ALMA NUA, é uma composição de Vander Lee. Por seu notável trabalho musical, sei que muitos já o conhecem. Contudo, várias pessoas cantam suas canções, desconhecendo sua autoria. Confesso, de antemão, que durante alguns anos, fiz isso.
Em 2006, Vander Lee gravou o CD e DVD “Pensei que fosse o Céu”, no lotado Teatro do Palácio das Artes de Belo Horizonte, em um show emocionante. Este CD conquistou o Prêmio TIM de Melhor Disco de Canção Popular.
Há alguns anos, cerca de 30, na minha adolescência eu tinha uma música, e não fazia ideia quem o autor. Mas algo tocava minha alma, assim como só a música é capaz de tocar. Principalmente, porque a música permanece para sempre nas nossas memorias.
Gaveta divina
Em nosso cérebro, existe, para a MÚSICA, uma gaveta especial, cuja chave não nos pertence, mas somente ao CRIADOR. Esta gaveta secreta fica localizada numa região que abriga as memórias musicais. Local este o menos danificado por doenças que destroem as memorias da nossa existência: quem somos, e a que família pertencemos.
Ainda sem saber bem por que, a música se trata de uma das poucas armas que nós, terapeutas, temos para fazer frente à progressão da doença de Alzheimer. Apesar da devastação provocada no cérebro e, especialmente, roubando as nossas memórias, uma grande parte dos pacientes conservam suas lembranças musicais, mesmo nas fases mais tardias.
Agora, um estudo mostra as possíveis causas desse fenômeno: a música fica armazenada em áreas do cérebro diferentes daquelas do resto das memórias.
“As recordações mais duradouras são aquelas ligadas a uma experiência emocional intensa e a música tem uma relação estreita com as emoções; a emoção é uma porta de entrada para lembrar”, diz um estudo da Fundação Alzheimer Espanha.
Musicalidade terapêutica
Desse modo, o que hoje a ciência comprova, quem trabalha com a Terapia Sistêmica, já entendia dos segredos dessa gaveta sem chave, que todos temos.
Eu tenho uma ligação com a música, que vem de muito longe. Mesmo tendo a honra de fazer parte de uma família com muitos músicos e artesões de instrumentos musicais, não toco nenhum instrumento. Entretanto, como já confessei antes, tenho a terapia de escrever como parte de quem sou. Portanto, escrever letras tornou-se um hábito.
Reencontro
Quando reencontrei Vander Lee, a minha música da adolescência já era conhecida de muitos, ONDE DEUS POSSA ME ENCONTRAR. Isso aconteceu em 2021. Então, me desligo dos inúmeros interpretes que trouxeram a música dele até minha vida, como Gal Costa, Alcione, Maria Bethânia, Fábio Jr., Fagner, Elza Soares, Rita Benneditto (ou Ribeiro) Emilinha Borba, Leila Pinheiro, Luiza Possi, Margareth Menezes, César Menotti & Fabiano, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Mariene de Castro, entre outros…
Esse Vander Lee já havia alcançado o sucesso. Em seu, reportório já haviam lindas canções, como, por exemplo, “Iluminado”, “Românticos”, “Contra o Tempo”, “Esperando aviões”, “A vida não são flores”.
Então, saí em busca de um show que me permitisse conhecer aquele homem franzino, meio menino ainda, mas com uma voz melosa e aveludada. Deu sorriso leve e solto… Tal encontro aconteceu por meio de uma entrevista do saudoso Jô Soares.
Infelizmente, não tive tempo de assistir naquele momento, porque na mesma pesquisa da internet que eu o encontrei, EU O PERDI.
Por fim, neste 15 de janeiro, Dia do Compositor, eu deixo minha singela reverencia a quem muito me ensinou através de seus poemas cantados. Lamento muito não ter tido tempo de conhecê-lo. Ele “viveu menino e morreu poeta” no dia 05 de agosto de 2016, aos 50 anos de idade.
Alma Nua
Ó, Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra Tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me veste
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meu filho
De ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio deus
Viver menino, morrer poeta
DISCOGRAFIA & DVD – Vander Lee • Oficial
“Existem pessoas tão conectadas com a sua ancestralidade que a mensagem das suas obras reverbera por toda a eternidade. Raízes e Constelações” @ritacarvalhoterapeuta
https://www.instagram.com/ritacarvalhoterapeuta/