Niterói 450

Niterói 450: histórias da Região Oceânica

Praia de Itacoatiara, com o seu famoso “Costão” ao fundo, um dos principais pontos turísticos da Região Oceânica | Créditos: Contramaré Comunicação/Folha do Leste © Todos os Direitos Reservados (proibida a reprodução)

Quem nasceu e/ou cresceu na Região Oceânica de Niterói entre os anos 1950 a 1970 conviveu em uma área onde a palavra urbanização parecia ser um sonho distante se comparado a bairros como Icaraí e Ingá. Mas desde o início da década de 2010, antigas promessas, que já ganhavam a característica de folclóricas por nunca serem realizadas até então, tornaram-se realidade, como a construção do Túnel Charitas-Cafubá, inaugurado em 2017, e o Parque Orla Piratininga, que desde abril de 2023 está em funcionamento parcial. Apesar disso, a área ainda tem desafios com antigas questões ambientais, como a alta mortandade de peixes na Lagoa de Piratininga.

Mas, entre desafios e realizações, fato é que o local conta com uma série de peculiaridades históricas, como o fato de já ter pertencido às cidades do Rio de Janeiro e de São Gonçalo. Além disso, culturalmente falando, foi na região que surgiu um dos principais grupos da MPB, o Clube da Esquina.

Túnel Charitas-Cafubá foi inaugurado em 2017, depois de mais de 40 anos só de promessas. Foto: André Freitas/Folha do Leste

Conhecida por muitos niteroienses por suas belezas naturais e atrações culturais, a Região Oceânica tem como destaque o Parque Estadual da Serra da Tiririca, um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica. Além disso, a história da área foi marcada por povos sambaquieiros, índios, portugueses donatários de sesmarias e jesuítas, que pode ser notada na arquitetura da Paróquia São Sebastião de Itaipu (1716) e do Convento de Santa Tereza (1784), onde funciona o Museu de Arqueologia de Itaipu. 

 

A Igreja de São Sebastião de Itajpu foi a primeira a surgir na área | Créditos: Contramaré Comunicação/Folha do Leste © Todos os Direitos Reservados (proibida a reprodução)

Entre os costumes dessa região ressalta-se a história da comunidade tradicional do Morro das Andorinhas, a pesca artesanal e a gastronomia, as manifestações culturais no Quilombo do Grotão nos finais de semana e a cultura rural dos haras no Engenho do Mato, onde foi tombado o Circuito Turístico Caminho de Darwin, local por onde passou o naturalista Charles Darwin em 1832. Capela de Nossa Senhora de Bonsucesso, fundada em 1717. 

O bairro surgiu da partilha da Fazenda Engenho do Mato, que tinha como função principal a produção de banana prata e grande variedade de hortifrutigranjeiros, destinados principalmente ao centro consumidor de Niterói.

De freguesia carioca a área gonçalense

A área ocupada pela antiga Fazenda do Engenho do Mato já foi parte de uma sesmaria pertencente a José Gonçalves Malheiros. Era nessa época que a então Freguesia de São Sebastião de Itaipu, elevada a esta condição em 1755, pertencia à cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, em 1819, a área foi desmembrada para a Vila Real da Praia Grande juntamente com outras três freguesias. 

Antes dos engenhos, a Igreja Católica já marcava presença no local com a construção em 1716 da Capela de São Sebastião, que tornou-se paróquia em 1721.

Quase 170 anos depois, em 1890, Itaipu e as áreas adjacentes passaram a pertencer ao então município recém-inaugurado de São Gonçalo. Apenas em 1943, portanto há exatos 80 anos, é que toda a área foi reincorporada ao município de Niterói, que ficou dividido em dois distritos: o da sede, compreendendo duas zonas e bairros – estritamente urbanos, e o de Itaipu, essencialmente rural.

Assentamentos a partir da década de 1950

Se os bairros que formavam a região eram praticamente todos rurais, o cenário urbano começou a mudar já no início dos anos 1950, quando a Companhia Geral de Empreendimentos contratou os antigos proprietários da Fazenda de Piratininga para fazer o loteamento, com desmembramento de parte do imóvel em aproximadamente nove mil lotes.

Uma reportagem do Jornal do Comércio de 23 de março de 1980 dizia que a “referida companhia anunciava nos jornais a venda de lotes em prestações menores do que o preço de um refrigerante”

Em 1955, o Ministério da Marinha autorizou que a região tivesse obras de saneamento e de aterro dos terrenos marginais. E também foi nessa mesma década que a prefeitura autorizou a venda de lotes na região para que a população pudesse habitar a área.

Especulação imobiliária a partir da década de 1970

O grande “boom” populacional e urbanístico da Região Oceânica teve início nos anos 1970, mais precisamente em 1976, com o Plano Estrutural de Itaipu. O projeto previu o aterro das margens da lagoa do bairro, sendo marco do processo de transformação ambiental da área, e a abertura de um canal permanente de ligação entre o mar e a laguna de Itaipu, para permitir o acesso de embarcações aos terrenos situados no interior da lagoa, provocando a modificação do ecossistema.

 

Lagoa de Piratininga, com deslumbrante vista para o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro | Foto: Angélica Carvalho/Folha do Leste © Todos os Direitos Reservados (proibida a reprodução)

No início da década de 1980, surgiram os “loteamentos especiais” baseados na deliberação n.º 2705 de 1970, consistindo em condomínios horizontais, apresentando como atrativo, a segurança e oferecendo um elevado padrão de qualidade habitacional e de infraestrutura urbana, incentivando o aparecimento de vários projetos. Fatores que justificaram ser a região, dentre as do município, que mais cresceu demograficamente.

E foi a partir dos anos 1990 que a preocupação ambiental passou a fazer parte, ao menos oficialmente, da agenda da prefeitura. Em 1992, foi elaborado o Plano Diretor de Niterói, que, entre inúmeras promessas, constava o compromisso de criar o Zoneamento da Lagoa de Itaipu.

Lagoa de Itaipu | Foto: André Freitas/Folha do Leste © Todos os Direitos Reservados (proibida a reprodução)

 

Surgimento do Clube da Esquina

Uma das características mais marcantes da área, as belezas naturais, foi usada como o pontapé para o surgimento de um dos principais grupos da MPB: O Clube da Esquina. Curiosamente, todos os integrantes eram nascidos em um estado onde não existe mar, Minas Gerais. Então como surgiu a ideia de reunir cantores mineiros em uma área litorânea? Em entrevista ao Fantástico em 2022, um dos integrantes, Milton Nascimento, explicou.

“Um empresário meu disse: ‘Vocês têm que ir para longe. Eu conheço uma casa em um mar azul que é uma delícia’. E aí começamos a compor, sem parar, o dia inteiro. A casa tinha três andares, víamos o mar lá de cima. Era uma coisa lindíssima”, relembrou durante entrevista exibida em 22 de maio do ano passado.

Além de Milton, outros cantores e compositores formavam o grupo, como Lô Borges, Beto Guedes e Wagner Tiso. Embora todos se conhecessem desde a infância vivida em Belo Horizonte, capital mineira, o primeiro disco foi composto e gravado quando o grupo morou em Piratininga, em 1972.

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