
Morre o ator Ney Latorraca, aos 80 anos, no Rio de Janeiro | Reprodução
O Brasil se despede de Ney Latorraca, um dos grandes nomes do teatro e televisão. O ator morreu aos 80 anos, na manhã desta quinta-feira (26), após uma luta contra uma sepse pulmonar, decorrente de um câncer de próstata. Ney estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, Rio de Janeiro, desde o dia 20/12, que emitiu nota à imprensa sobre o falecimento do artista.
“A Clínica São Vicente lamenta profundamente a morte do paciente Antônio Ney Latorraca na manhã desta quinta-feira e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda. O hospital também informa que não tem autorização da família para divulgar mais detalhes”, diz o comunicado.
Doença e luta contra o câncer
Inicialmente diagnosticado com câncer na próstata em 2019, Ney passou por uma cirurgia para retirada do órgão, tratamento que parecia eficaz até agosto de 2024. Porém, a doença regressou já em forma de metástase. O avanço do câncer levou o ator a um quadro crítico, que teve, como resultado, uma sepse fatal. Em resumo, sua partida se trata de uma grande perda para a dramaturgia brasileira.
Ney deixa o marido, Edi Botelho, com quem foi casado por três décadas. Porém, ainda não há informações sobre horário e local do funeral.
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O câncer de próstata, principal causa da morte de Ney Latorraca, é a segunda neoplasia mais comum entre homens no Brasil. A doença atinge, sobretudo, 75% dos pacientes com mais de 65 anos. Dificuldade de urinar, sangue na urina e dor são alguns dos sintomas, ao passo que o rastreamento precoce é essencial para evitar complicações.
Início nos palcos
Filho do cantor Alfredo e da corista Tomaza, Ney Latorraca nasceu na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, em 25 de julho de 1944. Afiliado de batismo de Grande Otelo, já iniciou sua vida em meio às artes, sobretudo no teatro estudantil.
O primeiro personagem marcante foi Pluft, o Fantasminha, aos 19 anos. Mas logo cedo, aos 20 anos, ele viveu tempos de repressão às artes, quando participou da peça “Reportagem de um Tempo Mau”, dirigida por Plínio Marcos, em São Paulo. Entretanto, o regime militar censurou sua exibição após a primeira apresentação.
Outras Peças no Teatro
- Hair (1970)
- Jesus Cristo Superstar (1972)
- Bodas de Sangue (1973)
- A Mandrágora (1975)
- Othello (1982)
- O Rei Lear (1983)
- O Mistério de Irma Vap (1986/1997)
- O Médico e o Monstro (1994)
- Don Juan (1995)
- Quartett (1996)
- O Martelo (1999)
- 3 x Teatro (2000)
- Capitanias Hereditárias (2002)
- A Escola do Escândalo (2011)
- Entredentes (2014)
- As Cadeiras (2016)
- Vamp – O Musical (2017)
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Televisão
Na televisão, Ney estreou nas novelas “Beto Rockfeller” (1968) e “Super Plá” (1969), ambas na TV Tupi. Ele também passou pela Record antes de ingressar na TV Globo, onde construiu uma carreira marcante. Também trabalhou na dramaturgia do SBT, bem como chegou a regressar à Rede Record.
Entre seus papéis mais conhecidos estão o Conde Vlad de “Vamp” (1991). De igual forma, o Cornélio Valente, um homem traído pela esposa e explorado pelo cunhado e pela sogra em “O Cravo e a Rosa” (2000). Já em “Da Cor do Pecado” (2004), como o falido Edu, era casado com a personagem Verinha, interpretada por Maitê Proença. Eles viviam de trambiques, juntamente com a filha Bárbara (Giovanna Antonelli), que deu o golpe da barriga no personagem vivido por Lima Duarte.
Torraca também participou de outras tramas marcantes, assim como minisséries e participações especiais.
