Aos 17 anos, a jovem Alissa Venâncio não deveria carregar tanta dor, mas após uma foto íntima vazar na internet isso virou um fardo que a expôs e ameaçou arruinar seus sonhos. Esse enredo, presente nas páginas de “A Música das Nuvens”, da Arlene Diniz, revela numa obra de ficção o peso da realidade de milhares de adolescentes brasileiros diante do mundo digital.
Constantemente, eles estão diante de perdas emocionais, exposição íntima na internet, bullying e desamparo social. Enfim, uma avalanche de sentimentos que nem sempre encontram espaço para respiro, mas que a escritora Arlene Diniz aborda em 482 páginas de seu novo romance juvenil.
Publicado pela Editora Mundo Cristão, o livro chega em um momento alarmante. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um em cada sete jovens entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental. No Brasil, a situação é ainda mais grave. Levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que mais de 60% dos adolescentes relataram piora no bem-estar emocional, depois do isolamento social da pandemia.
Desse modo, a história da adolescente Alissa Venâncio, revelada em “A Música das Nuvens”, após sua foto íntima vazar na internet traduz traz à tona um perturbador universo juvenil. Tal qual outras situações que aterrorizam, assombram e apavoram crianças e adolescentes. Em suma, trata-se de uma geração inteira sufocada por telas, algoritmos e abandonos.
Pesadelo de Alissa após foto íntima vazar na internet
Alissa Venâncio não queria muito da vida: sonhava se tornar violinista, queria apenas estar perto das amigas e manter o coração seguro. Além disso, amparar e proteger seu irmão menor, que tinha mobilidade reduzida.
Porém, esses desejos, para muitos pequenos, começam a ficar fora do seu alcance. Primeiramente, em razão das dificuldades financeiras de sua família, com seus pais endividados. Por conta disso, eles decidem mudar de cidade, com toda família. Nesse momento da narrativa, tem início o processo de perdas e preconceitos envolvendo a personagem.
Tanto o pai, bem como a mãe, passam a trabalhar como caseiros numa casa no litoral. Os patrões correspondem bem ao conhecido estereótipo daquelas famílias ricas que, por terem dinheiro, costumam agir com arrogância e crueldade com quem consideram inferiores. Não foi diferente com a família de Alissa, principalmente com a deficiência de seu irmão mais novo, vítima de bullying.
Assim sendo, Alissa ainda carregava as cicatrizes da mudança brusca de cidade e a destruição do seu violino num incidente. O instrumento musical representava sua identidade, embalava seus sonhos e fazia parte de seu objetivo de vida.
Contudo, nada se comparava à tragédia que viria a seguir: Alissa viu uma foto íntima dela vazar na internet. O autor da infâmia: um ex-namorado.
Theo e a fé em Deus
Assim como ocorre com muitas jovens, Alissa se viu ré diante dos juízes do tribunal de escárnio. Tal situação, abordada no livro, nos faz refletir com o que ocorre com os jovens que passam por isso, frequentemente, na realidade. Em contrapartida, o sentimento de quem sofre tal violência é de querer desaparecer, fugir, sumir, morrer… Afinal, o juízo do tribunal do escárnio não absolve ninguém. Pelo contrário, esmagam pessoas através de comentários anônimos, perseguições virtuais, olhares maliciosos e insinuações nojentas.
Poucos entendem ou querem saber que, no caso de Alissa, ela enviou a foto íntima por confiar naquela pessoa e não para a imagem vazar na internet.
Como resultado, Alissa ela via sua vida ruir. Longe da cidade natal, sem amigas, crendo que o sonho de se tornar violinista estava destruído, ela estava na escuridão de seu profundo sentimento.
“Uma das propostas do livro é tratar a maneira como o pecado nos afasta e nos torna indignos da presença do Senhor. Mas Ele, por outro lado, nos alcança com graça apesar de nós mesmos!”, diz a autora Arlene Diniz.
