
É de graça: Centro de Artes da UFF, em Niterói, recebe exposição sobre a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, que mostra os horrores do Dops e reabre os porões do “regime” | Divulgação/ Claudio Fernandes
Niterói se torna palco de uma viagem sombria ao passado. A exposição “Rua da Relação, 40: testemunho material da violência de Estado” escancara as feridas ainda abertas da ditadura militar brasileira. Documentos e arquivos históricos sobre prisões e torturas no antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) são exibidos no Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A mostra, fruto da parceria entre a Prefeitura de Niterói e a UFF, estará aberta ao público até 30 de abril, com entrada gratuita de segunda a sábado, das 9h às 21h.
A prefeita em exercício, Isabel Swan, enfatizou a importância de preservar a memória histórica para evitar que atrocidades se repitam. Para ela, desse modo, Niterói reafirma seu compromisso com a justiça e os direitos humanos. Sobretudo pelo seu pioneirismo na criação da Comissão Municipal da Verdade.
“Essa exposição nos lembra das atrocidades cometidas no passado para que nunca mais se repitam. Niterói, como pioneira na criação da Comissão Municipal da Verdade, tem a responsabilidade de garantir que o sofrimento de tantas pessoas seja reconhecido e que a justiça continue sendo uma prioridade para todos. Niterói vai estar sempre ao lado da cultura e na preservação de nossas memórias para as próximas gerações”, destacou a prefeita em exercício, Isabel Swan.
Rua da Relação: o endereço do pesadelo

A antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Lapa | Tânia Rêgo/Agência Brasil
O edifício da Rua da Relação, 40, na Lapa, inaugurado em 1910, serviu como sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Suas paredes ainda conservam as marcas das perseguições, assim como das torturas ali cometidas durante o regime militar. Anteriormente a isso, já abrigava presos por motivos como crenças religiosas afro-brasileiras, “vadiagem” e identidade LGBTQIA+. Atualmente, funciona no local o Palácio da Polícia.
Testemunha ocular dos horrores
Técio Lins e Silva, agora procurador-geral do Município, relembrou emocionado sua atuação como advogado de presos políticos no Dops. Ele destacou que a institucionalização da tortura como meio de investigação criminal pelo Estado não pode cair no esquecimento. Para ele, exposições dessa natureza consistem em importante instrumento de garantia no sentido de tais atrocidades não se repetirem. Acima de tudo, para que estes horrores se perpetuem e prevaleçam historicamente.

Prefeita em exercício Isabel Swan, juntamente com o procurador Técio Lins e Silva, na abertura da exposição em Niterói, que reabre os porões da ditadura militar e mostra seus horrores | Divulgação
“Estive lá naquela época, quando todos esses horrores aconteciam. Hoje, quando a Universidade e a Prefeitura se unem com os organismos para mostrar um pouco de como se tratavam as pessoas e o que foi feito, mostra ao mundo e ao Brasil que isso não vai se repetir mais. Aquelas atrocidades não podem nunca mais acontecer”, afirmou Técio Lins e Silva.
Niterói cumpre papel cultural histórico
Leonardo Giordano, secretário municipal das Culturas, ressaltou o papel da cultura na preservação da memória e na promoção da reflexão sobre momentos cruciais da história brasileira. A exposição reafirma o compromisso de Niterói com a justiça social e os direitos humanos, trazendo à tona fatos que não podem ser esquecidos.

Leonardo Giordano, vereador licenciado e secretário das Culturas de Niterói (de branco), acompanhado pelo Reitor da UFF, Antônio Claudio, em comitiva com a prefeita Isabel Swan e com o procurador Lins e Silva | Divulgação
“A cultura tem um papel essencial na preservação da memória e na promoção da reflexão sobre momentos cruciais da nossa história. Essa exposição reafirma o compromisso de Niterói com a justiça social e os direitos humanos, trazendo à tona fatos que não podem ser esquecidos”, afirmou Leonardo Giordano.
Memória não pode morrer
O reitor da UFF, Antônio Claudio Nóbrega, destacou a importância de recontar a história e entender a informação, especialmente para os mais de 70 mil alunos da universidade. Ele enfatizou que manter a memória dos fatos viva é fundamental para que as pessoas possam se situar e compreender o passado.
“Então, é um desafio importante para a universidade. É claro que a memória é reconstruída continuamente, e esse ato é fundamental para que a memória dos fatos esteja viva, para que as pessoas possam se situar”, explicou o reitor.
Tentativa de golpe, julgamento e anistia
A exposição ocorre em um momento em que o país ainda lida com as consequências dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete membros da alta cúpula de seu governo por crimes como golpe de estado e tentativa violenta de abolição do estado democrático de direito.
Ao mesmo tempo, o STF tem condenado diversas pessoas que participaram do ato por crimes como associação criminosa armada e tentativa de golpe de Estado. As penas variam de três a 16 anos e seis meses de prisão, além de indenizações por danos morais coletivos. A princípio, as condenações refletem a contínua busca por justiça e a necessidade de lembrar os erros do passado para evitar sua repetição no presente.
Bolsonaro luta por anistia
Paralelamente, deputados alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro têm articulado no Congresso Nacional propostas de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Essas iniciativas buscam perdoar os participantes dos eventos que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
No entanto, tais propostas enfrentam resistência de diversos setores da sociedade e do próprio Legislativo, que argumentam ser fundamental a responsabilização dos envolvidos para a manutenção do Estado Democrático de Direito.
Para a deputada federal niteroiense Talíria Petrone, líder do Psol na Câmara dos Deputados, a defesa da democracia se trata de questão suprapartidária, independentemente de ideologias. Ela defende punição para quem atentou contra a democracia no 8 de janeiro.
Obviamente, quem defende a democracia no Brasil, e isso não se trata de esquerda ou direita, não é uma questão de revanche, qualquer um que defende a democracia no Brasil não é a favor de anistia”, pondera.
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