
Abóbora, um dos símbolos do Halloween – Foto: Divulgção/Pixabay
Na próxima terça-feira (31), é celebrado o Halloween – muitas vezes também creditado como “Dia das Bruxas”. Originada dos povos anglófonos da Europa e popularizada pelos Estados Unidos, a comemoração foi exportada para o Brasil e virou febre por aqui. Embora movimente a economia e divirta principalmente os mais jovens, especialistas alertam para o perigo que a data representa ao folclore nacional.
Oficialmente, o “Halloween” será na terça, bem no começo da semana. Por isso, os principais centros comerciais de Niterói adaptaram as celebrações para o neste domingo (29), com eventos especiais. O principal público alvo são as crianças, já que um dos lemas da data é “gostosuras ou travessuras”, que remete à tradição britânica e irlandesa de pedir o “soul cake” (bolo das almas).
O Plaza Shopping, no Centro de Niterói, vai promover, no domingo, encontro com personagens assustadores, oficinas de pinturas e slime, além de distribuição de doces para o público infantil. A programação especial é gratuita e acontece, das 14h às 18h, em frente à loja YouCom, no 3º piso.
“Leia mais notícias sobre Niterói aqui”
O Halloween do Plaza terá ainda premiação para a melhor fantasia. Vale, portanto, caprichar no figurino. O evento começa a partir de 14h com a presença de atores fantasiados de bruxas, múmias, palhaços e personagens bem conhecidos do público, como o Boneco Chucky e o fantasma Beetlejuice.

Brasil importou estilo americano – Foto: Divulgação/Pixabay
A programação continua com apresentação do grupo Violúdico, das 15h às 16h, e show de mágica às 16h30. Em seguida, as crianças entram em cena para o desfile de fantasias. O evento termina às 18h, com meet & greet com os personagens assustadores.
As crianças poderão ainda complementar as fantasias com pintura facial e se divertir nas oficinas de slime – brincadeira que ajuda a estimular a criatividade e imaginação dos pequenos. Além das travessuras, as gostosuras também estão garantidas: serão distribuídos, gratuitamente, pipoca e algodão doce para os minis clientes.
Região Oceânica
Na Região Oceânica, o Multicenter Itaipu realizará a “Caça aos Doces”. A gincana, exclusiva para crianças de até 12 anos, acontecerá, também neste domingo, entre 15h e 18h.

Brincadeira “gostosuras ou travessuras” será realizada em Niterói – Foto: Divulgação/Pixabay
Os responsáveis deverão resgatar um cupom no aplicativo do shopping e resgatar, no segundo andar, uma cartela adesiva. A caça consistirá em encontrar, espalhadas pelo shopping, as imagens identificadas na cartela. Quem encontrar, receberá os doces como recompensa. A atividade também é gratuita.
Como o Halloween chegou ao Brasil?
Personagens como vampiros e bruxas, que não fazem parte da nossa cultura, foram incorporados às festividades brasileiras, apesar das importantes lendas da cultura nacional que poderiam ser celebradas, como o Saci-Pererê, menino negro de uma perna só que usa uma carapuça vermelha e fuma cachimbo. Mas o que muita gente não sabe é que, de fato, esse personagem também é comemorado no dia 31 de outubro, data que foi oficializada em 2004 no Estado de São Paulo e, em 2010, em todo o País.
Ana Carolina Chiovatto, doutoranda em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, explicou que uma das origens do Halloween é o festival celta Samhain, que marcava o fim do período de colheita, e era seguido do festival do Dia dos Mortos, quando, supostamente, aqueles que se foram poderiam circular no mundo dos vivos. A cultura celta contempla diversos povos que viviam na Europa e tinham cultos em comum.
“Essas festividades são comumente chamadas de pagãs, um termo enviesado, já que pensamos no paganismo em oposição ao cristianismo como ponto de vista dominante”, afirma Ana.
E o Folclore nacional?
A população brasileira teve contato com o Halloween, como é celebrado nos dias atuais, por meio de filmes, séries de TV e outros produtos culturais estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos. Mas por que os brasileiros decidem celebrar a data da mesma forma como nos EUA?
Esse quadro pode ser explicado por meio de um conceito esboçado pelo teórico estrategista de relações internacionais, Joseph Nye, o soft power, normalmente traduzido como “poder brando”. Alexandre Ganan Figueiredo, historiador e pesquisador de pós-doutorado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, explica que esse termo diz respeito a um conjunto de iniciativas não militares ou econômicas, a fim de que um Estado atinja seus interesses de política externa.
“O soft power diz respeito à capacidade de um país ter influência direta em outros por meio de sua cultura, sua capacidade de se projetar como exemplo para o mundo”, ele explica. No caso dos EUA, um exemplo é a “poderosíssima indústria cultural norte-americana”, como produções de Hollywood e de séries de TV, que chegaram ao Brasil logo após a Segunda Guerra Mundial, “praticamente junto com a televisão”, explicou o historiador.
Dia do Saci

Saci é a resistência contra a invasão norte-americana – Foto: Arquivo/Agência Brasil
É a partir da perspectiva de que não há ligações entre a celebração do Halloween e a cultura brasileira que, em 2003, apresentou-se um projeto de lei para que, no dia 31 de outubro, fosse celebrado no Brasil o Dia do Saci, um dos mais conhecidos personagens do folclore nacional. Em 2004, a data foi oficializada no Estado de São Paulo e, em 2010, no País.
Bruno Baronetti, pesquisador e doutorando em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, vê o Dia do Saci como uma resposta à indústria cultural americana.
“Além disso, havia uma percepção de que cada vez mais escolas do ensino básico valorizavam o Dia das Bruxas no modelo norte-americano”, aponta.
O pesquisador explica que os estudos folclóricos no Brasil, desde o início do século 20, por meio do Movimento Folclórico Brasileiro, e grandes estudiosos, como Mário de Andrade e Edison Carneiro, buscam a inserção desses temas nas escolas.
“O Dia do Saci tem o papel de estímulo, de resgate da nossa cultura, e é justamente um contraponto a esse projeto colonizador e imperialista que busca inserir aqui esses elementos alheios à nossa cultura. A ideia não é acabar com o Halloween, mas criar um contraponto para que as crianças, além da tradição estrangeira, já conhecida, passem a ter contato também com tradições e culturas nacionais”, concluiu.
Com Agência USP/Bruno Militão