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Todavia, o reencontro com Deus começou em silêncio. Entre lágrimas no travesseiro e noites em que o sono parecia impossível. Mas eis que surge Theo. Um garoto com cicatrizes emocionais tão profundas quanto as dela.
Ele chegou devagar. Com os olhos marcados pela dor tanto quanto sua fé, que parecia inabalável. O rapaz não perguntou sobre a foto íntima que tanto a fez sofrer após vazar da internet, tampouco a julgou. Ele viu Alissa, a garota ferida tentando sobreviver, desprezando a imagem, os boatos, e os memes sujos.
Logo, a dor de ambos se transforma num porto seguro em que Alissa e Theo estabelecem laços de confiança. Ele já trazia consigo uma fé forte e inabalável em Deus enquanto Alissa buscava um ponto de partida para um recomeço.
Entre uma conversa e outra, ele contou sua história. Mostrou suas cicatrizes. Por fim, disse como Deus entrou em sua vida e transformou tudo, após Alissa indagar-lhe sobre isso:
“No último ano da escola. Tinha um grupo de estudo bíblico no campus toda semana. Um dia, um cara da minha sala me convidou pra ir. E as coisas nunca mais foram as mesmas”, contou o menino.
Renascimento da adolescente após foto íntima vazar na internet
Com os olhos parecendo que iriam soltar fogos de artifício, Theo ressaltou que, no final, Deus tinha um plano.
Na plenitude de sua autodescoberta, a adolescente Alissa percebeu que sua dor tinha cura e vendo que uma luz estava se acendendo em seu coração para a escuridão em que tinha mergulhado após sua foto íntima vazar na internet, Alissa perguntou a Theo:
Será que Deus também tem um plano para mim?
(A música das nuvens, p. 171 e 172)
Alissa avança para o resgate de sua idade, ela descobre que há esperança mesmo nas tempestades mais violentas. Assim, a fé renasceu como uma brisa, tal qual o encontro entre a vareta e o violino.
Jovens e adultos precisam interagir com “A Música das Nuvens”
Com uma linguagem sensível e emocionante, “A Música das Nuvens” conduz o leitor por uma jornada de recomeços, bem como de enfrentamentos internos. Em contrapartida, surgem as descobertas espirituais que tocam fundo a alma dos personagens e do leitor.
A autora, Arlene Diniz, é assistente social com mais de uma década de atuação junto a adolescentes. Ela acredita que a literatura cristã juvenil tem poder de cura emocional. Além disso, pode abrir caminhos para conversas sobre saúde mental e espiritualidade. Principalmente, em tempos em que o “desligar-se” do mundo digital se torna urgente.
“Queremos que os adolescentes voltem a viver, não apenas existir diante das telas”, defende a escritora, que vive em Paraty, no Rio de Janeiro. “A leitura é um instrumento de pausa, reflexão e reencontro com o que é essencial.”
Com narrativa envolvente e crua, A Música das Nuvens não se resume a um romance cristão. Em síntese, Arlene Diniz expõe o abismo emocional que jovens enfrentam quando cancelados, humilhados e descartados na era digital. Mas ela também mostra que, mesmo nas noites mais escuras, há uma luz divina que permanece dentro de nós. Para acendê-la, basta apenas nossa sincera manifestação de fé em Deus.
Com 482 páginas de emoção, lágrimas e redenção, o livro A Música das Nuvens consiste num abraço naqueles que sofrem em silêncio. Um grito contra o bullying, a cultura do vazamento da privacidade e da exploração da intimidade através da misoginia tóxica.
Por último e, acima de tudo, uma canção de esperança composta entre nuvens carregadas, com notas de tônica melódica cujos acidentes musicais de sua escala ressoam em perfeita harmonia com acordes de riqueza e beleza aumentadas.
Ficha técnica
Título: A Música das Nuvens | Autora: Arlene Diniz | Editora: Mundo Cristão | Gênero: Ficção Cristã / Young Adult | Páginas: 482 | Preço: R$ 84,90 | ISBN: 978-65-5988-421-6 | Instagram da autora: @arlenediniz_