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Araruama celebra seminário que resgata raízes afro-indígenas

Araruama celebra seminário que resgata raízes afro-indígenas | Divulgação/Prefeitura de Araruama

A história de Araruama ganhou novo fôlego nesta terça-feira (25), quando o 1º Seminário “Ventos que moldam o sal, resistência que tece a gente” lotou o Centro de Convenções e marcou um movimento inédito de valorização das raízes afro-indígenas, quilombolas e coloniais que moldam o município. Cerca de 500 pessoas participaram do encontro, entre pesquisadores, profissionais da educação, estudantes e moradores.

O seminário apresentou mesas temáticas que reconstruíram a formação social e política de Araruama. A abertura ficou com a pesquisadora Tânia de Souza Fernandes, que revisitou as memórias do Colégio Estadual Antônio Pinto de Moraes. Ela mostrou como a instituição, considerada moderna nas décadas de 1930 e 1940, perdeu força durante a ditadura militar, apagando o protagonismo dos produtores rurais.

Em seguida, o historiador Marlon B. Ferreira contextualizou a ligação do município com a antiga Capitania de São Vicente. Ele destacou a invisibilização histórica do povoado de Mataruna, habitado por Tamoios, diante da narrativa tradicional que priorizou personagens portugueses e ignorou povos originários. Marlon lembrou ainda que pesquisas arqueológicas iniciadas nos anos 1970 revelaram um sítio Tupinambá em Três Vendas, ampliando os estudos indígenas nas décadas seguintes.

A pesquisadora Ana Carolina Mota trouxe a trajetória de resistência da comunidade quilombola de Sobara, tema de seu mestrado entre 2014 e 2016. Ela defendeu a ampliação do acesso à verdadeira história local.

“Conhecer nossa história é se reconhecer. A memória cria pertencimento. Quilombo não é fuga, é resistência, e essa força continua ativa”, afirmou, recebendo aplausos.

Os palestrantes reforçaram também o papel decisivo da produção de sal na economia e no desenho urbano de Araruama. O professor Valter Pereira lembrou a chegada de portugueses no início do século XIX, responsáveis por introduzir técnicas e mão de obra especializada que transformaram o município em polo salineiro e influenciaram modos de vida por gerações.

No período da tarde, o sítio arqueológico da cidade entrou em foco. A arqueóloga Ângela Buarque revisitou os primeiros trabalhos de salvamento realizados há mais de 30 anos. Ela destacou o envolvimento de estudantes da escola Honorino Coutinho, que acompanhavam as descobertas durante o recreio.

“A gente desenterrava histórias literalmente”, disse a pesquisadora, doutora pela Sorbonne.

Discípula de Ângela, a arqueóloga Jeanne Cordeiro reforçou a dimensão do sítio arqueológico de Araruama.

“A maior concentração de material arqueológico datado do século XVI está aqui. Não existe nada equivalente dessa época em outra região do Brasil”, afirmou.

O seminário encerrou o dia com a sensação de que Araruama abriu uma nova etapa no reconhecimento de sua própria identidade.

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