No dia 5 de outubro, na madrugada, o médico Daniel Proença foi o único sobrevivente do terrível ataque que resultou na morte de três colegas na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Em uma entrevista ao programa “Fantástico”, da TV Globo, Daniel compartilhou sua jornada de recuperação e sua determinação em representar seus colegas no cuidado ao próximo.
Após priorizar sua própria recuperação e autocuidado, Daniel se dedica diariamente a sessões intensivas de fisioterapia para recuperar seus movimentos. Segundo ele, foram disparados cerca de 17 tiros em sua direção, sendo a parte mais difícil presenciar a morte de seus amigos. No entanto, ele encontra forças na gratidão por estar vivo e no desejo de retomar sua vida.
Daniel expressou suas mudanças de perspectiva desde o incidente:
“Muda-se um pouco a cabeça, o jeito de se ver um pouco as coisas. Entende-se um pouco mais da brevidade da vida. Está sendo todo dia uma reabilitação. A gente sabe que tem dias bons, dias piores. É um processo longo, mas botei na minha cabeça que todo dia tem que ser uma superação, um degrau a mais”.
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O médico relembra que estava em um quiosque com os colegas Perseu Almeida e Diego Ralph, compartilhando confidências sobre suas carreiras e planos para o futuro. O veterano Marcos de Andrade Corsato juntou-se ao grupo enquanto passava pelo local. Pouco antes do ataque a tiros, um carro branco havia passado soltando fogos em comemoração a uma classificação do Fluminense na semifinal da Libertadores. Por isso, Daniel inicialmente pensou que os tiros fossem fogos. Porém, ao sentir o calor nas costas, ele compreendeu a gravidade da situação.
Enquanto Daniel tentava se proteger, seus amigos Perseu e Marcos foram mortos instantaneamente. Diego Ralph ainda pediu socorro, mas acabou falecendo no hospital.
“Eu cheguei a ver meus amigos executados e sabia que eu perdi os três. O doutor Corsato, quando olhei para o lado, já estava evidente que ele não respondia, já estava na cadeira com os braços esticados. O Perseu, vi ele tentando fugir, infelizmente o executor esticou o braço direto e disparou alguns tiros, ele parou de se mexer, e eles foram embora. O Diego começou a gritar”, relatou Daniel.
Após se auto-examinar e verificar que ainda tinha pulso e mobilidade nos membros, Daniel percebeu a dor intensa em sua perna e tentou se acalmar. Mesmo com sangramento intenso e a perda de sangue, ele tentou avaliar possíveis perfurações abdominais ao forçar o vômito. Com múltiplos projéteis alojados ainda em seu corpo, Daniel passou por cinco cirurgias e está em processo de reabilitação diária desde o ataque.
Enquanto paciente, ele se tornou mais sensível às dificuldades que outras pessoas enfrentam:
“O novo Daniel é o Daniel que virou paciente mas, agora está ficando mais fácil entender as dificuldades que as pessoas passam, as dores, as inseguranças. Então acho que me deixou mais humanizado”.
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Diante da insegurança que já sentia no Rio de Janeiro antes do incidente, Daniel não tem planos de retornar à cidade. Ele expressou o desejo de que o dia 5 de outubro seja lembrado não apenas como seu novo aniversário, mas como um lembrete de um acontecimento absurdo que nunca mais deve se repetir.
A principal linha de investigação da polícia aponta que um dos médicos assassinados, Perseu Almeida, foi confundido com um miliciano no quiosque.
Os suspeitos de realizar a execução também foram mortos 17 horas após o crime por um “tribunal do tráfico”.