História do Dia: Instagram completa 15 anos nesta segunda-feira, 6 de outubro

História do Dia: Instagram completa 15 anos nesta segunda-feira, 6 de outubro | Canva/arte:Folha do Leste
Há quinze anos, em 6 de outubro de 2010, nasceu um aplicativo de fotos que mudaria a forma como nos mostramos e nos relacionamos. Criado por Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, o Instagram começou como uma ferramenta simples de compartilhamento de imagens com filtros nostálgicos. Do álbum digital à economia da atenção, a plataforma transformou rotinas, mercados e afetos.
Nesse meio tempo, o Instagram inventou uma nova gramática da visibilidade: curadoria permanente, filtros sentimentais e um algoritmo que premia a exibição. De igual forma, reconfigurou profissões, vínculos e a própria percepção do público sobre o privado.
Assim sendo, esta reportagem traça a história dessa transformação — e o saldo humano que ela deixou. Em suma, muitos deles positivos. Entretanto, não há como deixar de falar também de seus aspectos negativos — e até nocivos.
• 2010–2012: Os primeiros cliques
O Instagram nasceu de uma simplificação. Systrom e Krieger haviam criado o Burbn, um aplicativo de check-ins que acumulava funções demais. Ao perceber que o público se encantava pelas fotos com filtros, decidiram concentrar tudo nisso. O resultado: um app leve, intuitivo e visual.
O sucesso veio de forma instantânea. Em menos de dois meses, o Instagram já tinha 1 milhão de usuários. No Brasil, o nome de Mike Krieger, nascido em São Paulo, ajudou a projetar o aplicativo como símbolo de talento nacional exportado para o Vale do Silício.
Mark Zuckerberg compra o Instagram
Em 2012, o Facebook, do magnata Mark Zuckerberg, comprou o Instagram por cerca de US$ 1 bilhão — uma aposta que mudaria o rumo das redes sociais. Poucos meses depois, o aplicativo ganhou versão para Android e, ao mesmo tempo, tornou-se global. Começava, então a era da exposição cotidiana, em que cada pessoa poderia montar sua própria vitrine.
• 2013-2015: O feed da vaidade
A introdução de vídeos, bem como o início da monetização por meio de posts patrocinados abriram caminho para o modelo de negócios baseado em visibilidade. O feed cronológico — antes simples e direto — passou a ter tratamento como espaço de performance pessoal.
Pesquisadores da Universidade de Stanford e da USP observam que, nesse período, o Instagram consolidou o conceito de “identidade projetada”.
Em outras palavras, o indivíduo não apenas compartilha o que vive, mas encena o que deseja parecer viver. Como resultado, a fronteira entre registro e representação teve fim. Por sua vez, a mentira encontrou terreno fértil para se multiplicar.
Marcas perceberam o potencial e começaram a transformar perfis em vitrines. Pequenos negócios, influenciadores e artistas locais descobriram, neste ambiente até hoje desregulamentado, uma alternativa às mídias tradicionais.
Desse modo, uma nova forma de empreendedorismo nascia. Juntamente com ele, meios de comunicação que dependem da comercialização de publicidade como fonte de receita demoram a perceber que deveriam se reinventar.
• 2016–2018: A virada dos Stories
O ano de 2016 marcou duas mudanças estruturais. O design refeito do aplicativo trouxe o feed algorítmico, substituindo a ordem cronológica pela lógica da relevância: o que o sistema entende que o usuário quer ver. Juntamente com a nova moda, chegaram os Stories, no formato efêmero de 24 horas — com as publicações desaparecendo após esse período.
As Stories logo se tornaram massivas, ao passo que a efemeridade virou regra. Em contrapartida, o conteúdo deixou de ser lembrança para se tornar fluxo.
Psicólogos da UFRJ apontam que essa mudança alterou o modo como as pessoas se relacionam com o tempo e com a própria imagem: o “agora” passou a ter mais valor do que o “depois”.
Monetização
Em 2018, o lançamento do IGTV e das ferramentas de shopping ampliou o leque. O Instagram se consolidou como vitrine de consumo e palco de trabalho. Era o nascimento da “influencer economy”, uma estrutura em que a popularidade se mede em engajamento e o afeto se converte em moeda.
