.

Os mercados municipais têm origem nas feiras e na necessidade de regulamentar essas atividades. Sua função principal é o abastecimento, mas eles possuem uma importância histórica, econômica, política, cultural e social. Além disso, refletem o cotidiano de um lugar, apesar de estarem sim sujeitos às transformações vivenciadas pela sociedade.

Reconhecemos que há potencialidades nesses arranjos socioprodutivos de base territorial, que podem levar a um desenvolvimento territorial sustentável. No entanto, questionamos onde está o encontro entre o rural e o urbano nesse mercado, que insiste em se autopromover numa direção, que foge completamente deste conceito.

Tomara que dê certo

Esperamos, também, que a prefeitura de Niterói não se arrependa do endosso dado a essa parceria público-privada. Para que outras denúncias, tais quais as recentes, que recaem sobre a Emusa, não tenham a relação do poder público com os agentes privados do empreendimento postos em Xeque.

 

Angélica Carvalho

Editora-Chefe

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