Moradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro presenciam uma situação cada vez mais frequente: jacarés andando pelas ruas. Em bairros como Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, os flagrantes de jacarés em calçadas, ruas e condomínios vêm crescendo de forma expressiva.
Segundo o Corpo de Bombeiros, somente entre janeiro e março de 2025, 12 jacarés foram resgatados na região. A estimativa é de que aproximadamente seis mil jacarés-de-papo-amarelo habitem o complexo lagunar da Barra da Tijuca atualmente.
Avanço urbano e habitat natural em conflito
De acordo com o biólogo Fábio Ivo, a expansão urbana explica o aumento desses encontros.
“As áreas ocupadas por casas e condomínios eram, há séculos, habitat natural dos jacarés”, explicou.
A palavra Jacarepaguá vem do idioma dos Tupinambás, significando “lagoa rasa de jacarés”, evidenciando a relação histórica da fauna local com a geografia da região.
O especialista ressalta que, durante períodos de chuva, o nível das lagoas sobe. Com isso, os animais acabam se deslocando para áreas urbanizadas em busca de alimento e abrigo. Fábio afirma que ruas e condomínios acabam se tornando o caminho natural para esses répteis.
Aparições crescentes e riscos para animais e moradores
Apesar da aparência imponente, jacarés não são agressivos se não forem provocados.
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Ainda assim, sua presença em áreas movimentadas tem causado preocupações. Foram registrados atropelamentos em vias importantes, como a Avenida das Américas, além de casos isolados de caça ilegal.
A orientação das autoridades é clara: ao avistar um jacaré, é essencial manter distância e contatar o Corpo de Bombeiros através do telefone 193.
“Esses animais não oferecem risco para as pessoas desde que respeitem o seu espaço”, reforçou Fábio Ivo.
Conservação e preservação: desafios em meio à urbanização
Especialistas alertam que a situação dos jacarés-de-papo-amarelo é delicada. Sem ações de preservação, essa espécie pode desaparecer da Zona Oeste carioca. Uma das medidas mais urgentes é o combate à poluição nos ambientes aquáticos.
“O despejo de esgoto provoca a eutrofização das lagoas, reduzindo a fauna aquática e as presas naturais dos jacarés”, explicou Fábio.
Além disso, impedir a construção de aterros e ocupações irregulares em áreas inundáveis é fundamental para a manutenção dos habitats.
Conscientização da população é crucial para o futuro dos jacarés
A preservação dos jacarés também depende da atitude dos moradores. Não alimentar os animais, evitar o descarte inadequado de resíduos e educar sobre a importância ecológica dos jacarés são passos essenciais.
“Jacarés controlam pragas e ajudam a manter o equilíbrio da cadeia alimentar”, explicou Fábio Ivo.
Segundo ele, alterar o comportamento natural desses répteis, seja com alimentação humana ou poluição dos corpos d’água, coloca em risco toda a biodiversidade local.