Aniversário de Niterói: 452 anos comemorados com Missa, inauguração e show neste 22 de novembro histórico

Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) | Divulgação/Alex Ramos/Prefeitura de Niterói
Niterói amanhece agradecendo por mais um aniversario de Niterói: 452 anos comemorados com Missa, inauguração e show neste 22 de novembro Neste sábado, a cidade abre o dia em oração, entrega um espaço cultural e fecha a noite em samba — um rito coletivo que prende passado, presente e futuro numa mesma celebração.
A programação reúne, em sequência, a missa em Ação de Graças na Igreja de São Lourenço dos Índios (9h), a inauguração do Centro Cultural Cauby Peixoto, no Fonseca (11h), e o show de Zeca Pagodinho à noite, na Praia de Icaraí.
A razão de tanta emoção tem raiz e nome: em 22 de novembro de 1573, o cacique Arariboia recebeu da Coroa portuguesa a posse de uma sesmaria que deu início ao aldeamento de São Lourenço — semente do que hoje chamamos Niterói. Essa posse e o aldeamento que dela resultou explicam por que a cidade comemora: não é apenas calendário, é memória de um território forjado por encontros, combates, trocas e convivência entre povos.
Missa solene

Igreja de São Lourenço dos Índios, em Niterói | Divulgação/Wikimedia
A missa da manhã, às 9h, não é gesto protocolar nem distração festiva. É um agradecimento público: a população se reúne para lembrar conquistas que, fora dos holofotes, mudaram a vida de bairros inteiros.
São obras que correram ao lado de reivindicações, políticas que nasceram de lutas comunitárias, escolas que reduziram o analfabetismo, unidades de saúde que diminuíram filas e projetos sociais que deram oportunidades.
Quando a cidade reza, ora, conversa com Deus, ela também conta suas vitórias — e as atribui, com humildade tradicional, à força do trabalho coletivo somado à sempre fundamental proteção divina.
Zona Norte ganha centro cultural para impulsionar atividades artísticas e economia criativa

Centro Cultural Cauby Peixoto em Niterói | Divulgação/Luciano Carneiro/Prefeitura de Niterói
Às 11h, ocorre a entrega do Centro Cultural Cauby Peixoto marca um avanço concreto. Não é só mais um verniz sobre a história: é um casarão histórico restaurado e transformado em equipamento comunitário.
No Fonseca, a cultura ganha salas de aula, palcos de ensaio, espaços para coletivos, exposições e cursos. Para quem batalhou anos por um ponto de cultura na Zona Norte, a fita cortada vale por infraestrutura, visibilidade e oportunidade. A inauguração representa descentralização de políticas culturais; representa, sobretudo, aposta em formação e economia criativa local.
Ver o governo e a sociedade civil se encontrarem ali — no mesmo dia em que a cidade lembra sua origem indígena e colonial — é observar a cidade que soube se desenvolver.
Afinal, a transformação urbana não surge por acaso, mas da insistência de pessoas que exerceram sua cidadania. Em suma, isso passa ainda pelos que reclamaram por calçadas, saneamento, transporte, mais escolas, dentro de suas razões.
O projeto que ora se inaugura é fruto de reuniões com associações de bairro, artistas e professores que reivindicaram lugar para ensinar, criar e resistir. A nova casa cultural é, portanto, avanço institucional e vitória comunitária.
Show com Zeca Pagodinho, em Icaraí: hora de ser feliz e agradecer por tudo que Deus nos deu

