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Niterói e o rádio: Cidade consagrou vozes famosas, como Silvio Santos

Niterói e o rádio: Cidade consagrou vozes famosas, como Silvio Santos

Em 2023, celebrou-se o centenário da primeira emissora de rádio surgida no Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquette Pinto. Além disso, neste mesmo ano, também se celebra os 450 anos de Niterói. E engana-se quem pensa que a relação entre os dois temas se deve a uma coincidência festiva de datas. Isso porque Niterói teve papel decisivo para a consagração de nomes do rádio brasileiro. Em AM e FM.

Abelardo Barbosa, o Chacrinha

Um cassino no meio do mato. Literalmente. Era assim que o comunicador Abelardo Barbosa fez do seu programa, apresentado em um estúdio que ficava em uma chácara em Itaipu, na Região Oceânica.

Levado ao ar pela extinta Rádio Clube de Niterói, o apresentador usava panelas, sinos, ventiladores, tampas e diversos outros objetos para convencer o ouvinte de que realmente ao vivo dentro de um cassino. Os ouvintes se empolgavam com a citação que o apresentador fazia sobre os “convidados”, como Dalva de Oliveira e Orlando Silva. Até que um dia, um casal vestido com roupas caríssimas descobriu o lugar. Encontrou o apresentador de cuecas e cheio de objetos.

Chacrinha usava louça como sonoplastia do seu cassino no rádio. Foto: Reprodução/TV Globo

Foi nessa época, e também por causa do programa, que surgiu o nome artístico do apresentador. Por ficar numa pequena chácara, era comum os ouvintes falarem sobre a apresentação da “chacrinha”. Com isso, definitivamente, Abelardo Barbosa virou Chacrinha

Sílvio Santos

Sílvio Santos (à direita da imagem) trabalhou na Rádio Continental de Niterói. Foto Acervo pessoal.

  • Introdução

Falar de Sílvio Santos em Niterói é chover no molhado, afinal já é bem conhecido que ele trabalhava como vendedor nas barcas e usava o alto-falante das embarcações para divulgar seus produtos, principalmente cervejas e bebidas da Antarctica, que o contratou como vendedor. Entretanto, antes disso ele teve uma passagem pelo rádio niteroiense.

  • Rádio Continental

No início da década de 1950, um jovem Senor Abravanel era locutor noticiarista e de anúncios da Rádio Continental AM, atualmente extinta. Ele ficava no ar de uma às quatro da tarde, sendo substituído na sequência por Paulo Caringi no microfone. E foi graças ao colega de trabalho que Sílvio perdeu o emprego.

Em entrevista concedida a um trabalho final de pós-graduação em Comunicação, Caringi falou à então estudante Flávia Lúcia Bazan, autora do trabalho acadêmico, que se confundiu na hora de ler um anúncio. O equívoco fez Sílvio ter uma forte crise de riso, e ainda que estivesse fora do ar, a risada causou problemas com o gerente da rádio, Vanderlei Ferreira.

“Um dia o Silvio Santos perdeu o emprego por minha causa, na Continental, porque eu confundi caneca de alumínio com cueca de alumínio. Porque tinha que ler depressa, ‘e não perca hoje uma grande liquidação da casa Cruzeiro, está a disposição, grande vendagem de cueca de alumínio’. Aí o Silvio Santos estava do lado e correu pro banheiro, aí veio o gerente da rádio, o Vanderlei Ferreira e pergunta: ‘Onde é que tá o Silvio Santos? Tá no banheiro. Que? … a estação saiu fora do ar, né?’ E como ele estava no banheiro, fugiu. Ele (Vanderlei) fez a conta dele e mandou embora. Foi lá em Niterói. Depois ele instituiu nas barcas Rio-Niterói, um bar com música, venda de café”, explicou.

Em conversa com o Folha do Leste, o filho de Caringi, Sérgio, contou que encontrou nos anos 90 com um profissional que trabalhava na TV Bandeirantes do Rio e testemunhou a situação envolvendo Sílvio à época.

“Esse profissional, que infelizmente não lembro o nome, reconheceu meu sobrenome e perguntou se eu era filho do Paulo. Afirmei que sim e ele contou esse episódio. Ele relembrou que o Sílvio ficou muito sentido com o episódio e dizia nos corredores: ‘Como eu vou fazer agora que sou um homem desempregado?'”, relembrou.

Sérgio Caringi também recorda outra curiosidade. Que Sílvio tinha problemas com o ar-condicionado por causa do ambiente gelado e que isso o obrigava a ter cuidados reforçados com a voz, pois as cordas vocais ficavam prejudicadas por causa do uso do aparelho.

  • Alto-falante nas barcas

Com a dispensa, ele usou o dinheiro da indenização para montar o sistema de som nas barcas. Como a embarcação que ele utilizava apresentou problemas e não poderia ser usada por três meses, a Antárctica o transferiu temporariamente para São Paulo.

Lá ele ficaria hospedado na casa do irmão do amigo Fernando José da Nóbrega. O nome desse parente? Manoel de Nóbrega, que apesar de já ser radicado e famoso em São Paulo desde aquela época, também era nascido e criado em Niterói.

