
Foto: Thais Magalhães – CBF
O filósofo Darcy Ribeiro disse, um dia, que perdeu várias das batalhas que travou durante a vida. Porém, num de seus muitos rasgos de genialidade, afirmou que detestaria estar no lugar de quem vencera aquelas lutas. E por uma razão muito simples: Darcy sempre esteve ao lado da educação, do povo, do desenvolvimento – e se perdeu, quem perdeu foi o Brasil, fomos nós. Realmente, errados eram os outros. E ponto final.
O mesmo deve estar sentindo, agora, o treinador Fernando Diniz, recém-demitido da interinidade como responsável pela seleção brasileira de futebol.
Logo ele, Diniz, que conquistou o mais importante título para o futebol brasileiro na temporada passada (a Libertadores com o Fluminense) e foi elogiado, por todo o “mundo do futebol” internacional após a participação (derrotada) do mesmo Fluminense no Mundial de Clubes realizado na Arábia Saudita, em dezembro.
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A demissão de Diniz foi um dos primeiros atos do reconduzido presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues (não dá para dizer que tenha sido o primeiro, porque ele também inscreveu a seleção brasileira para o torneio pré-olímpico). Sorte de Diniz, não é mesmo? Afinal, quem quer continuar à frente de um time que no último ano foi praticamente esquecido, tendo sido comandado apenas por treinadores interinos? E isso porque, desde dezembro de 2022, sabia-se que Tite estava deixando o comando da seleção.
Por falar em Tite… Vários críticos, daqueles que criticam por criticar, vão buscar em estatísticas justificativas para um “já vai tarde” para Fernando Diniz. Lembram que Tite dirigiu o Brasil em 81 partidas, perdendo apenas seis. Esquecem de dizer, porém, que duas dessas derrotas tiraram o Brasil nas quartas-de-final de Copas do Mundo. E a quantidade de vitórias tem muito ligação com a fragilidade dos rivais do que propriamente com a qualidade do time montado pelo atual treinador do Flamengo.
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Dizem que a opção da CBF é Dorival Junior, treinador do São Paulo. A seu favor, um afago na imprensa paulista e o fato de ele ter conquistado o título da Copa do Brasil. E deixar o barco no meio do caminho não seria novidade para Dorival – ou alguém aí esqueceu que, em 2022, ele trocou o Vozão pelo Flamengo, em pleno Brasileiro e com contrato em vigor? Claro que ficou sem muita moral para protestar quando, seis meses depois, o rubro-negro o demitiu, mesmo após a conquista de uma Copa do Brasil e da Libertadores.
Voltando à comparação com a fala de Darcy Ribeiro, neste momento Fernando Diniz deve estar sentindo um tremendo alívio. E certo de que ele sim, Diniz, está no lado certo. Não se sabe se terá alguma compensação financeira (em tese, seu contrato de interinidade era até julho), mas poderá dedicar-se integralmente a seu projeto tricolor – sem se preocupar se o italiano Ancelloti virá ou não (a CBF garantia que viria, ele renovou com o Real Madrid). Que a CBF faça bom proveito do seu novo treinador, seja ele quem for.
Diniz foi demitido, sim. E daí?