Dez anos após o início da Operação Lava Jato, o debate sobre seus impactos na economia brasileira se intensifica. Estudos recentes revelam que a operação, embora tenha combatido a corrupção no setor de petróleo e gás, teve um custo elevado em termos de emprego, renda, investimentos e arrecadação de impostos.
Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que a Lava Jato resultou na perda de 4,44 milhões de empregos entre 2014 e 2017.
Desse total, 2,05 milhões foram em setores diretamente afetados pela operação, como construção civil e indústria naval, enquanto os 2,39 milhões restantes ocorreram em setores impactados pela queda da renda e do consumo.
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A queda na atividade econômica também afetou os investimentos. O estudo do Dieese estima que a Lava Jato reduziu os investimentos públicos e privados em R$ 172,2 milhões entre 2014 e 2017.
Com menos emprego e renda, a massa salarial caiu R$ 85,4 bilhões no mesmo período, o que resultou em uma perda de R$ 47,4 bilhões em arrecadação de tributos e R$ 20,3 bilhões em contribuições para a Previdência Social e o FGTS.
O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, destaca que a Lava Jato não apenas causou perdas em termos de números, mas também desestruturou a indústria brasileira.
“Perdemos inteligência de engenharia, equipes foram desmontadas e tecnologias foram descontinuadas. Reconstruir tudo isso levará tempo e nem tudo poderá ser recuperado”, afirma.
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A Petrobras foi uma das empresas mais impactadas pela Lava Jato. A estatal, que antes investia em refino e tecnologia, passou a se concentrar na extração de petróleo e gás, buscando maximizar os lucros no curto prazo.
Contudo, segundo o professor Luiz Fernando de Paula, da UFRJ e da Uerj, a Petrobras ainda pode se recuperar, investindo na transição ecológica e retomando projetos como a Refinaria Abreu e Lima.
A construção civil também foi duramente atingida pela operação. O desmantelamento das grandes empreiteiras causou danos permanentes ao setor, com empresas como a Odebrecht quase falindo.
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A recente suspensão de acordos de leniência pela Odebrecht abre uma brecha para a reconstrução do setor, mas Fausto adverte que esse processo será longo e difícil.
Assim, os especialistas concordam que a Lava Jato teve o mérito de combater a corrupção, mas que errou ao não separar a punição dos executivos das atividades das empresas.
“As empresas foram muito mais punidas que as pessoas físicas, com seus nomes e marcas jogadas no lixo”, critica Fausto.
Enfim, Luiz Fernando avalia que é preciso encontrar um modelo de combate à corrupção que não cause tantos danos à economia.
“A Lava Jato nos ensinou que não se pode punir empresas e destruir empregos para punir alguns indivíduos”, conclui.