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Mural gigante de Milton Nascimento transforma a Lapa em símbolo de identidade negra

Mural gigante de Milton Nascimento transforma a Lapa em símbolo de identidade negra | Divulgação/Secretaria Especial de Direitos Humanos e Igualdade Racial

O mural de Milton Nascimento na Lapa passa a integrar a paisagem urbana do Rio a partir de dezembro. A obra ocupa 300 metros quadrados na lateral do prédio da Associação Cristã de Moços (ACM) e eterniza o rosto de um dos maiores nomes da música popular brasileira no coração do bairro histórico.

Ao mesmo tempo, a intervenção reforça políticas públicas de memória, representatividade e combate ao racismo, com foco na valorização da cultura afro-brasileira.

Arte urbana como política pública

Intitulada “Semente da Terra”, a obra integra ações estratégicas da Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Especial de Direitos Humanos e Igualdade Racial (SEDHIR). A iniciativa busca ocupar o espaço urbano com narrativas negras, além de estimular reflexão sobre lutas, conquistas e pertencimento.

Segundo a gestão municipal, a proposta conecta arte, território e identidade, fortalecendo a presença simbólica da população negra na cidade.

Milton como símbolo de resistência e ponte geracional

Para o secretário Edson Santos, o mural carrega um significado político direto. Ele destaca que Milton Nascimento representa uma geração que rompeu silêncios, abriu caminhos e construiu pontes culturais.

De acordo com a SEDHIR, a obra dialoga com ações iniciadas no Novembro Negro Rio, ampliando estratégias de enfrentamento ao racismo, promoção da autoestima e reconhecimento da contribuição negra para a história do Brasil.

Gugie Cavalcanti assina a obra

A artista visual Gugie Cavalcanti assina o mural. Reconhecida nacionalmente por obras de grande escala, ela coloca narrativas negras no centro da arte urbana contemporânea.

A execução envolveu uma equipe majoritariamente negra, da produção à técnica em altura. Gugie contou com assistência de Tebla, Aira oCrespo, Doog e Ricardo Coé, artistas da Zona Norte e da Baixada Fluminense. Para o grupo, essa foi a primeira participação em uma empena desse porte.

Segundo a artista, a intervenção afirma presença, identidade e pertencimento, além de convidar o público a desacelerar e se reconhecer na paisagem da cidade.

Família participa da inauguração

Augusto Nascimento, filho de Milton, participou da inauguração do mural nesta quinta-feira (18). Ele destacou o carinho do público e o reconhecimento dedicado ao legado do pai.

A presença da família reforçou o caráter afetivo e simbólico da homenagem, que transforma a Lapa em um espaço de memória viva.

Novembro Negro fortalece ações permanentes

Criado em 2023 por decreto do prefeito Eduardo Paes, o Novembro Negro Rio passou a integrar o calendário oficial da cidade. Desde então, a data consolidou ações permanentes de reflexão, educação e políticas públicas voltadas à igualdade racial.

O mural integra esse conjunto de iniciativas e amplia o alcance do debate para além do mês temático.

Milton Nascimento: trajetória e reconhecimento

Carioca de origem e mineiro de coração, Milton Nascimento tem 83 anos e ganhou projeção internacional com o Clube da Esquina, movimento surgido nos anos 1960 em Minas Gerais.

Ao longo de mais de seis décadas de carreira, ele recebeu inúmeros prêmios, além de cinco indicações ao Grammy Latino. No dia 16 de dezembro, Milton recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Fiocruz, em reconhecimento à relevância artística e ao impacto social de sua obra.

Quem é Gugie Cavalcanti

Nascida em Brasília e radicada no Rio, Gugie Cavalcanti já produziu mais de 15 murais de personalidades negras em todas as regiões do Brasil. Grafiteira, arte-educadora e mãe, ela é formada em Artes Visuais pela UDESC.

Sua pesquisa transita entre pintura, muralismo e práticas relacionais. Em suas obras, o povo negro aparece como sujeito pleno, vivo e protagonista.

Entre os trabalhos recentes, destacam-se exposições como Carolinas (2025), na Caixa Cultural de São Paulo, Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro (SESC) e as individuais Mudanças (2022) e Gestos (2020), esta última premiada pelo Pretas Potências.

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