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Sapucaí pede caju e Mocidade mistura com “Todinho”

Jojô Todinho, destaque do ensaio técnico da Mocidade Independente de Padre Miguel

Não restam dúvidas de que o samba mais chiclete do carnaval 2024 pertence à Mocidade Independente de Padre Miguel, que neste domingo realizou seu ensaio técnico na Passarela do Samba. Mas, pela grande expectativa –  justamente em função do samba-enredo – a sensação de que faltou empolgação ficou no ar.

Fabíola Andrade, Rainha de Bateria da Mocidade

 

Visivelmente, a Mocidade deixou clara, desde o início, a necessidade de afastar as especulações de que a escola poderia repetir a péssima performance do ano passado. Até porque alguns cronistas carnavalescos entendem que a escola só escapou do rebaixamento pelo peso de sua bandeira.

E a bandeira voltou a pesar. Faltava descontração e leveza nos componentes, em especial os mais experientes, pois eles sabem a repercussão que o ensaio terá para o desfile da escola e sua futura classificação. Até o carismático intérprete Zé Paulo, sempre descontraído, estava apreensivo. O motivo: problemas técnicos no carro de som.

Zé Paulo Sierra

A apresentação da escola começou da mesma forma como terminou a de sua antecessora – Porto da Pedra: com problemas no som. Visivelmente irritado, o cantor Zé Paulo Sierra reclamou por diversas vezes do sistema. Entretanto, nas arquibancadas, o público procurou, de todas as formas, empurrar o canto junto com Zé Paulo.

Desse modo, a própria largada da escola ficou marcada por uma “atravessada” entre canto, acordeom e bateria. O descompasso, durou apenas alguns instantes. Mas a voz de Zé Paulo estava engolida pelo coro dos cantores de apoio. Mesmo dando tudo de si, o carismático ex-intérprete da Viradouro buscou passar o máximo de energia para a comunidade da mais querida da Zona Oeste.

Figuras carismáticas

Um dos compositores do samba-enredo, o comediante Marcelo Adnet veio no tripé abre-alas, buscando comunicação com o público. Deu certo. O mesmo aconteceu com a cantora Jojô Todinho, que levantou a galera, de igual modo que a ala de pernas de pau. Porém, em alguns segmentos da agremiação, faltou canto. Como na ala de passistas, velha guarda e algumas alas de comunidade, em alguns trechos do samba-enredo.

A bateria não existe mais quente, embora muito entrosada com o canto – após a atravessada inicial – desenhou em excesso sobre as notas musicais do samba, trabalhando com pouca criatividade nas convenções nas longas pausas. Chegou, inclusive, a fazer uma parada para “arrumar a cozinha”.

Apesar do canto mais forte do público do que da própria escola, esperava-se mais intensidade. Também, mais alegria. Principalmente, por conta da última classificação da escola, penúltima colocada no carnaval 2023. Mesmo com toda sua grandeza, a Mocidade desfilará pressionada. Tanto para não cair, bem como para disputar as primeiras posições. Na noite deste domingo (7), essa tensão ficou evidente.

O ensaio foi bom, mas no duelo com a Porto da Pedra, a escola de São Gonçalo sobrou em todos os quesitos. Inclusive, em samba-enredo. Não houve, por exemplo, a mesma emoção transmitida tanto pelos componentes da comissão de frente, sob comando de Paulo Pinna. Mas a dança do casal Diogo Jesus e Bruna Santos, respectivamente Mestre-Sala e Porta-Bandeira  defensores do pavilhão de Padre Miguel, esteve repleta de ousadia.

Enredo

O enredo, “Pede Caju que dou… Pé de caju que dá!”, se trata da mistura de uma abordagem totalmente original, com o típico tropicalismo. Tal estilo, inaugurado por Fernando Pinto, na própria verde-e-branco, traduz-se na letra do samba. Certamente, estará presente nas alegorias e fantasias desenvolvidas pelo carnavalesco Marcus Ferreira.

Letra do Samba

Autores: Diego Nicolau, Paulinho Mocidade, Marcelo Adnet, Richard Valença, Orlando Ambrósio, Gigi da Estiva, Lico Monteiro e Cabeça do Ajax

Intérprete: Zé Paulo Sierra

Eu quero um lote
Saboroso e carnudo
Desses que tem conteúdo
O pecado é devorar
É que esse mote beira antropofagia
Desce a glote, poesia
Pede caju que dá
Delícia nativa
Onde eu possa pôr os dentes
Que não fique pra semente
Nem um tasco de mordida
E aí tupi no interior do cafundó
Um quiprocó virou guerra assumida

Provou porã (provou!), Fruta do pé
Se lambuzou, Tamandaré
O mel escorre, olho claro se assanha
Se a polpa é desse jeito, imagine a castanha

Por outras praias a nobreza aprovou
Se espalhou, tão fácil, fácil!
E nesta terra onde tamanho é documento
Vou erguer um monumento para Seu Luiz Inácio
Nessa batalha teve aperreio
Duas flechas e no meio uma tal Cunhã Poranga
Tarsila pinta a sanha modernista, tira a tradição da pista
Vai Debret! Chupa essa manga!
É Tropicália, Tropicana, cajuína
Pela intacta retina, a estrela no olhar
Carne macia com sabor independente
A batida mais quente, deixa o povo provar

Meu caju, meu cajueiro
Pede um cheiro que eu dou
O puro suco do fruto do meu amor
É sensual, esse delírio febril
A Mocidade é a cara do Brasil

Fotos: Reprodução

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