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Niterói 450 anos: Conheça um pouco da história de Arariboia

Foto: Reprodução/redes sociais

Qualquer pessoa que pegue a barca todos os dias se depara com ele. Ou melhor, com uma estátua que o represente. Famoso por ser o fundador de Niterói, até hoje há poucas informações sobre a vida de Araribóia (cujo o significado em português quer dizer “cobra valente”), mas uma coisa é certa. São raras as vezes que se viu na história um valor tão grande a uma figura indígena igual a que se dá ao integrante dos temiminós, tribo da qual fazia parte.

Se é verdade que hoje debate-se a importância do reconhecimento e valorização de figuras históricas pretas e indígenas do Brasil, também é fato que Niterói pode ser considerara vanguardista nisso. Enaltecer um índio bem antes da conscientização sobre o valor de tais personagens históricos em nosso país.

O reconhecimento se dá pela forma como a estátua está localizada na praça que também herdou o nome do indígena. Está lá Araribóia de frente para a Baía de Guanabara, com seu olhar sério, vigiando e zelando pela segurança dos niteroienses, embora há quem afirme numa piada antiga que o indígena teria virado as costas para a cidade. Mas, entre simbolismos e piadas, uma pergunta se faz necessária. Quem foi, afinal, Araribóia?

Mistério sobre o ano de nascimento

Durante décadas havia um mistério sobre o nascimento de Araribóia, mas em 2022 o jornalista Rafael Freitas da Silva levantou a possibilidade dele ter nascido em 1520, segundo consta no livro “Araribóia: O Indígena que fundou o Brasil”. Mas se é incerto saber o ano em que o indígena veio ao mundo, por outro lado sabe-se que, embora tenha fundado Niterói, ele nasceu e fora criado onde hoje se encontra a Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio.

O perfil de líder pelo qual é descrito pela historiografia não é por acaso. Filho de Maracajá-Guaçu, principal dos temiminós, ele foi criado na Ilha de Paranapuã. E a rivalidade dessa tribo com os Tamoios, aliados dos franceses durante a invasão que teve início em 1555, já existia na ocasião.

Segundo conta Carlos Wehrs no livro “Niterói, Cidade Sorriso. A História de um lugar”, Araribóia migrou com toda a tribo para a Capitania do Espírito Santo. Ao chegar lá, fora bem recebido pelo donatário Vasco Fernandes Coutinho e protegido pelo jesuíta Brás Lourenço. Foi neste contexto que tornou-se aliado dos portugueses, tendo voltado à Guanabara em 1564 para lutar ao lado de Estácio de Sá.

Fundamental na vitória portuguesa, sacramentada em 1567 sobre os franceses liderados por Villegagnon, Araribóia, ou Martim Afonso de Souza, nome que recebeu de seu padrinho, também chamado assim, fez uma petição. A de receber como recompensa pelos serviços prestados uma porção de terra localizada no outro lado da Baía de Guanabara.

Posse após renúncia

O pedido feito pelo temiminó tinha tudo para se tornar uma dor de cabeça para o então governador da capitania do Rio de Janeiro, Mem de Sá, tio de Estácio de Sá, colega de Araribóia na batalha contra os franceses e que tinha morrido um mês após ser vítima de uma flechada envenenada na batalha de Uruçu-Mirim, decisiva para a vitória portuguesa. O local abriga atualmente o Tributo à Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul.

Mas que dor de cabeça seria essa? Como Araribóia não queria voltar para o Espírito Santo e a Ilha de Paranapuã já estava habitada, foi do outro lado da Baía de Guanabara que o indígena encontrou o local ideal para a sua tribo ficar. Entretanto, aquela terra já tinha dono, Antônio de Mariz. Mas, surpreendentemente, o então proprietário abriu mão da terra em um documento de 16 de março de 1568. Com isso, o cacique e todos os integrantes da mesma tribo passaram a habitar o local meses depois.

Se Araribóia mudou-se para Niterói em 1568, por que o município foi fundado cinco anos depois? Porque, mais uma vez, os franceses tentaram ocupar a região, mas, naquele momento, com o intuito de  estabelecer seus domínios até Cabo Frio. Mais uma vez diversas batalhas aconteceram até a saída definitiva dos invasores franceses em solo fluminense. 

Devidamente catequizado pelos jesuítas, Araribóia casou-se em 1570 segundo documento datado de 21 de maio do mesmo ano. Morador do que seria o atual bairro de São Lourenço dos ìndios, ele morreu em 1589, provavelmente, vítima de uma epidemia, de acordo com a “Anua”, uma espécie de documento anual que jesuítas faziam.

Incertezas sobre a data de fundação de Niterói

Os poucos documentos que trazem detalhes da vida de Araribóia se, por um lado, tiram algumas dúvidas sobre aspectos de sua existência, por outro, causam mais dúvidas sobre a data em que teria ocorrido a fundação de Niterói.

Falecido em 2017, o jornalista e historiador especialista em temas relacionados a Niterói, Emmanuel Bragança de Macedo Soares afirmou, em artigo publicado no dia 8 de julho de 1973 no jornal O Fluminense, que em 22 de novembro de 1573 ocorreu a posse da terra por Araribóia, e não a fundação da cidade.

“O que se deu a 22 de novembro de 1573 foi apenas a posse de um concessionário sobre uma porção de terra que deveria aproveitar para si e seus ascendentes e descendentes. Uma concessão como outra qualquer, semelhante a treze feitas anteriormente a esta”, declarou na ocasião.

No mesmo artigo, Soares sugere que uma outra data poderia ser considerada, de fato, como a da fundação.

“Pode também considerar-se fundação da cidade a data do Ato Edílico que a constituiu. Este ato não foi praticado a 22 de novembro de 1573, mas somente a 28 de março de 1835 – no caso a lei nº 6, aprovada pela primeira Assembleia Legislativa Provincial, que elevou à cidade a então Vila Real da Praia Grande, já transformada, dois dias antes, em Capital da Província”, afirmou no mesmo artigo. 

Apesar de considerar a data de 25 de março de 1835 como relevante, o historiador afirmava acreditar que a verdadeira data da fundação de Niterói era outra: 11 de agosto de 1819, quando se instalou no local a Vila Real de Praia Grande

Já outro historiador, José Inaldo Alonso defendia o dia 22 e o ano de 1573 como dia e anos de fundação. Mas o mês em que Araribóia tomou posse foi outro, em outubro.

“E podemos mesmo supor que antecedeu à posse uma ocupação paulatina e preparatória do terreno até que se procedeu a posse. Sei de outra a que compareceu também o governador capitão Cristóvão de Barros. Mas vê-se logo que o intuito ali não foi o de solenizar. Exatamente um mês antes, 22 de outubro de 1573”, afirmou em artigo escrito também para O Fluminense em 15 de julho do mesmo ano.

Uma semana depois, em 22 de julho, Macedo Soares voltaria a escrever sobre a data, desta vez afirmando que não é possível saber qual data seria a correta por causa de um erro de tipografia no documento que confirma a posse de Araribóia em Niterói.

“…diante de um erro tipográfico (e há muitos ali) fica-se sem saber qual versão original. Vamos dar um exemplo: o Auto de Posse de Arariboia, tem, na abertura, a data de 22 de novembro. E, no fechamento, a de 22 de outubro.”, argumentou Soares.

Questões envolvendo a data de fundação de Niterói à parte, uma coisa é certa. Desde 2020 que a data deixou de ser feriado municipal.

 

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