Niterói quer repassar R$ 200 milhões por ano a São Gonçalo

Rodrigo Neves, prefeito de Niterói, gravou um vídeo fazendo convite ao Capitão Nelson, de São Gonçalo, e publicou em suas redes | Reprodução
Por André Freitas, de NITERÓI/RJ, às 17h40 — Em um gesto público que extrapola rivalidades políticas e históricas disputas regionais, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), anunciou que a cidade quer repassar R$ 200 milhões a partir de 2026, para um fundo de desenvolvimento voltado exclusivamente à cidade vizinha. Para isso, ele convidou o prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson (PL), para um diálogo amplo voltado ao desenvolvimento conjunto do Leste Fluminense.
O convite foi feito em vídeo publicado nas redes sociais do pedetista nesta segunda-feira (8/12). Neves destacou que a oferta não depende de campanha eleitoral e reforçou que seu objetivo é construir uma política regional de cooperação.
“Capitão Nelson, o senhor está convidado para a gente sentar à mesa e fazer esse entendimento já a partir de 2026”, afirmou o prefeito.
Mecanismo do repasse e tramitação no Congresso
Embora o gesto seja político, o repasse financeiro depende de um instrumento jurídico. O caminho apontado por Neves é o Projeto de Lei 4504/23, que tramita no Congresso Nacional. A autoria é do deputado federal Dimas Gadelha (PT), em conjunto com o então deputado federal Quaquá, hoje prefeito de Maricá.
Durante o anúncio, Neves participou de uma reunião com o próprio Dimas Gadelha, acompanhado dos vereadores gonçalenses De Jorge Patrício (Patriota), Juliano Freitas (PT) e Isaac Ricaldi (PCdoB). No encontro, Neves reafirmou que não tem interesses eleitorais envolvidos e que aposta no diálogo como base de cooperação.
“Eu já fui ofendido, eu já fui atacado, eu não sou candidato a nada no ano que vem. Tenho certeza no caminho do diálogo”, destacou.
A convergência inédita entre perfis opostos
O pedido de diálogo contrasta com a longa trajetória de tensão entre as lideranças políticas do Leste Fluminense. Neves, prefeito de Niterói e atual presidente da Rede Mercocidades, tem trajetória consolidada na esquerda. Já Capitão Nelson, gestor mais bem avaliado da história de São Gonçalo, é um político ligado ao bolsonarismo, ex-vereador e ex-policial militar.
Ainda assim, Neves enfatizou que as diferenças ideológicas não podem superar o interesse público. Segundo ele, a região só avança quando as duas maiores cidades cooperam.
“O cafezinho está quente, a cadeira está disponível, e eu queria convidá-lo para sentarmos à mesa, deixarmos as ofensas e tratarmos daquilo que importa: o desenvolvimento de duas cidades-irmãs”, afirmou.
A disputa judicial perdida por São Gonçalo
A relação recente entre as cidades carregou um episódio tenso: São Gonçalo tentou, sem sucesso, obter parte dos royalties do petróleo pertencentes a Niterói. A disputa chegou às mais altas cortes do país.
STJ rejeitou o pleito.
STF confirmou a interpretação técnica.
Mais recentemente, o TRF-1 novamente negou o pedido.
As decisões foram unânimes e baseadas em documentos técnicos da ANP e do IBGE, que confirmaram que os poços produtores estão no território marítimo de Niterói.
Mesmo após a série de vitórias judiciais, Neves afirmou que pretende superar as divergências e trabalhar em conjunto com São Gonçalo.
Segurança, juventude e políticas integradas
O prefeito de Niterói enfatizou que grande parte dos recursos pretendidos deve ser destinada a segurança pública e políticas para a juventude, duas frentes prioritárias para a região.
Ele citou ações já adotadas em Niterói que poderiam ser replicadas em São Gonçalo:
Investimento em blindados.
Reforço do efetivo da Polícia Militar com triplicação das patrulhas.
Combate às barricadas e restrições territoriais impostas pelo crime.
Abertura de escolas técnicas e retomada de equipamentos públicos.
Reativação de CIEPs com foco em formação profissional.
Segundo Neves, as duas cidades avançam mais quando atuam como bloco integrado, especialmente no enfrentamento ao crime organizado.
“Estou disposto a fazer esse investimento sobretudo para enfrentar o crime organizado e garantir uma segurança pública melhor para São Gonçalo”, disse.
Convite feito: agora a decisão cabe a Capitão Nelson
A iniciativa, divulgada de forma pública e direta, transfere ao prefeito de São Gonçalo a decisão de aceitar — ou não — a construção de um pacto regional inédito. Caso Capitão Nelson aceite a proposta, o acordo poderá ser formalizado já em 2025, permitindo o início dos repasses em 2026.
Até o momento, a Prefeitura de São Gonçalo não se pronunciou oficialmente sobre o convite.



























