Na noite desta segunda-feira (11), consumou-se novamente no bairro Rio Comprido, no Rio de Janeiro, uma cena que moradores da Rua Barão de Sertório tentam, quase em vão, usar como alerta para a crescente insegurança que impera no local. O episódio do dia (ou melhor, da noite): troca de tiros entre dois assaltantes e um policial militar à paisana. Como resultado da violência, um inocente baleado, dois vagabundos ainda soltos e o medo agravado por mais um episódio da violência, que merece reação, enfrentamento e combate.
A vítima inocente se trata de um rapaz de 21 anos — um trabalhador que apenas ajudava a descarregar um armário para um novo vizinho que chega ao bairro.
Ao contrário do meio-fio pintado e da manutenção que ilustra o alto IPTU pago pela população, a rua, historicamente residencial, está sendo lentamente tomada pelo crime. O orgulho de quem ali construiu seu lar vem sendo substituído pelo medo diário. O valor dos imóveis despenca na mesma velocidade em que aumenta a certeza de que “chegar em casa” não significa segurança. Nem mesmo dentro do lar a paz está garantida.
No mais recente episódio de violência, o PM, morador da rua, chegava em casa quando abordado pelos criminosos em uma moto. Ao perceber o assalto, reagiu e disparou várias vezes. Um dos bandidos abandonou o veículo e correu para se esconder entre os carros. Mais tiros foram disparados — e um deles acertou a vítima que trabalhava na mudança. O jovem foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital Souza Aguiar. Os assaltantes fugiram.
Conforme relato de uma moradora, além dos assaltos frequentes, a rua é rota de fuga de bandidos.
“Toda vez que chegamos de noite, a gente fica com medo de saltar do carro. São muitos motoqueiros suspeitos que passam correndo e se confundem, infelizmente, com os entregadores” salientou Mônica, de 28.
Aumento da violência após sumiço da PM
Moradores afirmam que a violência aumentou após o fim das rondas noturnas da Polícia Militar. Antes, uma viatura ficava no local todas as noites. Desde a troca no comando do 4º BPM, no início do ano, o patrulhamento desapareceu.
“Semana passada teve um assalto aqui na rua. Hoje, novamente tivemos mais um registro e troca de tiros – revelou Luiz, de 65 anos, um dos moradores, que reside há mais de 30 anos na localidade”.
Outro tormento, provando o ambiente hostil da localidade, são os inúmeros usuários de crack que rondam e ficam se drogando entre os carros e, principalmente, em um dos portões do Hospital da Aeronáutica, na parte central da rua, em frente a Conselheiro Barros.
“Tem dia que tem mais de 10 drogados no portão e se escondendo entre os carros. Eles defecam e deixam a rua imunda com ponta de crack e droga. Nosso medo é diário. Não temos nem como passear com nossos pets. Outro dia, conseguiram pegar uma faca de um deles”, relatou Antônia, uma das vizinhas.
Dona Fátima, de 52 anos, reclama na mesma intensidade.
“Assaltos aqui são frequentes. Até mesmo de dia. Estamos com medo e não podemos mais transitar em nenhum momento” – completou.
O novo morador, que chegava à rua com seus pertences, já pensa em ir embora.
“Acabei de chegar e já penso em mudar”, confessou.
Moradores estão unidos desde o ano passado para reclamar
A ausência de ações concretas relatada pelos moradores está lá, todos os dias, visível. Iluminação pública insuficiente, assim como abandono de áreas estratégicas. Como resultado, nenhuma abordagem eficaz para lidar com a população de rua que se mistura a criminosos.

Tiroteio no Rio Comprido deixa inocente ferido | ₢ Folha do Leste – Todos os Direitos Reservados
Em contrapartida, há carros arrombados, van de transporte de funcionários levada sob ameaça… A insegurança chega a ocorrência de casos de invasões de imóveis.
Para tentar se proteger, os moradores instalaram câmeras e refletores, mas o medo continua.
“A gente faz a nossa parte, mas sem apoio, fica impossível”, disse Anderson, 39 anos.
“A nossa parte” a que Anderson se refere não pertence a ele, mas sim à Prefeitura. Câmeras e refletores se trata de uma obrigação do município.
Os tiros e sua sonoridade de pânico insistem em lembrar de que, na Barão de Sertório, mede-se a vida entre a chegada em casa e a próxima ação criminosa. Enquanto o poder público permanecer omisso, o bairro seguirá entregue à própria sorte.
A gente realiza reuniões frequentes com o comandante do 4º BPM. Pelo menos uma vez por mês, a gente sempre faz um apelo pela segurança e pedimos a volta dessa viatura na rua. Porém, assim que ele assumiu, disse numa reunião para mais de 70 pessoas, que não poderia mais disponibilizar a viatura para este serviço. A não ser que viesse uma ordem de cima ou o telefone tocasse para ele – contou Jackson, de 43.

Moradores acionaram até a Secretaria de Saúde pois ela fica exatamente localizada na esquina da rua onde houve o disparo dos tiros:
“Alguns moradores tentaram falar com a Secretária (de Estado de Saúde , Dra. Cláudia Melo). Mas ela não nos recebeu e mandou somente um dos secretários do gabinete para conversar conosco. Ela deve estar esperando que algum funcionário da Secretaria leve um tiro. Assim, talvez, alguma providência seja tomada” – reclamou um dos moradores, sem querer se identificar”