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Morre o jornalista Luiz Antônio Mello, idealizador da Fluminense FM, a “Maldita”

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello, editor-chefe de A Tribuna e idealizador da Fluminense FM, a "Maldita" | Imagem cedida pelo jornal A Tribuna

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello, editor-chefe de A Tribuna e idealizador da Fluminense FM, a “Maldita” | Imagem cedida pelo jornal A Tribuna

O jornalismo fluminense amanheceu de luto e o Brasil perdeu, nesta quarta-feira (30), uma de suas mentes mais brilhantes e inquietas: o jornalista e radialista Luiz Antônio Mello, o LAM. Gênio da comunicação, visionário da cultura e alma generosa, ele nos deixou aos 70 anos, após uma parada cardíaca durante um exame no Hospital Icaraí, em Niterói, onde estava internado por conta de complicações de uma pancreatite.

Muito mais do que um jornalista, Luiz Antônio Mello representa para a comunicação um farol para as gerações que o sucederam. Em síntese, um transformador de realidades, desbravador de caminhos onde nada havia além de silêncio.

Sua trajetória começou quase por acaso, nos anos 1970, mas logo se revelou uma força da natureza. Ao colocar as mãos pela primeira vez numa máquina de escrever, sentiu o chamado do jornalismo – e jamais se afastou dele.

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello, que revolucionou o rádio abriu espaço para o rock and roll brasileiro com a "Maldita" Fluminense FM nos anos de 1980 | Reprodução

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello, que revolucionou o rádio abriu espaço para o rock and roll brasileiro com a “Maldita” Fluminense FM nos anos de 1980 | Reprodução

Logo no início, mostrou a que veio, mesmo quando lhe demandavam pautas ou enquetes sensacionalistas. Passou por veículos como o Jornal de Icaraí, Rádio Federal, Rádio Tupi, Jornal do Brasil e Última Hora, onde já se destacava por seu faro afiado, linguagem direta e compromisso inabalável com a verdade. Mas foi em 1981, como mentor do projeto que daria origem à lendária Rádio Fluminense FM – A Maldita, que LAM se imortalizou. A Prefeitura de Niterói lamenta o falecimento, nesta quarta-feira (30), do jornalista Luiz Antonio Mello.

Sucesso

A rádio, lançada oficialmente em 1º de março de 1982, não apenas mudou o dial: ela sacudiu as estruturas da comunicação e da música no Brasil.

Sob a genialidade inquieta de Mello, a Maldita ousou tocar o que ninguém tocava, dar voz ao que era ignorado e abrir espaço para artistas que, até então, viviam à margem. Blitz, Kid Abelha, Barão Vermelho, Cazuza, Frejat, Legião Urbana, Renato Russo – todos emergiram sob a trilha sonora traçada por LAM.

Estúdio da Fluminense FM, a Maldita | Reprodução

Estúdio da Fluminense FM, a Maldita | Reprodução

Acima de tudo, há um fato que não se pode olvidar: através da “Maldita”, Luiz Antônio Mello ajudou a pavimentar o caminho para o nascimento do primeiro Rock in Rio, em 1985 – o maior festival de música da América Latina, que até hoje reverbera a força daquela revolução.

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Primordialmente, Luiz Antônio Mello, além de criador da Maldita,  deu o seu sangue para o coração dela pulsar. Tratava-se, sobretudo, de um mestre que liderava com firmeza e doçura na mesma intensidade. Um notável profissional que ouvia, incentivava, assim como dividia os méritos. Em suma, ele não buscava os holofotes, mas sim a transformação. Por exemplo, a decisão de não repetir a execução de uma música mais de uma vez no dia.

Todavia, suas atitudes de inovação não diminuíam sua humildade e generosidade com  seus colegas e colaboradores. Tenso, intenso, mas modesto e despojado nos momentos de imperfeição, quando se desculpava até mesmo além do necessário.

Do livro ao filme

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello

Sua obra, registrada no livro A Onda Maldita, publicado em 1994, relata de modo visceral e apaixonado os bastidores da rádio que sacudiu uma geração. Em 2016, o livro deu origem ao documentário homônimo, dirigido por Rodolfo Viana. Desse modo, ficava registrada a história de resistência e inovação que nasceu em Niterói, sob o comando de um gênio da comunicação.

Em 2024, a trajetória visionária de Luiz Antônio Mello voltou aos holofotes com o lançamento do filme Aumenta que é Rock and Roll, inspirado em sua vida e no livro A Onda Maldita.

Morre o jornalista Luiz Antônio Mello

A obra cinematográfica levou ao grande público a saga da Rádio Fluminense FM e o impacto cultural que ela causou no Brasil. Com direção de Tomás Portella, o longa homenageia não apenas a revolução sonora comandada por LAM, mas também sua coragem em romper barreiras e transformar o rádio em uma trincheira de liberdade.

A produção reafirmou o papel histórico de Mello como catalisador de uma das maiores viradas culturais do país. Igualmente, eternizou sua genialidade nas telas do cinema nacional.

LAM: sinônimo de cultura

Sempre apaixonado por Niterói, nunca deixou de exaltar sua cidade natal, nem quando ocupou cargos públicos voltados à cultura. Onde esteve, promoveu talentos, abriu portas e democratizou o acesso à arte. Sua atuação na gestão cultural pública foi marcada por ética, criatividade e profundo respeito pela diversidade artística.

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LAM também teve passagens marcantes pela Globo FM, pela gravadora Polygram – onde foi responsável por lançamentos históricos de artistas como Dire Straits, Tears for Fears, Jimi Hendrix e Janet Jackson – e pela Rede Manchete, onde dirigiu programas e musicais que marcaram época. Foi produtor musical, articulador cultural e referência intelectual.

De volta às origens

Desde 2021, Luiz Antônio Mello ocupava o cargo de editor-chefe do jornal A Tribuna, onde voltou às raízes com o mesmo entusiasmo do jovem que, um dia, descobriu sua vocação na redação do mesmo periódico. Até o fim, LAM se manteve fiel à sua missão: informar, provocar, emocionar.

O jornalista André Freitas, diretor-executivo do Folha do Leste, trabalhou com Luiz Antônio Mello em A Tribuna, ocupando a mesma função. André já estava no jornal quando Luiz Antônio chegou, “tal qual um jovem para um primeiro emprego”.

“Ele iniciava de manhã e me entregava o turno à tarde, quando nos reuníamos para um balanço. LAM não era apenas um jornalista. Era uma lenda viva. Um construtor de sonhos, de ondas, de ideias. E agora, com sua partida precoce e inesperada, deixa um silêncio irreparável nos estúdios, nas redações, nas páginas da cultura brasileira”, declarou André Freitas.

Nossos sentimentos

Em homenagem e reverência a esse ícone da comunicação, o FOLHA DO LESTE deseja que Luiz Antônio Mello propague intensamente sua frequência  bendita no espectro do céu, onde certamente já ocupa o prefixo 94,9 MHz.
De igual forma, que a revolução que ele iniciou aqui continue pulsando nas novas gerações de comunicadores, artistas e sonhadores. Obrigado, Luiz Antônio Mello. O Brasil te deve mais do que palavras podem expressar.
Manifestamos, ainda, nossa deferência aos veículos “Jornal de Icaraí” e “A Tribuna”, juntamente com nossos votos de pesar pelo falecimento de Luiz Antônio Mello. Além disso, destacamos a importância histórica que esses veículos de comunicação possuem na história da comunicação fluminense. Principalmente, por sempre acolherem profissionais de comunicação, assim como por abrirem caminho para a existência – e resistência  – de outros veículos de comunicação.

 

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