Ônibus de Niterói: empresários alegam crise, enquanto passageiros cobram melhorias. Foto: Divulgação – Prefeitura de Niterói
O sistema de transportes de Niterói está em crise desde a pandemia da Covid-19, pois, em razão dela e de suas consequências, há uma sistemática redução da frota nas ruas. No dia 3 de outubro, acontecerá audiência judicial de conciliação entre a Prefeitura e as empresas de ônibus. As companhias são enfáticas: apenas a adoção de subsídios pode salvar o sistema.
A reportagem do FOLHA DO LESTE entrevistou Márcio Barbosa, presidente-executivo do sindicato que representa as empresas (Setrerj). Ele explicou que o sistema ideal para a cidade, em sua análise, é o de tarifa técnica, no qual o valor da passagem seria dividido entre o governo municipal e o passageiro.
Márcio Barbosa, presidente do Setrerj | Linkedin
“Na nossa avaliação, a tarifa ideal é a tarifa técnica, conceito que várias cidades tem utilizado para remunerar o sistema de transporte. O passageiro não pode ser o único responsável por manter o sistema em operação. Dessa forma, o valor para o passageiro poderá ser até reduzido”, disse.
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Atualmente, o passageiro precisa desembolsar R$ 4,45 para andar de ônibus em Niterói. Barbosa afirmou que, caso o valor para o consumidor seja reduzido, estimularia o uso do transporte rodoviário, sensivelmente reduzido desde ao início da pandemia da Covid-19.
Empresas reclamam que passagem está congelada em R$ 4,45, mas defendem que o município custeie o ajuste da tarifa, não o passageiro | André Freitas/Folha do Leste
“Esse subsídio tem que caber no bolso da Prefeitura. A gente sabe que não custa muito porque não é para a empresa, mas sim para o passageiro. O valor tem que ser estimado dentro da Lei de Diretrizes Orçamentárias”, acrescentou.
Todavia, o sindicato reclamou que o estudo feito pela UFRJ, contratado pela Prefeitura para avaliar o equilíbrio econômico do sistema, não chegou a conclusão sobre qual seria o valor dessa tarifa técnica.
Situação das empresas
De acordo com o Setrerj, o estudo apontou prejuízo acumulado pelos consórcios, que teriam recebido, acumulado pelos consórcios, que acabaram.
Setrerj apela por socorro ao município para resolver crise do setor de ônibus em Niterói | Foto: Reprodução/Google Street View
Apesar disso, Márcio Barbosa descartou que haja possibilidade de fechamento de empresas, tal qual aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, ao longo dos últimos anos.
“No Rio de Janeiro, a Prefeitura finalmente entendeu que precisava subsidiar, mas doze empresas fecharam. Niterói está longe disso. Existe uma readequação e a gente reconhece que o nível do serviço está abaixo do ideal”, prosseguiu.
Renovação e redução da frota
O presidente do Setrerj confirmou que, mesmo após o fim das medidas de isolamento causadas pela pandemia, algumas empresas continuam a operar com frota reduzida. Barbosa justificou a medida, atribuindo a causa à alta do preço do diesel.
“Quando a gente fala em redução de frota, é uma equalização que as empresas estão sendo obrigadas a tomar na medida em que a Prefeitura está retardando uma solução. Em 2022, o curso do óleo diesel subiu 80%. Não existe IPCA que cubra esse custo para as empresas”, pontuou.
Outro ponto é o envelhecimento da frota da cidade. Embora algumas empresas estejam conseguindo adquirir ônibus mais novos, especialmente as que compõem o Consórcio Transoceânico, as que fazem parte do Consórcio Transnit (à exceção da Viação Araçatuba) possuem frota envelhecida.
Segundo o Setrerj, o fato de a passagem ter ficado com o valor congelado por três anos causou a perda da capacidade de investimentos. Dessa forma, houve o envelhecimento da frota.
“A renovação de frota não tem sido no índice esperado, então, no todo, ela está ficando mais depreciada porque nem todas as empresas estão conseguindo renovar”, finalizou Barbosa.
Proposta da Prefeitura
Em mensagem enviada à Câmara Municipal de Vereadores, o prefeito Axel Grael (PDT) solicitou autorização para subsidiar parte da passagem na cidade. Com a medida, o valor da tarifa, que hoje é de R$ 4,45 cairia para R$ 4.
Para obter o desconto na passagem, o cidadão precisaria estar cadastrado no Bilhete Único de Niterói. E o pagamento feito por meio do cartão eletrônico.
Com o cartão à mão, cada usuário teria direito a duas passagens com o preço reduzido por dia, pois um estudo encomendado pela Prefeitura indica que essa quantidade de viagens diárias atenderia a 91% do público que utiliza ônibus na cidade.
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Em contrapartida, o governo municipal requer a garantia de maior transparência do sistema, que passaria a ser totalmente auditável. Outra contrapartida prevista é o aumento da qualidade do serviço de transportes no município, no que diz respeito à pontualidade.
As empresas se comprometeriam a ampliar ou, no mínimo, colocar a frota completa em circulação. A Prefeitura pretende implantar o subsídio financeiro de até 30% do valor da tarifa técnica.
