O dia sequer havia amanhecido nesta quarta-feira (29) quando as Polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro, juntamente com a Polícia Civil do Espirito Santo entraram em comunidades do Complexo da Maré. Eles contam com o apoio do Comando de Operação Especiais da Polícia Civil (COE), bem como do BOPE, Batalhão de Choque e outras unidades da PM. A polícia já efetuou duas prisões desde então.
O medo toma conta de quem mora nas comunidades, principalmente pelo uso de armamento pesado pelos bandidos. Na tentativa de dificultar a progressão dos policiais nas vias, os criminosos colocaram fogo em barricadas. A PM está entrando nas comunidades com o uso de oito carros blindados. Em resumo, trata-se de mais um dia de terror para quem vive nesses locais.
A operação, batizada de Conexão Perdida, busca cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra bandidos que estão dentro da comunidade. Os alvos seriam traficantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). Em resposta a presença policial, traficantes reagem com tiros. Houve reação das forças policiais.
Inteligência
A participação da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo acontece porque o setor de inteligência da subsecretaria de Segurança Pública do estado apurou a existência de um esquema de lavagem de dinheiro na comunidade. Principalmente, de dinheiro adquirido através de extorsão para o fornecimento de serviços concedidos de natureza pública, internet, água, gás e energia.
Os criminosos chegaram a movimentar, apenas em 2024, cerca de R$ 40 milhões. Eles cobravam “taxas” de funcionários de concessionárias de serviços públicos, no valor de R$ 10 mil por mês, para atuar dentro da comunidade. Em outras palavras, cometiam crime de extorsão. Além disso, eles chegaram a abrir uma agência bancária ilegal. Entretanto, eles não só usavam essa “instituição financeira irregular” para depositar o dinheiro arrecadado com as extorsões, como também ofereciam empréstimos à moradores da comunidade.
Conforme informações apuradas junto à comunidade, os confrontos estão muito intensos na Baixa do Sapateiro assim como na Vila do João. Essas duas comunidades ficam muito próximas à Linha Amarela, que, a princípio, ainda não teve interdições.
Balanço Final
Segundo o Governo do Estado do Rio de Janeiro, a operação terminou com dez criminosos presos e 17 contas bancárias ligadas à lavagem de dinheiro, bloqueadas. A ação Conexão Perdida mobilizou cerca de 300 agentes.
A operação também levou à prisão em flagrante de quatro pessoas: um por roubo de carga, outro por receptação de uma moto roubada e dois por porte de fuzil. Além disso, os policiais apreenderam quatro fuzis, duas pistolas, um simulacro de pistola, carregadores, munições, equipamentos táticos militares e drogas.
Na ação, houve a demolição de 30 barricadas, totalizando oito toneladas de material, bem como a recuperação de 20 veículos. Todos os 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
“A operação foi resultado de uma ação de inteligência, e representou mais um passo decisivo para enfraquecer financeiramente as facções criminosas que exploram e intimidam a população. Seguiremos firmes no enfrentamento ao tráfico e à lavagem de dinheiro, destruindo os braços do crime organizado para garantir a segurança e liberdade da população e dos empreendedores”, declarou o governador Cláudio Castro.
Entre os presos, está uma mulher apontada como uma das responsáveis por lavar o dinheiro da organização que extorquia funcionários de empresas de internet, água e gás. Essas empresas só podiam operar nas áreas dominadas pela facção mediante pagamento de mensalidades de até R$ 10 mil. Em apenas cinco meses, a investigada movimentou R$ 27 milhões por meio de uma empresa de fachada.
“Essa ação é emblemática porque revela a grande movimentação de dinheiro dentro das comunidades. Na Maré, criminosos vindos do Espírito Santo encontravam um ambiente favorável para continuar suas atividades ilícitas e comandar suas organizações criminosas à distância. O nosso foco é asfixiar o sistema financeiro dessas organizações criminosas e mostrar que não há lugar em que o Estado não vá entrar – afirmou o secretário de Segurança Pública” Victor dos Santos.
As investigações começaram em novembro de 2024, após a prisão de Luan Gomes de Faria, em Vitória. Ele e o irmão, Bruno Gomes de Faria, conhecidos como “irmãos Vera”, são apontados como chefes do TCP no Espírito Santo.