Uma locutora que se deslocava para o trabalho passou por algo nada agradável no dia 7 de março, véspera do Dia internacional da Mulher. Sílvia Damiana da Silva é locutora de comércio freelancer, ou seja, trabalha por diária. E na data em questão sofreu agressões de quem menos esperava: uma agente mulher da Guarda Municipal do Rio.
Em conversa com a Folha do Leste, Sílvia na Zona Oeste do Rio, explica que gravava um vídeo dentro do BRT para avisar ao patrão que chegaria com atraso. O motivo é a fiscalização que os agentes da Guarda Municipal fazem para pegar quem entrou no veículo sem pagar a passagem. Como o procedimento é feito com o veículo parado, a locutora resolveu fazer o registro de vídeo como prova de que o atraso não seria por culpa dela. Os vídeos está abaixo.
Foi a partir disso que ela explica ter surgido o problema. Sílvia disse que um agente homem da guarda, que estava acompanhado de um policial militar e outra guarda mulher, viu o momento da gravação e passou a considerá-la como suspeita. O vídeo abaixo registra o início da abordagem.
Voz de prisão no ônibus
Após um guarda municipal homem chegar até Sílvia para abordá-la, ela que os responsáveis pela segurança tentavam a todo o momento tomar o celular.
“O guarda tentou pegar meu celular e eu recusar dar porque não fiz nada de errado. Aí me jogaram para fora do ônibus e me deram dois mata-leões. Nisso eu caí do lado de fora. Só que eu bati o joelho no chão, que é onde eu tenho placas e parafusos por causa de um cirurgia. Eu tentava me levantar e não conseguia. Nisso eu desmaiei. Quando acordei, ainda sem forças, fui até o carro da Guarda Municipal bem devagar e, confesso, não me lembrar se entrei no veículo ou se me jogaram lá dentro por estar muito tonta na ocasião”, detalha.
Sílvia afirma que dentro do carro a agente tentou derrubá-la mais uma vez, mas a locutora reagiu e alega que apertou o pescoço da guarda para tentar se defender.
“Recebi a voz de prisão dentro do ônibus. Nisso, quase dentro do carro, ela tentou me enforcar e eu disse que não deixaria ela fazer isso comigo novamente. Daí eu apertei o pescoço da agente. Fiz isso porque em nenhum momento recusei a revista e nem mesmo a ser presa, ainda que eu soubesse que acontecia uma violação aos meus direitos”, afirmou.
BRT afirma que passageira recusou consulta no cartão. locutora nega
A Folha do Leste procurou a Guarda Municipal, que informou ter havido na ocasião uma recusa por parte de Sílvia em apresentar o vale-transporte para checagem da passagem. Entretanto, Sílvia contesta tal versão.
“O BRT Seguro informa que em uma ação preventiva de patrulhamento embarcado dentro dos ônibus do BRT na manhã do último dia 07 em que foi realizada a checagem do pagamento de passagem e revista de passageiros aleatoriamente, uma passageira exigiu que uma agente mulher fizesse a abordagem. Mesmo com a chegada da agente, a passageira seguiu em resistência, se negando a fornecer documento para checagem, além da revista”, alega o BRT em um trecho da nota.
Em outra parte da resposta, a empresa afirma que “Com a reiterada negativa, a agente anunciou que teria que conduzi-la para a delegacia. A passageira se agarrou nos ferros do ônibus para não sair e foi necessário o uso de força para garantir o comando da agente do BRT Seguro. Fora do ônibus a passageira se jogou no chão diversas vezes. No momento da confusão a passageira feriu a agente e foi preciso imobilizar a mulher para que outros passageiros também não fossem atingidos”, acrescenta o consórcio, que também informou que os agentes fizeram um boletim de ocorrência na 42ª DP, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, por desacato a autoridade.
Sílvia rebate essa versão e enfatiza que recusou em entregar o celular e que não fizeram a conferência do cartão de passagem.
“Ninguém veio conferir se eu tinha deixado de pagar a passagem. Mas o policial já veio me perguntando por que eu filmava. A partir disso, esse mesmo policial disse que eu era suspeita por ter me recusado a entregar o celular”, rebate.
Lesão tem causado impossibilidade de trabalhar
Além de afirmar que sentiu-se humilhada por toda a situação, Sílvia se emociona ao explicar que desde então não consegue trabalhar.
“Sou locutora freelancer. Não tenho vínculo empregatício. Então, preciso sempre fazer alguma ação em loja ou supermercado para pagar minhas contas com o preço do que recebo das diárias. Só que desde essa situação, sinto muitas dores nos joelhos. Tenho placas nas duas pernas e parafusos no joelho. Isso significa que não consigo ficar muitas horas em pé para fazer locução de loja”, contou Sílvia em tom bastante emocionado.
A locutora afirma que também fez um registro de ocorrência e que vai lutar pela inocência.
“Eu quero ter acesso às imagens de dentro do veículo para provar minha inocência. Eu só quero Justiça!'”, salientou.