Morre Dona Eva Amóra, diretora de A Tribuna e Jornal de Icaraí

Casal Jourdan Amóra e Dona Eva Santana Amóra: uma história de vida construída juntos em família, bem como nos jornais A Tribuna e Jornal de Icaraí, hoje enlutados com seu falecimento | Reprodução
Niterói amanheceu nesta quarta-feira (10) ainda sob o véu do luto da noite de ontem, com a morte de Dona Eva de Lourdes Santana Amóra, diretora de A Tribuna, jornal mais tradicional de Niterói, assim como do Jornal de Icaraí. Ela tinha 84 anos de idade e estava internada no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), onde teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Além do marido, Dona Eva deixa dois filhos e uma neta: Gustavo Santana Amóra e Luís Jourdan Santana Amóra, pai de Ana Luísa Amóra. Ambos estão já atuam na direção dos empreendimentos da família.

Jourdan e Eva Amóra, com os filhos Luís e Gustavo | Reprodução
O funeral para despedida de Dona Eva Amóra acontece no Parque da Colina, às 14h, na Capela 3, com término às 16h, quando ocorrerá o sepultamento.
Eva agregou educação ao jornalismo
Dona Eva se tratava de uma mulher à frente do seu tempo. Ela nasceu na cidade fluminense de Carmo, em 11 de fevereiro de 1941. Entretanto, fincou suas raízes em Niterói, cidade que se tornaria palco de sua notável trajetória. Educadora, jornalista e mulher de espírito combativo, construiu uma vida marcada por dedicação à formação de gerações e ao fortalecimento da imprensa regional.
Formada em História pela UFF, Eva não se limitou às salas de aula. Atuou em campanhas estudantis ao mesmo tempo que liderou movimentos pela melhoria do ensino. Deixou marcas profundas tanto no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, bem como no Liceu Nilo Peçanha.
Em especial, no Liceu, Dona Eva coordenou projetos, dirigiu turnos e ajudou a escrever parte da história da instituição.
No magistério, seu nome está consagrado como sinônimo de compromisso com o saber e respeito aos alunos.
Ideais de liberdade
Porém, sua paixão não se restringiu à educação. Ao lado do jornalista Jourdan Amora — seu marido e pai de seus filhos — mergulhou na imprensa. Antes mesmo de se casar com Jourdan, tornou-se sócia de A TRIBUNA. Ao lado dele, fundou o Jornal de Icaraí, em plena ditadura militar.
Dona Eva sempre soube unir inteligência, sensibilidade e coragem. Ao lado de Jourdan, ela manteve-se resiliente naqueles tempos de supressão de direitos. Principalmente, quando a imprensa esteve sob censura.
“Dizem que atrás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. Tá explicado. Pilar de nossa família, se dedicou a anos de luta amparando o idealismo de meu pai, por um país mais justo, mais democrático”, narra ainda Luís Amora no texto que escreveu em A Tribuna.
Sofreu no seio de sua casa e empresa com a tirania e a tortura quando seu marido foi preso e marcado para morrer. Aliás, não foram poucos os momentos em que os jornais — e por extensão sua família — sofreram ataques. No entanto, Eva sempre se manteve firme e espiritualmente fortalecida para lidar com aquelas agruras.
Uma voz singular
Escreveu durante décadas sobre educação, cultura e sociedade, sendo voz firme e reconhecida no jornalismo fluminense. Além disso, participou de congressos nacionais e internacionais, dirigiu entidades de imprensa ao passo que ajudou a fundar associações e sindicatos que deram força ao jornalismo no interior do Estado.
Recebeu homenagens oficiais, publicou artigos memoráveis e ofereceu aos alunos não apenas conhecimento, mas inspiração. Na imprensa, construiu legado de seriedade e credibilidade, ampliado por seus filhos, que seguiram carreira no Direito, na Administração e na Comunicação.
Mais do que uma professora ou jornalista, Eva Amóra representará, eternamente, a força da mulher que educa, luta, escreve e transforma. Seu nome já pertence à memória de Niterói e do Rio de Janeiro, como símbolo de dedicação incansável à educação e à liberdade de imprensa.
Nossos sentimentos
O Folha do Leste manifesta profundo pesar pelo falecimento de Dona Eva de Lourdes Santana Amóra, figura histórica da educação e do jornalismo em Niterói.
Em nome de toda a nossa redação, e em especial de mim, André Freitas — que tive a honra de ser editor-chefe de A Tribuna e, muito antes disso, amigo pessoal de seus filhos ao longo de décadas —, registramos nossa eterna gratidão pela convivência e pelo legado deixado por Dona Eva. Sua trajetória, marcada pela coragem, inteligência e dedicação à formação de gerações e ao fortalecimento da imprensa livre, permanecerá como exemplo inspirador. À família Amóra, nossa solidariedade e respeito neste momento de dor.