Cantor Zeca Pagodinho | Divulgação
A noite em Icaraí, com Zeca Pagodinho, é a outra face desse dia. Se a manhã tem gravidade cívica e a manhã tem sentidos de provisão social, a festa noturna tem a função popular de celebração. O samba não compete com a missa nem com a inauguração; ele os celebra. É o reconhecimento festivo do mesmo corpo social que trabalhou e construiu. Reunir famílias, jovens e idosos na orla é reafirmar laços. É transformar agradecimento em abraço público, em canto coletivo, em memória afetiva.
Comemorar significa entender por que se comemora: lembrar Arariboia, lembrar a instalação do aldeamento, a elevação a vila e, mais tarde, a cidade; lembrar as várias fases em que Niterói foi capital da província e, em momentos distintos, centro administrativo e cultural da região. Significa também reconhecer onde ainda faltam passos: mais investimento em periferias, políticas que preservem patrimônio e soluções que distribuam oportunidades com justiça.
O 22 de novembro passa, assim, por três gestos que se complementam: oração, obra e festa. Cada um deles confirma um legado — e abre espaço para o próximo capítulo. Niterói agradece a Deus, celebra o seu povo e inaugura equipamentos que comprovam ter aprendido a transformar desejo coletivo em política pública. À noite, quando a cidade dançar sob o som do samba, terá também a certeza de que celebrar é continuar trabalhando por mais dignidade e mais futuro.
Niterói, o que seria do Brasil sem você

Parque Urbano de Niterói, em Charitas | Reprodução/Pexels
O 22 de novembro passa, assim, por três gestos que se complementam: oração, obra e festa. Cada um confirma um legado — e abre espaço para o próximo capítulo. Mas para entender por que uma cidade inteira se reúne em agradecimento é preciso voltar ao que havia aqui antes de haver rua, iluminação ou prefeitura. É preciso lembrar de povos, tratados, lutas e de uma posse que virou memória.
Antes de Niterói haver, havia os Temiminós e outras nações indígenas que ocupavam a costa e suas enseadas. Esses povos tinham organização, nomes e lideranças; entre elas sobressaiu Arariboia — chefe temiminó cuja atuação marca o ponto de partida da história urbana local.
Em um teatro colonial movido por alianças e conflitos, Arariboia firmou laços com os portugueses contra facções rivais e, por sua contribuição, recebeu da Coroa uma concessão de terras — a tal sesmaria — que se transformaria no aldeamento de São Lourenço. Esse gesto inicial, de posse e assentamento, é o embrião daquilo que se tornaria, séculos depois, a cidade que conhecemos.
O calendário, a data e suas polêmicas academicistas
A própria data de 22 de novembro de 1573 — repetida em celebrações e placas — tem sabor de mito e de controvérsia documental. Historiadores locais e arquivos trazem versões diferentes.
Há relatos que apontam o ato de posse nesse dia. Por outro lado, há outros que registram variações (outubro, em alguns documentos). Além disso, ainda temos quem defina outro marco como mais apropriado para falar de “fundação”: a instalação oficial de vila.
Os mais radicais, mesmo assim, consideram a elevação legislativa ocorrida entre o fim do Império e o advento da ordem provincial. Mas essa discussão de valia histórico-doutrinária não empobrece a festa. Pelo contrário, a enriquece, revelando a plena capacidade da cidade de refletir sobre suas origens. Mesmo não havendo “questão fechada” entre os acadêmicos, essa genealogia de episódios sempre vem à tona no 22 de novembro.
Evolução transforma Niterói e a coloca em outro patamar
Do aldeamento de São Lourenço ao centro urbano houve um caminho longo, ao passo que a economia se expandiu, o interesse em nossos potenciais e vocações aumentou. Por consequência, houve o adensamento no território, que começou a se expandir, na medida em que recebeu gente, comércio e instituições.
Dessa forma, manter esse território tão importante como um aldeamento não tinha mais sentido. Principalmente a Aldeia de São Lourenço dos Índios não prosperou e as atividades econômicas aqui se desenvolviam em torno do povoado de São Domingos da Praia Grande.

Estátua do Araribóia | Divulgação/Wikimedia
Desde 1815, o Rio de Janeiro — liberto dos franceses por Arariboia — havia alcançado a condição de capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Quatro anos mais tarde, em 28 de março de 1819, um Alvará Régio assinado pelo rei D. João VI elevou o povoado de São Domingos da Praia Grande. Meses depois, em 11 de agosto, é instalada a Câmara Municipal de Niterói. Naquele tempo, a Câmara reunia todos os poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O cargo que acumulava esses três poderes se chamava Juiz de Fora. Mas o “de fora” expressava realmente não pertencer àquela localidade.
Primeira sessão da Câmara