Trabalhos de Ney Latorraca na TV
- O Grito (1975) – Sérgio
- Estúpido Cupido (1976) – Antônio Ney Medeiros (Mederiquis)
- Sem Lenço, sem Documento (1977) – Marco
- Saudade Não Tem Idade (1978)
- Dancin’ Days (1978) – Ele mesmo
- Malu Mulher (1979) – André
- Cabocla (1979) – Tonho
- Plantão de Polícia (1979)
- Aplauso (1979) – Episódio: Como Matar um Playboy
- Chega Mais (1980) – Jonas
- Coração Alado (1980) – Leandro Serrano
- Caso Verdade (1982) – Antoninho da Rocha Marmo (Episódio: O Menino dos Milagres)
- Elas por Elas (1982) – Porteiro do motel em que Átila morreu
- Avenida Paulista (1982) – Sérgio
- Eu Prometo (1983) – Albano
- Anarquistas, Graças a Deus (1984) – Ernesto Gattai
- Rabo de Saia (1984) – Quequé
- Partido Alto (1984) – Jorge dos Santos (Escadinha)
- Grande Sertão: Veredas (1985) – Padre Ponte
- Um Sonho a Mais (1985) – Antônio Carlos Volpone / Anabela Freire / Augusto Melo Sampaio / Dr. Nilo Peixe / André Silva
- Memórias de um Gigolô (1986) – Esmeraldo
- TV Pirata (1988) – Barbosa / Vários personagens
- Brasileiras e Brasileiros (1990) – Brás Cubas (SBT)
- Os Trapalhões (1991) – Ney Preguiça
- Vamp (1991) – Conde Vladimir Polanski (Vlad) / Otavinho Freire
- Éramos Seis (1994) – Palhaço Sorriso (SBT)
- Casa do Terror (1995) – Barbarela
- Zazá (1997) – Silas Vadan
- Você Decide (1999) – Jorge (Episódio: Madame Sussu)
- O Cravo e a Rosa (2000) – Cornélio Valente
- Brava Gente (2001) – Raul (Episódio: O Automóvel)
- Sítio do Picapau Amarelo (2002) – Barão de Münchhausen
- O Beijo do Vampiro (2002) – Nosferatu
- A Casa das Sete Mulheres (2003) – Araújo Ribeiro
- Da Cor do Pecado (2004) – Eduardo Campos Sodré (Edu)
- Bang Bang (2005) – Aquarius Lane
- O Sistema (2007) – Nicolas Katedref
- Faça Sua História (2007) – Pai Creuzo (Especial de fim de ano)
- Casos e Acasos (2008) – Walmor (Episódio: A Escolha, a Operação e a Outra)
- Negócio da China (2008) – Edmar Silvestre
- S.O.S. Emergência (2010) – Dr. Solano
- A Grande Família (2011) – Fred Marques (Episódio: Os Diferenciados)
- Alexandre e Outros Heróis (2013) – Alexandre (Especial de fim de ano)
- Meu Pedacinho de Chão (2014) – Cirilo Batista
- Novo Mundo (2017) – Sir Edward Millman
- Tá no Ar: a TV na TV (2018) – Barbosa (Episódio: 17 de abril)
- Cine Holliúdy (2019) – Vlad / Conde Vlad (Episódio: 9)
Barbosa
Nos anos 1980, o humor brasileiro atingiu um nível de sofisticação e ousadia que deixou marcas profundas na televisão nacional. Entre os destaques, o TV Pirata — um programa que debochava sem piedade da TV aberta e seus clichês. Nele, um dos quadros permanentes se tratava da “novela-paródia” Fogo no Rabo, em alusão à Roda de Fogo.
Entre os personagens que roubaram a cena no esquete, acima de tudo, ninguém brilhou mais intensamente (e tragicomicamente) do que Ney, interpretando Barbosa. Um idoso caricato, com aparência débil, que somente repetia a última frase dita pelos demais personagens, mas de forma hilárica.
Um dos pontos de sustentação da trama envolvia o mistério sobre “quem matou Barbosa”, debochando das mortes de personagens de novelas, bem como do suspense que perdurava até o último capítulo da trama.
Cinema
Além da TV, Ney Latorraca participou de 25 filmes, primordialmente com destaque para “O Beijo no Asfalto (1981)”. Nesse sentido, também brilhou em “Ópera do Malandro (1985)”, “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) e “Irma Vap – O Retorno” (2006).
