Silvio Santos morre aos 93 anos

Neste sábado (17), o Brasil perdeu uma das figuras mais icônicas de sua história televisiva e cultural. Silvio Santos, o eterno “Homem do Baú”, faleceu aos 93 anos, deixando para trás um legado inigualável. Nascido Senor Abravanel em 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, Rio de Janeiro, Silvio Santos foi o primogênito de uma família de imigrantes judeus sefarditas que chegaram ao Brasil em 1924.

Desde cedo, a vida de Silvio esteve marcada por desafios e superações. Aos 14 anos, ele começou a trilhar seu caminho como empreendedor, vendendo capas plásticas para títulos de eleitor nas ruas do Rio, ao lado de seu irmão Leon. Tratava-se do início de uma trajetória que o levaria a se tornar um dos maiores nomes da comunicação no Brasil.

A voz forte e bem modulada, característica de Silvio Santos, logo chamou a atenção dos que o ouviam nas ruas. Esse talento nato o levou a um teste na Rádio Guanabara, que, embora promissor, não lhe proporcionava sustento suficiente para abandonar a vida de camelô.

Aos 18 anos, trabalhando em uma rádio em Niterói, Silvio iniciou seu primeiro empreendimento: um serviço de alto-falante nas barcas que cruzavam a Baía de Guanabara. Este foi o primeiro passo concreto em direção ao sucesso que o aguardava. Pouco tempo depois, aos 20 anos, ele decidiu se mudar para São Paulo, onde sua carreira ganharia novas proporções.

Ascensão

Em São Paulo, Silvio Santos começou a apresentar espetáculos e sorteios em caravanas de artistas, solidificando sua presença no entretenimento. Foi na Rádio Nacional que ele conheceu Manoel de Nóbrega, um encontro que mudaria sua vida para sempre.

Silvio Santos juntamente com Manoel de Nóbrega, comunicador que lhe abriu espaço e projeção | Reprodução

Manoel, criador do programa “Praça da Alegria”, estava enfrentando dificuldades para administrar a empresa de venda de brinquedos por prestações em carnês mensais, conhecida como Baú da Felicidade. Silvio Santos viu uma oportunidade e assumiu a administração do Baú, que se tornaria o embrião do Grupo Silvio Santos.

Em 1962, o Baú da Felicidade já não se limitava a brinquedos; financiava também eletrodomésticos, carros e até casas. O grupo expandiu ainda mais em 1969, com a criação de um braço financeiro que daria origem ao Banco PanAmericano. A visão empreendedora de Silvio, sempre buscando inovar e diversificar seus negócios, consolidou sua posição como um dos maiores empresários do país.

Revolução na TV

A entrada de Silvio Santos na televisão aconteceu quase por acaso, como uma estratégia de marketing para promover o Baú da Felicidade. Ele começou comprando horários na TV Paulista para exibir o programa “Vamos Brincar de Forca”, onde clientes em dia com o carnê do Baú participavam de um jogo de forca no estúdio e concorriam a prêmios.

O programa teve sucesso instantâneo. Como resultado, três anos depois, em 2 de junho de 1963, Silvio Santos estreava o “Programa Silvio Santos”, ocupando parte do horário de domingo na mesma emissora.

Com a venda da TV Paulista para a recém-inaugurada TV Globo, em 1965, o programa passou a ser transmitido pela emissora carioca. Inicialmente, alcançando o público de São Paulo e, depois, em cadeia nacional. A popularidade de Silvio Santos crescia a cada domingo, consolidando-o como uma das figuras mais queridas e reconhecidas da televisão brasileira.

Em 1975, Silvio realizou um dos seus maiores sonhos: ter sua própria emissora de televisão. A TVS, canal 11 do Rio de Janeiro, deu origem ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) em 1981, após a concessão de outros quatro canais. Nascia ali um dos maiores conglomerados de comunicação do Brasil, que desafiaria o monopólio das grandes emissoras, bem como traria uma nova dinâmica ao entretenimento televisivo.

Rei dos Domingos

Os anos 1980 marcaram o auge da carreira de Silvio Santos na televisão. O “Programa Silvio Santos” consolidou-se como um dos maiores sucessos da TV brasileira, com quadros que entraram para a história, como “Domingo no Parque”, “Qual é a Música”, “Topa Tudo por Dinheiro” e “A Porta da Esperança”.

