
Torcida do Fluminense em jogo contra o Borussia Dortmund pela Copa do Mundo de Clubes | Marcelo Gonçalves/ Fluminense FC
NOVA IORQUE – “Teatro… Teatro… Teatro… Torcida de teatro…”
Que torcedor, raiz, já não cantou essa música no Maracanã ao ver aquele modinha sentadinho, aplaudindo elegante e educadamente, um ataque do time rival quando seu time precisa de toda a força e incentivo para ganhar a partida?
Mais… Quantas vezes você, torcedor, se irritou ao ver aquele casalzinho que está a seu lado mexendo no celular, ignorando o esforço feito em campo para se conseguir a vitória, mudar de comportamento quando a tal “cam fan” os focaliza e exibe para todo o estádio, transformando-os em subcelebridades por oito, nove segundos?
As duas situações são cada vez mais comuns nas arenas que dominam o futebol mundial. Há quem se queixe, corretamente, que o futebol está perdendo sua essência. Quem há de negar? Nesta Copa do Mundo de Clubes, prévia da Copa de seleções que acontecerá em 2026, mais e mais se percebe que o jogo em si passa a ser apenas um detalhe.
Nos gigantescos estádios que recebem os jogos nos Estados Unidos, os andares mais altos já foram praticamente todos fechados nesta primeira fase. Quem havia comprado ingressos para aqueles setores (bem mais baratos), recebeu upgrade, ou, em bom português, comprou acém e recebeu filé – só para que as imagens na tevê não ficassem horríveis.
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E mesmo com essa operação “enche tela”, ainda se podem observar influenciadores que estão mais preocupados em mostrar-se do que em ver o jogo. Sobre o que falarão depois dos 90 minutos? Certamente não sobre o jogo, que não viram. Mas suas vaidades estarão plenamente satisfeitas e suas redes sociais repletas de “momentos instagramáveis”.
Tudo soa tão falso que até a musiquinha citada na abertura deste texto parece perder sentido. Não é a torcida que é de teatro. O público é que se comporta como estivesse representando papéis numa grande peça, na qual o palco deixou de ser o gramado e passou a ser a arquibancada, numa total inversão de situações.
Os torcedores raiz, aqueles que um dia conheceram a geral do Maracanã (nos tempos em que um clássico levava facilmente mais de 100 mil pessoas ao estádio), ficam sem saber se são eles os errados. Fica difícil “ensinar a torcer” quando a maior parte das pessoas acha que o importante é aparecer, mostrar-se, ser mais do que os verdadeiros artistas.
E, nesta Copa do Mundo, isso é o que mais está acontecendo. Observem, mesmo nas transmissões da televisão. E se estiver no estádio, não avise ao vizinho que a câmera o está focalizando. Evite a expansão da cultura da “torcida de teatro”. Pelo bem do futebol, essa paixão que mobiliza milhões por todo o planeta.