- Audácia: A Fúria dos Desejos (1969)
- A Noite do Desejo (1973) – Toninho
- Sedução (1974) – Tomasino
- Deixa Amorzinho… Deixa (1976) – Dino/Dalma
- Anchieta, José do Brasil (1976) – Anchieta
- O Grande Desbum (1978) – Manoel Igreja
- Uma Estranha História de Amor (1979) – Daniel
- O Beijo no Asfalto (1981) – Arandir
- Das Tripas Coração (1982) – Padre
- Ópera do Malandro (1985) – Tigrão
- Ele, o Boto (1986) – Rufino
- Fábula de la bella Palomera (1988) – Orestes
- A Mulher do Atirador de Facas (1988) – Atirador de Facas
- Festa (1989) – Ator
- Dente Por Dente (1994) – Dentista
- Brevíssimas Histórias da Gente de Santos (1995)
- Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995) – Jean-Baptiste Debret
- For All – O Trampolim da Vitória (1996)
- Minha Vida em Suas Mãos (2001) – Analista
- Viva Sapato! (2003) – Claudionor
- O Diabo a Quatro (2004) – Senador Heitor Furtado
- Irma Vap – O Retorno (2006) – Darci/Odete Lopes
- Topografia de Um Desnudo (2009) – Manoel
- O Gerente (2011) – Samuel
- Introdução à Música do Sangue (2015) – Uriel
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Premiações e legado
Com uma carreira que atravessou seis décadas, Ney Latorraca deixa um legado único, assim como uma trajetória repleta de personagens icônicos.
- Prêmio Coruja de Ouro do Cinema Nacional (1974): Melhor Ator Coadjuvante por Sedução (Venceu)
- Troféu APCA (1985): Melhor Ator de Televisão por Rabo de Saia (Venceu)
- Troféu Imprensa (1985): Melhor Ator (Venceu)
- Prêmio Contigo! de TV (1998): Melhor Vilão por Zazá (Venceu)
- Prêmio Arte Qualidade Brasil (2007): Prêmio Especial em Homenagem (Venceu)
- Prêmio Arte Qualidade Brasil (2010): Melhor Ator de Série por S.O.S. Emergência (Indicado)
- Cine PE – Festival Audiovisual de Recife (2012): Prêmio Honorário em Homenagem (Venceu)
- Festival de Cinema de Gramado (2018): Troféu Cidade de Gramado pelo Conjunto da Obra (Venceu)
- Prêmio APTR de Teatro (2020): Homenagem pela Carreira no Teatro (Venceu)
Depoimentos
Quando se vai um artista como Ney se vai um pouco de todos nós! Um dia triste porém o céu vai se encher de alegria! – Marcelo Serrado, ator.
Uma coisa era certa a cada encontro: as gargalhadas. Um ator estupendo, um senso de humor afiado e o deboche era um traço marcante. Que se faça muita luz em seu caminhar, querido – Lúcia Veríssimo, atriz.
Ney Latorraca, sua partida representa uma perda irreparável para a cultura nacional. Que sua arte continue a inspirar e que sua memória seja eternizada em nossos corações. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores. Descanse em paz, Ney! – Walcyr Carrasco, escritor, roteirista e dramaturgo.
Que grande ator! Que grande perda no apagar das luzes de 2024 – Sônia Abraão, jornalista e apresentadora de TV.
Neyzinho, chegou a hora da despedida e, conforme havíamos conversado inúmeras vezes em nossas voltas pela Lagoa, está sendo difícil chorar. Uma vida gargalhando a seu lado passa diante de meus olhos e impede as lágrimas de correrem livremente. Você foi uma luz, um amigo querido, um ator extraordinário, um homem do teatro e um observador da vida com um olhar único e certeiro. Um grande. Obrigado por tanto e por tudo. Vou te amar sempre. Marília e Wilker devem estar te recepcionando com todas as honras merecidas, porque você sempre foi capa. Um dia, prometo, vou contar nossas aventuras por esse mundo de Deus. Por enquanto, siga na direção da luz com tranquilidade. Eu vou cuidar da sua memória. Aliás, toda uma geração hoje te reverencia e promete manter acesa a chama da sua história. Um beijo, amado meu! – Miguel Falabella, ator e dramaturgo.
Um dos nossos maiores atores, um cara extremamente importante para todos nós da televisão e principalmente do teatro. Um verdadeiro artista, descanse em paz Ney – Eri Johnson, ator.