Silvio Santos em cena marcante instantes antes de cair na água numa gincana de seu programa | João Batista da Silva/SBT

Mas foi o “Show de Calouros” que se tornou a marca registrada das noites de domingo no Brasil. O programa, exibido desde 1977, alcançou seu formato mais icônico na década de 1980, com uma bancada de jurados que incluía figuras como Aracy de Almeida, Décio Piccinini, Nelson Rubens, Sônia Abrão, entre outros.

O sucesso de Silvio Santos extrapolava a televisão. Em 1988, ele chegou a propor sua candidatura à prefeitura de São Paulo pelo Partido da Frente Liberal (PFL), mas acabou desistindo da disputa.

No ano seguinte, decidiu lançar-se candidato à presidência da República pelo PMB (Partido Municipalista Brasileiro). No entanto, sua candidatura foi cassada pelo TSE a poucos dias do primeiro turno, encerrando assim sua breve incursão na política.

Silvio Santos tentou mas não conseguiu se candidatar à presidência da República, pois sua candidatura sofreu impugnação | Reprodução

Desafios e polêmicas

A partir dos anos 1990, Silvio Santos começou a reduzir gradativamente sua participação na televisão, dividindo os holofotes com outras estrelas do SBT, como Gugu Liberato, Eliana e Celso Portiolli. Ainda assim, ele permaneceu como o rosto mais reconhecido da emissora e do programa que levava seu nome.

Em 2001, Silvio foi homenageado no carnaval carioca com o enredo “Hoje é Domingo, é Alegria. Vamos Sorrir e Cantar”, da escola de samba Tradição. O desfile contou com a participação do próprio apresentador, além de outras estrelas do SBT.

Silvio Santos sorrindo e cantando na Marquês de Sapucaí o samba-enredo da Tradição em sua homenagem, no carnaval de 2001, aos 70 anos | Reprodução

No mesmo ano, enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua vida quando sua filha Patrícia Abravanel foi sequestrada e, posteriormente, libertada após o pagamento do resgate. Dias depois, um dos sequestradores invadiu sua casa, mantendo Silvio como refém por mais de sete horas, até ser libertado pelo então governador Geraldo Alckmin.

Nos últimos anos, Silvio Santos enfrentou polêmicas devido a comentários considerados inadequados, principalmente nas redes sociais. Mesmo assim, ele manteve sua presença marcante na televisão brasileira, sempre adaptando-se às mudanças e desafios que surgiam.

Legado

O legado de Silvio Santos é imensurável. Criador de um dos maiores grupos de comunicação do país, ele influenciou gerações de telespectadores e deixou uma marca indelével na cultura popular brasileira. Além de ser tema de quatro biografias, sua trajetória inspirou um documentário e uma série de TV, além de um musical que celebrou sua vida e carreira.

Sede do SBT na cidade de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, às margens da Rodovia Anhanguera | Reprodução

Em 2020, Silvio parou de apresentar seu programa devido ao risco da COVID-19, aparecendo apenas em reprises. Após ser vacinado, ele chegou a retornar às gravações, mas, após testar positivo, afastou-se novamente. Em 2022, sua filha Patrícia Abravanel assumiu o comando do “Programa Silvio Santos”, enquanto ele se retirava cada vez mais da vida pública.

Nos últimos meses de sua vida, Silvio Santos enfrentou problemas de saúde e as limitações impostas pela idade. Sua última internação ocorreu em 18 de julho de 2024, no Hospital Albert Einstein, onde veio a falecer no dia 10 de agosto, cercado por sua família.

Estrela eterna

Silvio Santos, o homem que transformou o entretenimento brasileiro e construiu um império do nada, se despediu da vida terrena. Entretanto, seu legado perpetuará para sempre na história da comunicação.

Silvio Santos morre aos 93 anos

Sua voz, frases marcantes, assim como os programas que encantaram milhões de brasileiros permanecerá vivo na memória afetiva do nosso país. Afinal, domingo, se tornou sinônimo de Silvio Santos. Uma personalidade imortal, que além de empresário e apresentador televisivo, representa perseverança, talento e inovação.

O Brasil se despede de seu maior comunicador, mas a lembrança de seus feitos, sua alegria contagiante e sua inigualável capacidade de se reinventar continuarão a inspirar futuras gerações. Silvio Santos pode ter partido, mas sua estrela jamais deixará de brilhar no coração de todos os brasileiros.