  • Reclamação de passageiro

Outra curiosidade envolvendo Sílvio Santos e Niterói foi a reclamação de um jornalista d’O Diário de Notícias sobre o barulho que o comunicador fazia, causando incômodos, segundo afirmava o profissional, nos passageiro.

Mas Sílvio não ficou quieto e escreveu uma resposta no dia 17 de junho de 1952, numa terça-feira.

Resposta de Sílvio Santos à reclamação de passageiro. Foto: Reprodução da internet.

Rádio Fluminense FM, a Maldita

Impossível não citar a Rádio Fluminense FM, a Maldita. Pontualmente às 6 horas do dia 2 de março de 1982, uma jovem moradora de São Francisco dizia as primeiras palavras da emissora que iriam revolucionar a história do rádio FM no Brasil e também transformaria completamente o rock nacional.

O nome dessa jovem? Selma Boiron, que também entraria para a história junto com mais locutoras, como Monika Venerábile, Myllena Ceribelli e outras tantas que passaram pelos microfones da emissora criada e montada por Luiz Antônio Mello, Samuel Weiner Filho, Carlos Lacombe, Amaury Santos, Sérgio Vasconcellos e Alex Marianos.

Selma Boiron foi a primeira locutora a falar na Fluminense 94,9 FM. Foto: Acervo

Autora do livro “Rádio Fluminense FM – A porta de entrada do rock brasileiro dos anos 80”, a jornalista Maria Estrella explica que a emissora causou um forte impacto não só no rock brasileiro, mas na forma de ouvir o gênero como um todo.

“Graças à Fluminense FM que o rock nacional ganhou o formato que iria marcar para sempre uma geração de brasileiros. O que a Maldita fez foi abalar as estruturas do rádio carioca, e até brasileiro, de tal forma que muitas emissoras passaram a fazer o que ela fazia. Tanto que até hoje muitos se lembram da rádio. Apesar dos pouquíssimos recursos financeiros, a Fluminense ousou pela inteligência, pela alta qualidade fora dos padrões comuns da época e, principalmente, pela programação musical diferenciada, algo até hoje lembrados pelos ouvintes”, explica.

Nomes da mídia esportiva

Atualmente, Niterói segue representada por vários profissionais na mídia, seja rádio, televisão, podcastas ou outros veículos do meio. E três exemplos tem mostrado protagonismo em mais de uma plataforma.

Trabalhando há quase 50 anos como comentarista no rádio, Gérson canhotinha também é sucesso no YouTube. Foto: Reprodução/YouTube

No ar como comentarista desde 1974, quando estreou na função pela Rádio Tupi, Gérson, o Canhotinha de Ouro, faz sucesso com o seu canal no YouTube, o Canhotinha 70. Com o humor ácido e as provocações que lhe são tão características, Gérson viralizou diversas vezes neste ano com comentários relacionados ao seu time de coração, o Fluminense.

Famoso pelos bordões, João Guilherme é outro ilustre niteroiense. Foto: Reprodução/YouTube

Conhecido por bordões como “Toca a música”, “Você é um deboche” e “Que desagradável”, João Guilherme é outro niteroiense que não para. No ar na plataforma Paramount +, recentemente voltou a trabalhar no rádio, atuando na emissora que o projetou, a Manchete 760 AM. Recentemente, foi o único narrador do rádio esportivo carioca a narrar a final da Copa do Brasil de 2023 entre São Paulo e Flamengo diretamente do Morumbi.

Bruno Cantarelli faz sucesso no Charla Podcast e na Transamérica FM, Foto: Acervo pessoal

Considerado por muitos como um dos melhores da nova safra de narradores, Bruno Cantarelli tem colhido frutos com o Charla Podcast. Narrador da Transamérica 101,3 FM, ele se juntou ao jornalista Beto Júnior em 2021 para criar o podcast. A iniciativa cresceu a tal ponto que hoje Bruno narra alguns jogos do Campeonato Brasileiro no Premiere por meio do Charla no Premiere.

Cenário atual das emissoras

Nos dias de hoje, o cenário em relação a emissoras em nada lembra o protagonismo de outrora. Atualmente, a cidade conta apenas com uma emissora, a Rádio Mania 90,9 FM, cuja outorga fica em Rio Bonito. E desde 2018 o nome Fluminense desapareceu do rádio niteroiense.

A frequência 94,9 fora arrendada pelo Grupo Bandeirantes em 2005 para a criação da Band News FM no estado do Rio. Em fevereiro de 2017, a direção carioca do grupo optou por transferir a emissora de notícias para a frequência 90,3 FM e os 94,9 tornaram-se Alpha FM. Mas a nova estação teve vida curta e já no ano seguinte passou para as mãos da Igreja Paz e Vida, que também levou os 540 AM.

A igreja, com sede em São Paulo e liderada pelo pastor Juanribe Pagliarin, quitou o pagamento em novembro do ano passado. Segundo comentários nos bastidores, a transação foi de R$ 50 milhões e, dessa forma, tudo o que foi levado pela Fluminense no AM e FM tornou-se história, saindo do ar de maneira definitiva.

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