2016 marcou duas mudanças estruturais: o feed cronológico foi trocado por um algoritmo de relevância e foram lançadas as Stories, o formato efêmero de 24 horas. As Stories se tornaram massivas — “Instagram Stories (‘Stories’ for short) are used by more than 500 million users every day.” (tradução nossa: As Instagram Stories são usadas por mais de 500 milhões de usuários todos os dias).
A efemeridade introduziu uma nova lógica temporal: o agora ganhou valor simbólico sobre o depois e fomentou consumo rápido e atenção abreviada.
Pesquisas sobre conteúdo efêmero descrevem o princípio do “burn after reading” — a noção de que a mensagem some — que tende a encurtar a atenção e tornar o consumo mais apressado. A tradução literal da expressão para o português significa “queime depois de ler”.
Logo, se alguém publica algo vai desaparecer em 24 horas, seu seguidor, não deixa de entrar no aplicativo pelo menos uma vez por dia. Via de regra, para não perder aquele conteúdo.
• 2019–2021: O Império dos Influenciadores
O período entre 2019 e 2021 marcou a profissionalização dos criadores de conteúdo. Plataformas paralelas de métricas surgiram para medir alcance e engajamento. O termo “creator” substituiu “usuário”.
Durante a pandemia de Covid-19, o Instagram se tornou uma janela essencial: lives musicais, campanhas solidárias, aulas, debates e encontros familiares migraram para o aplicativo.
Paradoxalmente, o isolamento físico reforçou o desejo de exposição.
Com o lançamento do Reels em 2020, a disputa com o TikTok intensificou-se. O foco passou a ser o vídeo curto, criativo e viciante. O Instagram deixou de ser apenas uma rede de fotos: tornou-se uma indústria de microespetáculos diários.
A geração do espelho digital (2022–2024)
Com o fim do IGTV e a consolidação do vídeo como centro do algoritmo, o Instagram se adaptou à lógica do entretenimento total. As fronteiras entre cotidiano e conteúdo desapareceram.
Sociólogos da Universidade Federal Fluminense apontam que o aplicativo reforçou três traços da cultura contemporânea: o exibicionismo como forma de pertencimento, o consumo como expressão de identidade e a vigilância como rotina disfarçada de interação.
As “bolhas” algorítmicas — grupos que só veem o que confirma suas crenças — se expandiram. A consequência foi a intensificação da comparação social, dos linchamentos virtuais e do esgotamento emocional. O fenômeno FOMO (“medo de ficar de fora”) tornou-se parte do vocabulário psicológico de uma geração.
Apesar dos riscos, o Instagram continua a gerar oportunidades. Milhares de pequenos empreendedores dependem da plataforma para vender, comunicar e existir comercialmente. Em muitas cidades, o aplicativo substituiu o boca a boca e a vitrine física.
Legado e dilemas de 15 anos (2025)
Em 2025, o Instagram completa 15 anos com mais de 2 bilhões de usuários ativos. É uma das redes mais influentes da história, responsável por transformar o modo como o ser humano lida com a própria imagem.
Ao longo dessa trajetória, a plataforma deu visibilidade a causas sociais, movimentos culturais e vozes antes silenciadas. Tornou possível democratizar o alcance de artistas, marcas e ideias. Mas também espalhou a cultura da performance, do julgamento e da ansiedade.
Estudos recentes da Universidade de Oxford e da Fiocruz apontam que o uso intenso do Instagram pode estar associado ao aumento de sintomas depressivos entre adolescentes e jovens adultos, sobretudo mulheres. O filtro de beleza, literal ou simbólico, tornou-se uma nova máscara social.
Especialistas em ética digital e saúde mental alertam: o problema não está apenas no aplicativo, mas no espelho que ele oferece. Em vez de refletir quem somos, ele nos convida a editar o que mostramos. O desafio, agora, é aprender a usar a lente sem perder o foco — o humano.
Reflexão final
Quinze anos depois de seu primeiro clique, o Instagram continua sendo uma das invenções mais influentes do século XXI. Sua história é, em parte, a história da nossa própria necessidade de ser visto, validado e pertencente.
Entre o conectar e o adoecer, o aplicativo que reinventou nossas vidas deixou um alerta permanente: nenhuma curtida é capaz de substituir a presença real, o afeto tangível e a conversa sem filtro.