
Foto: REUTERS – Sergio Moraes
Há pouco menos de um dia a Libertadores da América tem um novo campeão.
Depois de tudo o que foi visto, dito e ouvido, muito difícil ser original neste momento. Lembrar que o Fluminense superou o Boca Juniors por 2 a 1, conquistando pela primeira vez o título continental o leitor já cansou de ouvir.
Talvez esteja até saturado com a incrível quantidade de repetições dos momentos que marcaram o triunfo tricolor. E se não torce pelo Fluminense, então… Certamente deve estar desejando que algo novo aconteça e fique livre dessas insistentes recordações.
Por isso, ou melhor, pensando nisso, vou tentar descrever um pouco do que aconteceu no Maracanã, neste sábado, 4 de novembro de 2023. Como a venda de ingressos, renda e ocupação do estádio ficam por conta da Conmebol, não dá para saber efetivamente quantos ingressos estavam disponíveis para venda, quantos foram dados para patrocinadores, parceiros, amigos, bicões… Não posso deixar de registrar, porém, uma certa decepção quando apareceu no placar do Maracanã que o público da decisão não chegou a 70 mil pessoas. Muito pouco para viver aquele momento épico.
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A renda, de apenas R$ 31 milhões, paga um terço do prêmio que o Fluminense teve direito, cerca de US$ 18 milhões (uns R$ 90 milhões, mais ou menos). Talvez isso explique termos, ao lado das bandeiras de Fluminense e Boca Juniors, bandeiras da cerveja que transforma os bares nos maiores estádios do mundo – é o que diz a publicidade. Ali, transformaram o estádio no maior bar do mundo. Sinceramente achei ofensivo ver uns carrinhos com cerveja entrando em campo antes da cerimônia de premiação. E distribuindo cerveja para os “sei lá quem” que invadiram o gramado para festejar.
Nem isso, porém, fez diminuir o que representou a conquista da Libertadores para os torcedores do Fluminense. Uma vitória que ficou entalada por 15 anos, desde que a LDU do Equador derrotou o tricolor no mesmo Maracanã, na decisão de 2008. E vejam o que é ironia: em fevereiro do próximo ano, com um jogo em Quito, outro no Rio, Fluminense e LDU disputarão a Recopa Sul-Americana. A razão? O time equatoriano ganhou a Copa Sul-Americana e, então, agora os dois rivais de 2008 jogarão um tira-teima entre os campeões. Irônico, não é mesmo? Mas assim é o futebol.
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Vi, a meu lado, na improvisada tribuna de imprensa no meio da torcida, crianças com cinco, seis anos, gritando e chorando. “Acabou”, diziam. Tive, honestamente, a vontade de perguntar aos pequenos tricolores o que tinha acabado. Faltou-me, porém, o dever jornalístico de questionar algo que transcende o entendimento humano. Emoção, amor, paixão, é algo indescritível, inenarrável. Aquilo que não se explica. Aceita-se, apenas. E vi esses mesmos pequenos tricolores recebendo talvez os abraços mais apertados de suas vidas vindos de pais, mães, avôs ou estranhos. Naquele momento, havia apenas a família Fluminense.
Era tanta gente chorando que algum desavisado que chegasse de Marte diretamente no Maracanã, naquele momento, conhecendo os estranhos hábitos dos terráqueos, haveria de perguntar quem havia morrido. Esse marciano certamente não saberia, nem entenderia, que muitas vezes os humanos choram de alegria, de felicidade. E essas lágrimas são tão fortes quanto aquelas de tristeza. Porque só choramos de alegria quando amamos ou desejamos muito alguém ou alguma coisa. Como os tricolores com a agora sua Libertadores da América. Uma cicatriz que se fecha depois de 15 anos.