Após redução na participação de militares em cargos do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ampliar a presença da caserna na administração federal.
O número de militares no governo chega a 2.760, patamar semelhante ao final do governo Bolsonaro.
Levantamento feito com base no Portal da Transparência aponta que, em novembro de 2023, havia 2.760 militares em cargos do governo, número apenas 6,4% menor que os 2.938 de dezembro de 2022, último mês de Jair Bolsonaro na Presidência.
A mudança de perfil da gestão Lula é perceptível: Bolsonaro deixou a Presidência com 48 militares em cargos mais elevados da administração, número que Lula reduziu a 29 em novembro de 2023.
A aproximação entre Lula e as Forças Armadas é um dos principais marcos da nova fase de convivência entre o petista e a caserna.
“Leia mais notícias sobre Brasil aqui”
O processo de aproximação teve início em junho de 2023, quando Lula demitiu o general Luiz Eduardo Gomes Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A demissão ocorreu após imagens mostrarem o militar interagindo com invasores do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.
Em seu lugar, Lula nomeou o general Marcos Amaro, que assumiu o comando do GSI e promoveu uma série de exonerações de militares da caserna.
A aproximação entre Lula e as Forças Armadas foi reforçada com a nomeação do general Tomás Paiva para o comando do Exército, em agosto de 2023.
O general Paiva é visto como um militar de perfil moderado e conciliador. Ele já havia atuado como interlocutor entre o governo e as Forças Armadas durante o início da gestão Lula.
A presença de militares em cargos do governo federal ganhou tração no governo de Michel Temer, movimento que foi impulsionado por Bolsonaro.
Relatório
Em julho de 2020, o Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou um relatório que informava a presença de 6.157 militares no governo. O número incluía representantes da reserva e 1.969 contratos temporários, também com integrantes fora da ativa, para ajudar a reduzir a fila do INSS.
Na passagem de Bolsonaro, a pasta chegou a ter os dois principais postos na mão de oficiais do Exército, como o general Eduardo Pazuello ao lado do coronel Elcio Franco, como secretário-executivo.
Cargos do segundo escalão, como as secretarias de Atenção Especializada à Saúde e de Saúde Indígena, e de terceiro, a exemplo do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS, também foram comandados por integrantes da caserna.
Ao fim da gestão Bolsonaro, eram 229 militares na Saúde, quantidade que caiu para 187 em junho do ano passado.
O número é justificado também pela presença de militares com formação técnica na área, como: médicos e enfermeiros.
— É de estranhar a situação do Ministério da Saúde. Não vejo motivo para ter tantos militares em um ministério que tem uma função fim completamente diferente (das atribuições militares) — afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).
A aproximação entre Lula e as Forças Armadas é um movimento que tem gerado polêmica.
Para alguns críticos, o petista está cedendo às pressões da caserna, o que pode representar um risco à democracia.
Alguns afirmam que a aproximação é necessária para garantir a estabilidade institucional do país.
Independente da interpretação, é fato que a presença de militares no governo federal é uma realidade e deve continuar assim.