Hidrômetros roubados, registros de luz quebrados, paredes pichadas e constantes ameaças. Moradores de mais de um condomínio da Rua Abel, em Icaraí, denunciam que há pelo menos um mês acontece uma série de roubos de relógios de água e energia elétrica na via. A acusação é que tais atos são praticados por usuários de drogas que ficam na região.
Uma das pessoas que mora em um dos prédios da rua, C.S.P conversou com a Folha do Leste e pediu para não ser identificada por medo. Ela explicou que na semana passada precisou passar três dias na casa de uma amiga por ter ficado sem água. O motivo? Roubo de uma peça do hidrômetro, o mesmo que abre esta reportagem.
“Teve um dia em que fui tomar banho e não saiu nada no chuveiro. Estranhei porque a conta está em dia. Esperei mais um pouco e nada. Quando desci vi que tinham roubado uma peça de alumínio. O prédio todo ficou sem água por dias”, detalha a pessoa, afirmando que notou o roubo no sábado, dia 25 de novembro.
Mas a ação, de acordo com essa pessoa, não foi inédita. Tampouco esse tipo de ação é isolada.
“Cansei de ver partes de portões da rua quebradas e paredes pichadas. De um mês pra cá cada prédio tem algum tipo de prejuízo. E quando anoitece, a sensação de perigo aumenta, pois aparecem muitos usuários de drogas por aqui. Todas as noites vejo gente usando crack e maconha”, denuncia.
Por causa do prejuízo, a moradora precisou passar quase que a metade da semana na casa de uma amiga em Madureira, na Zona Norte do Rio. E o caso não é o único na rua.
Outros moradores de prédios vizinhos aos de C.S.P também reclamam de roubos de registros de luz. O Folha do Leste obteve com exclusividade uma foto de um dos condomínios que por segurança não terá o nome divulgado.
Na foto acima é possível notar que dois registros, ambos localizados na parte esquerda da imagem, foram roubados. Além disso, outro registro mostra mais um roubo a um dos prédios da rua.
O vídeo abaixo foi feito por um morador e mostra uma pessoa com uma parte de uma caixa de luz em mãos.
A pessoa que fez o vídeo também reside na via e conta que percebeu um som estranho enquanto dormia. Ao acordar viu pela janela o que acredita ser um usuário de droga praticando o roubo.
“Acordei ouvindo um barulho de madrugada e resolvi olhar pela janela do prédio o que era. E aí eu vi essa pessoa puxando uma parte da caixa de luz do prédio onde moro. Não consegui gravar tudo desde o início porque foi muito rápido, mas é possível ver só por esse trecho o momento do roubo. Nossa rua está um inferno”, desabafa.
Também é comum, de acordo com outros moradores, a abordagem de muitos usuários em tom de intimidação. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, é comum ver o consumo de maconha e crack em qualquer hora do dia.
Todas as pessoas que conversaram com a reportagem alegam que fizeram o registro de ocorrência na delegacia do bairro, a 77ª DP.
Posicionamentos da Polícia Militar e Guarda Municipal de Niterói
Questionado sobre as denúncias, a Política Militar informou em nota que o batalhão responsável por Niterói, o 12º BPM, “em empreendido esforços para prevenir e coibir quaisquer práticas criminosas, incluindo os roubos e furtos a patrimônio público e privado. Ações ostensivas, como rondas e abordagens, são empregadas nas ruas dos bairros da cidade, diuturnamente”.
A PM acrescenta que “dados disponibilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), na área de policiamento do 12ºBPM, registrou queda de 12.8% no total dos roubos de rua, quando comparados os períodos entre os meses de janeiro a outubro de 2023 com o mesmo período do ano passado”.
A corporação finaliza explicando que as denúncias podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia, (21) 2253-1177, pela Central 190 ou via Aplicativo 190.
Já a Guarda Municipal de Niterói informou que “vai avaliar a mancha criminal no local junto com a Polícia Militar para, se for o caso, elaborar uma ação conjunta de patrulhamento da área. O órgão reitera que é essencial que as ocorrências sejam registradas nas delegacias da área para que as forças de segurança possam elaborar ações”.
Câmara discute pessoas em situação de rua em audiência pública
Paralelamente às denúncias de moradores da Rua Abel, na última quinta-feira (30/11) a Câmara Municipal de Niterói realizou uma audiência pública sobre o crescimento de pessoas em situação de rua. Comandada pelo vereador Douglas Gomes (PL), a reunião contou com a participação do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), o secretário municipal de Assistência Social Hélton Teixeira, o representante do Sindilojas Niterói Flávio Campos Carvalho, o também vereador niteroiense Daniel Marques (PSDB) e outros representantes da sociedade civil.
Com mais de três horas e meia de reunião, a audiência começou com a fala do secretário Teixeira explicando que o aumento do número de pessoas em situação de rua não seria exclusividade de Niterói e sim algo que aconteceu em todo o planeta como consequência dos impactos sociais causados pela pandemia de Covid-19.
Participando de forma virtual, a promotora do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Renata Scarpa admitiu que é “fato” que a cidade se encontra “com um problema muito sério sobre a população de rua”. Mas, assim como o secretário de assistência afirmou que a situação não é exclusiva de Niterói e acrescentou que não se pode tratar de forma homogênea esse tipo de pessoa.
“A população em situação de rua que está em Niterói é absolutamente diversificada, há pessoas em situação muito peculiares e que precisam de planos de trabalho singulares. Junto disso, há a questão dos usuários de drogas, lícitas e ilícitas”, explicou a promotora, que ainda acrescentou que só é possível internar compulsoriamente um usuário de drogas quando este “realmente” não tiver capacidade mental de decidir por si. Ela ressaltou que, neste caso, o atestado que confirma tal situação só pode ser emitido por autoridade médica.