Câmara Municipal de Niterói | Divulgação
Para deixar claro tratar-se de autoridade de fora, seus olhos, boca e ouvidos estavam a serviço do Reino e, mais ainda, do Rei. Coube a José Clemente Pereira o desígnio de assumir este cargo, ao tomar posse na Câmara de Niterói, juntamente com outros três vereadores. Porém, somente o Juiz de Fora recebia salário e havia alto índice de desistência ou renúncia dos vereadores em continuar exercendo seus cargos.
A primeira reunião aconteceu na casa de uma senhora chamada Elena Casemira, no local onde era o Hospital Santa Cruz. Há registros históricos de que algumas reuniões chegaram a acontecer na Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Trata-se, na verdade, da primeira célula do que vem a ser a atual organização política de Niterói.
A transformação institucional — de aldeamento a vila, de vila a cidade e a capital provincial — materializou-se em atos e leis que reconfiguraram territórios e funções.
Capital da província
Por exemplo, em 1835, Niterói ganhou estatuto urbano que a elevou a uma nova condição: a de capital da província (estado) do Rio de Janeiro.
Importante frisar que essas etapas e outras etapas não se tratam de meros carimbos legais, porque sinalizam escolhas econômicas, logísticas e simbólicas. Tais atos públicos selaram o deslocamento do eixo de poder local em reconhecimento às vocações naturais de seu ambiente econômico e populacional.
Daí então, memória e patrimônio se entrelaçam. Sobretudo, por meio de estátuas, nomes de ruas, festas e escolas, que se tornaram instrumentos de uma narrativa pública que escolheu recordar Arariboia como fundador.
Participar da história
As imagens públicas — do busto antigo à estátua monumental que hoje marca lugares de passagem — mostram como a cidade reescreve sua própria imagem ao longo do tempo. Não se trata de concordar ou discordar, mas de participar dos processos históricos daqui por diante. Entretanto, isso requer busca por conhecimento e aprofundamento de direitos e deveres. Além disso, tens o dever de ser coerente e dono de suas falas.
Por isso, mover ou restaurar uma escultura, por exemplo, não consiste somente numa questão estética. Acima de tudo, quando estamos tratando de nossa política de memória. E essa política dá o oriente das formas de comemoração: não apenas pelo que rememora, mas pelo que se quer preservar e ensinar.
Assim sendo, a missa matinal, a inauguração do centro cultural e o samba noturno se articulam numa mesma narrativa social. A celebração religiosa reapresenta a cidade como comunidade moral; a fita cortada no Fonseca materializa um sucesso coletivo na disputa por acesso à cultura; o show em Icaraí transforma esses acertos em festa popular.
Enlace histórico-temporal
Juntos, esses atos contam uma história contínua: a de um território que nasceu de um acordo, foi lapidado por gerações e hoje celebra conquistas obtidas pela ação direta de seu povo — lideranças comunitárias, professores, artistas, comerciantes e famílias que tornaram viável o progresso cotidiano.
A história, cuja contação se renova a cada ano com algumas adaptações, está em constante evolução e documentação. Mas pior do que uma página em branco é aquela mal-escrita. Não pelo que se deve cobrar do poder público — esse dever é inalienável para nós — mesmo em tempos de festa. Mas toda história tem seu tempo e, nesses tempos de intolerância, radicalismo e preconceito que vivemos, narrativas e discursos de ódio não geram sequer retrocesso.
Então, cabe-nos sim, após uma missa, desejar uma cidade mais Cristã. Principalmente, através de ações de fraternidade, irmandade, solidariedade, perdão e amor ao próximo tão difundidas pelo Cristo. Desejamos, também, que o corte da fita de inauguração de um equipamento público venha acompanhado de outros. Qualquer pergunta, nesse sentido, denota preocupação com nosso progresso e futuro.
Por fim, quando o show terminar, pedir bis. Porque cultura também é política pública. Ou não? Afinal, a cidade repete um gesto ancestral: agradecer e renovar o pacto coletivo.
Portanto, a comemoração não cura todas as feridas, tampouco apaga controvérsias políticas atuais ou passadas. Mas afirma uma ideia central — que a cidade existe porque foi desejada, construída e reinventada por gente que não se acomodou. E isso, mais que qualquer data, é o motivo de continuar celebrando sempre, mais e mais…
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