
Estudo da Fiocruz comprova verme da meningite em caramujos, caracóis e lesmas em 26 cidades fluminenses | Reprodução
Uma descoberta alarmante coloca o estado do Rio de Janeiro em estado de alerta. Um estudo conduzido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou a presença do parasita Angiostrongylus cantonensis — responsável pela meningite eosinofílica — em 26 municípios do estado. O parasita foi encontrado em caramujos gigantes-africanos, caracóis e lesmas, espécies amplamente disseminadas em áreas urbanas.
Dentre os municípios em que houve confirmação da presença dos parasitas, estão Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito, no Leste Fluminense. O mesmo aconteceu nas cidades de Cachoeira de Macacu, Duque de Caxias, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba, Mendes, Mesquita, Miguel Pereira, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro e Seropédica.
No centro fluminense, o parasito foi identificado em cinco municípios: Comendador Levy Gasparian, Santa Maria Madalena, Sapucaia, Sumidouro e Três Rios.

Mapa mostra as cidades contempladas na pesquisa, incluindo as mesorregiões metropolitana (em verde) e centro fluminense (em cinza). Bolas vermelhas indicam os municípios onde foram encontrados moluscos infectados com o verme A. cantonensis. Imagem: Rodrigues e colaboradores, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 2025.
Morte em Nova Iguaçu: a tragédia anunciada
Em abril de 2024, uma moradora de Nova Iguaçu morreu após contrair meningite eosinofílica. A investigação revelou que caramujos e ratos na região estavam infectados pelo parasita, cuja transmissão às pessoas ocorre meio de contato com os moluscos ou ingestão de alimentos contaminados. Essa fatalidade escancara a gravidade da ameaça.
Estudo revela números chocantes
Entre 2015 e 2019, pesquisadores analisaram 2.600 moluscos coletados em 46 municípios. O resultado: 230 estavam infectados, correspondendo a 9% das amostras.
O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) liderou o ranking dos infectados, sendo encontrado em 41 das 46 cidades analisadas, com exemplares positivos em 22 delas. Com conchas que chegam a 20 cm, considera-se essa espécie a principal responsável pela transmissão em áreas densamente povoadas.
Outros moluscos menores, como o caracol asiático (Bradybaena similaris) e as lesmas Angustipes erinaceus e Sarasinula linguaeformis, também foram identificados como hospedeiros do parasita.
Como o parasita invade sua vida?
O ciclo do A. cantonensis começa nos ratos urbanos, que eliminam larvas infectantes em suas fezes. Essas larvas são ingeridas por moluscos, onde se desenvolvem enquanto os humanos podem ser infectados da seguinte forma:
- Ao comer moluscos contaminados, mesmo sem perceber;
- Quando consomem vegetais mal lavados que tiveram contato com o muco de moluscos infectados.
Uma vez no corpo humano, o parasita causa inflamação nas meninges, levando à meningite eosinofílica.
Os sintomas e o perigo iminente
Os primeiros sinais incluem dores de cabeça intensas, rigidez na nuca, febre e vômitos. Em casos graves, pode haver complicações neurológicas permanentes ou morte. A vítima de Nova Iguaçu é um exemplo trágico dos riscos ignorados.
Medidas urgentes para proteção
A população pode – e deve agir – de forma preventiva, adotando as seguintes precauções:
- Cuidado extremo ao comprar verduras e hortaliças:
- Lave bem os alimentos em água corrente.
- Deixe de molho por 30 minutos em solução com água sanitária (1 colher de sopa por litro).
- Enxágue novamente antes do consumo.
- Evite tocar em moluscos diretamente:
- Sempre use luvas ou sacos plásticos para manusear caramujos, caracóis ou lesmas.
- Elimine caramujos do ambiente:
- Mate-os com água fervente, salmoura ou solução de cloro, e descarte corretamente as conchas quebradas.
- Supervisione crianças:
- Não permita que toquem ou brinquem com moluscos, que são vetores perigosos.
O papel do poder público
Especialistas exigem ações urgentes das autoridades:
- Realizar a coleta e análise de moluscos em áreas de risco.
- Promover campanhas educativas para conscientizar a população.
- Intensificar a limpeza urbana e saneamento básico para reduzir habitats favoráveis aos moluscos e ratos.
Risco para todo o Brasil
Casos confirmados de meningite eosinofílica já tiveram relatos em oito estados brasileiros, e o número de suspeitas continua crescendo. Considera-se a expansão do caramujo-gigante-africano como um dos principais fatores para a disseminação do parasita no país.